Combates cercam quartel de Kadafi


Quartel-general do ditador líbio é palco de tiroteio após tomada de 95% da capital Trípoli por rebeldes em conflito que teria feito 1,3 mil mortos. Paradeiro de Kadafi é desconhecido.

iG São Paulo

Combates violentos explodiram nesta segunda-feira em Trípoli em volta do quartel-general do líder líbio Muamar Kadafi, horas após rebeldes terem assumido o controle da maior parte da capital. Não há informações sobre se Kadafi está no local ou sobre qual seria seu paradeiro.

Segundo um porta-voz dos rebeldes, no começo da manhã (horário local), tanques saíram do QG de Kadafi, conhecido como Bab al-Azizia, e começaram a disparar. Uma intensa troca de tiros ainda acontece no local.

Os rebeldes consolidaram no domingo o avanço iniciado sábado sobre Trípoli, enfrentando poucos bastiões de resistência em meio a sinais de que o regime de 42 anos de Kadafi está prestes a cair.

De acordo com o representante do Conselho Nacional de Transição (CNT, órgão político dos rebeldes) no Reino Unido, Mahmoud Nacua, nesta segunda-feira a oposição controla 95% da capital.

Nacua confirmou que combates continuam em algumas áreas da cidade e disse que, embora o paradeiro de Kadafi seja desconhecido, acredita-se que ele ainda esteja na Líbia. "Vamos levantar pedra por pedra até encontrá-lo, prendê-lo e levá-lo a um tribunal", afirmou.

O porta-voz do regime de Kadafi, Moussa Ibrahim, disse que os confrontos em Trípoli deixaram 1,3 mil mortos na cidade. O número não pode ser confirmado de forma independente.

Comemoração

Ao longo da noite, multidões eufóricas celebraram o avanço rebelde na principal praça da cidade, um simbólico centro de poder do regime. No local, chamado de Praça Verde pelo regime, mas rebatizada de Praça dos Mártires pelos rebeldes, os militantes dispararam para o alto e contra um grande pôster do líder líbio.

"Agora não chamamos aqui de Praça Verde, mas de Praça dos Mártires", disse o engenheiro Nour Eddin Shatouni, de 50 anos, que estava entre a multidão de residentes que deixaram suas casas para participar das celebrações. 
 
"Esperávamos por um sinal, e ele veio. Todas as mesquitas gritaram 'Deus é grande!' ao mesmo tempo. Sentimos um bom cheiro, e era o cheiro da vitória. Sabemos que agora é o momento."

A praça tem um profundo valor simbólico. O regime manteve ali manifestações pró-Kadafi quase toda a noite desde que a revolta começou, em fevereiro. As comemorações também ocorrem em outras cidades como Misrata e Benghazi, epicentro da revolta e reduto opositor localizado no leste do país.

Pressão internacional

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) afirmou nesta segunda-feira que manterá sua operação militar na Líbia até que todas as forças leais ao regime de Kadafi tenham se rendido. Em comunicado, a Otan pediu que Kadafi renuncie imediatamente para salvar vidas. "Enquanto isso, nossas aeronaves continuarão a proteger a população civil", disse o texto.

Nos últimos cinco meses, a Otan realizou cerca de 7,5 mil ataques aéreos contra as forças de Kadafi. De acordo com a organização, apenas nos dois últimos dias aeronaves atacaram 40 alvos em Trípoli.

Na noite de domingo, o presidente americano, Barack Obama, afirmou que Kadafi "precisa reconhecer que não controla mais a Líbia" e "abandonar o poder de uma vez por todas". Em comunicado, o líder reforçou que o governo dos EUA reconhece o CNT como a autoridade de governo legítima do país.

O presidente americano pediu que o grupo rebelde demonstre a liderança necessária para conduzir o país, com respeito aos direitos do povo líbio, evitando a violência contra civis, protegendo as instituições do Estado líbio e buscando uma democracia que seja justa e inclusiva para todos os líbios.

As declarações de Obama seguiram as de diversos líderes mundiais, que fizeram apelos para que Kadafi deixe o poder imediatamente. A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que o líder líbio perdeu legitimidade e deve deixar o poder "o quanto antes".

"Os rebeldes fizeram grandes avanços. A Alemanha trabalha com o grupo de transição da Líbia e já abrimos uma representação (diplomática) em Benghazi. E vamos continuar a apoiar o povo líbio", afirmou a chanceler.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, também pediu que Kadafi poupasse a população, deixando o governo imediatamente. "A França apoia totalmente a libertação da Líbia desse regime opressivo e ditatorial."

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que interrompeu suas férias na região da Cornualha para retornar a Londrese presidir uma reunião sobre a Líbia, afirmou que as cenas em Trípoli mostram "que o fim está próximo para Kadafi". "Ele cometeu crimes terríveis contra o povo da Líbia e precisa sair já para evitar mais sofrimento de seu próprio povo", disse.

Em entrevista na noite deste domingo, o porta-voz do governo líbio, Moussa Ibrahim, ameaçou líderes internacionais. "Consideramos os senhores Obama, Cameron e Sarkozy moralmente responsáveis por qualquer morte desnecessária que ocorra neste país."

Uma das poucas vozes de apoio a Kadafi veio do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. "Hoje estamos vendo imagens de como os governos democráticos europeus e o supostamente democrático governo dos Estados Unidos estão praticamente demolindo Trípoli com suas bombas", disse.

"Hoje eles jogaram não sei quantas bombas e eles as estão jogando indiscriminadamente e abertamente sobre escolas, hospitais, casas, negócios, fábricas, fazendas. E pedimos a Deus para trazer paz ao povo líbio e ao povo do mundo", afirmou.

Filhos de Kadafi

No domingo, os rebeldes anunciaram que dois dos filhos de Kadafi, Saif al-Islam e Saadi, foram capturados. A prisão de Saif foi confirmada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que em junho emitiu um mandado de prisão contra ele pela repressão contra o levante popular.

Uma autoridade do TPI em Haia, Holanda, disse estar discutindo com os rebeldes a extradição de Saif para a corte, onde será julgado por crimes contra a humanidade. "Estamos em contato com o CNT", afirmou Fadi el-Abdallah. "É muito cedo para dar detalhes ou datas. A situação não está totalmente clara e estável em Trípoli."

No início da madrugada, o canal de TV oficial do país foi tirado do ar, e a transmissão também foi interrompida na rede Al-Libiya, que pertence a Saif al-Islam. Segundo moradores, os sinais foram interrompidos por grupos anti-Kadafi. Há também muitos relatos de pessoas em Trípoli que estão conseguindo entrar na internet, cujo acesso havia sido cortado no início do conflito, há seis meses.

Outro filho de Kadafi, Mohammed, estava em contato com a oposição pedindo garantias para sua segurança, disse o porta-voz dos rebeldes, Sadiq al-Kibir. Mohammed, que está encarregado das telecomunicações líbias, apareceu na Al-Jazeera, dizendo que sua casa foi cercada por rebeldes armados.

"Eles garantiram minha segurança. Sempre desejei o melhor para os líbios, e sempre estive ao lado de Deus", disse. Perto do fim da entrevista, era possível ouvir o som de disparos, e, antes de a linha de telefone ser cortada, Mohammed disse que rebeldes entraram em sua casa.

De acordo com a AP, um rebelde líbio afirmou que a unidade militar encarregada de proteger Kadafi também se rendeu. No Twitter, o Washington Post citou fontes de inteligência afirmando que a família de Kadafi retirou dinheiro e bens da Líbia nos últimos cinco dias.

Com BBC, AFP, EFE, Reuters e AP

Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem