França pretende usar helicópteros para derrubar Gadafi

David Gauthier-Villars | The Wall Street Journal, de Paris
 
A França quer apressar a queda de Muamar Gadafi, na Líbia, com uma combinação de ataques cirúrgicos contra bases militares e apoio aos dissidentes em Trípoli, enquanto lamenta que os Estados Unidos não tiveram um papel maior na intervenção militar.

 
A França quer usar helicópteros para atacar bases militares centrais de Gadafi em Trípoli e outras áreas urbanas, disse ontem o ministro das Relações Exteriores do país, Alain Juppé, numa entrevista ao "Wall Street Journal". Mas ele disse que a França não pode contar com uma contribuição como essa dos EUA. "Claro que lamentamos isso. Seríamos muito mais eficientes se eles se integrassem."

 
Ansioso para evitar o comando de outra intervenção militar no Oriente Médio, os EUA passaram o controle da guerra na Líbia para a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Em visita ontem ao Reino Unido, o presidente americano, Barack Obama, mudou sua posição de que a intervenção na Líbia deveria ser limitada, e passou a afirmar que a ação militar lá será "um processo lento e contínuo". Juppé disse que os EUA continuam fornecendo à coalizão capacidade de reabastecimento aéreo, de inteligência e outras formas de apoio.

 
Juppé disse que a França espera se unir ao Reino Unido para traçar um plano que use helicópteros em ataques contra as bases das forças armadas de Gadafi nos centros urbanos e minimize as baixas entre os civis. "É isso que estamos tentando fazer com os britânicos", disse ele. "Espero que consigamos, embora eles ainda não tenham confirmado sua participação."

 
As autoridades britânicas já declararam nos bastidores que estão estudando seriamente a proposta.

 
Desde a decisão do Conselho de Segurança da ONU de autorizar o uso da força contra Gadafi, em março, a campanha militar liderada por França e o Reino Unido na Líbia fortaleceu os grupos oposicionistas, principalmente em cidades do leste, como Bengasi.

 
Mas Gadafi aparenta ainda ter o controle total da capital, Trípoli, e da maior parte do oeste da Líbia, o que suscita o temor de que a coalizão franco-britânica seja arrastada para um conflito prolongado.

 
Juppé disse que o objetivo da França é convencer Gadafi a deixar o poder e conseguir concluir a intervenção militar na Líbia nos próximos três meses. Mas o ministro disse que não há qualquer plano para assassinar o líder líbio. "Não queremos matar ele", disse ele. "Porque não somos assassinos."

 
Enquanto se concentra nas operações militares, a França tenta também se preparar para o momento em que Gadafi deixar o poder. O país está fortalecendo os laços com os rebeldes líbios e com os líderes tribais tradicionais, e também está tentando atrair alguns dos aliados de Gadafi que estão prontos para debandar do regime.

 
A França foi o primeiro país a reconhecer formalmente o Conselho Nacional de Transição, a principal facção rebelde, como "representante legítimo do povo líbio".

 
Juppé disse que o conselho continua sendo "um interlocutor muito legítimo", para o qual a França está dando apoio logístico e financeiro. Alertou que é preciso não exagerar a importância das tribos da Líbia, notando que "85% dos líbios moram em centros urbanos, não em tendas no deserto".

 
A meta da França é aproveitar o momento ideal para reunir todos os combatentes contrários a Gadafi, como o conselho, as tribos e outros dissidentes, para realizar uma reconciliação. "Ainda não atingimos essa meta até agora, mas será o próximo passo de nosso trabalho na Líbia", disse Juppé.

 
Juppé disse que a decisão de realizar uma intervenção militar na Líbia e de ajudar a derrubar o ex-presidente da Costa do Marfim Laurent Gbagbo, no mês passado, marcou uma mudança na estratégia da França para a África e o Oriente Médio. Durante muitos anos, disse ele, o principal objetivo da França na região foi preservar a estabilidade, geralmente apoiando líderes autoritários que eram vistos como proteção contra extremistas e fundamentalistas. "Foi um erro", disse ele.

 
Juppé disse que a França precisa agora levar em conta o movimento pela liberdade e democracia dos levantes no Egito e na Tunísia. "Há alguns riscos, mas é principalmente uma chance", disse.


Colaborou Alistair MacDonald

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