Burns: 'Nós testamos a paciência'

Subsecretário diz que EUA continuam interessados em comprar da Embraer

Eliane Oliveira, Lucianne Carneiro, Deborah Berlinck e Cezar Loureiro – O Globo

RIO, BRASÍLIA e PARIS. O subsecretário de Estado americano, William Burns, disse ontem no Rio que "às vezes, nós testamos a paciência das pessoas", sobre a suspensão do processo licitatório de compra de aviões A-29 Super Tucano pela Força Aérea dos EUA, ocorrida há dois dias. Ele negou que a suspensão do contrato tenha relação com a venda dos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) ou com as eleições americanas. Segundo ele, são dois assuntos separados, sem ligação. O interesse pelo Super Tucano permanece, afirmou Burns, mas há "processos internos" para serem resolvidos.

- A Embraer é uma boa companhia e tem uma quantidade razoável de produtos a oferecer, não apenas aos EUA, mas a muitos países no mundo. Mas às vezes nós testamos a paciência das pessoas com nossos processos internos. Isso não muda a realidade de que continuamos interessados – disse Burns.

O governo brasileiro divulgou comunicado, na noite de ontem, afirmando ter recebido com surpresa a informação, "em especial pela forma e pelo momento em que se deu". Em uma linguagem diplomática, a nota diz que a medida "não contribui para o aprofundamento das relações entre os dois países em matéria de defesa", em uma referência velada à disputa entre americanos, franceses e suecos pela venda de 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). "O governo brasileiro continuará a manter diálogo com as autoridades americanas sobre o assunto", diz o comunicado do Itamaraty.

O cancelamento em favor de outra empresa, que fará com que a fabricante nacional de aeronaves deixe de vender cerca de US$ 355 milhões aos EUA, será tratado hoje em um encontro em Brasília entre o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e Burns. A preocupação das autoridades americanas com o tratamento dado à Embraer, avaliam fontes do governo brasileiro, deve-se à disputa entre EUA, França e Suécia pela compra de 36 caças pela FAB. A França argumenta que a transferência de tecnologia é garantida se a FAB comprar os modelos Rafale, da francesa Dassault, em lugar dos F-18 da americana Boeing.

- É o Estado francês que garantirá a transferência de tecnologia (dos Rafale) para o Brasil. Nos EUA, quem decide é o Congresso - disse um especialista.

(*) Correspondente

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