Potências isolam Obama no G20

RENATA TRANCHES - CORREIO BRAZILIENSE

Diante de um incerto apoio político doméstico para uma intervenção militar na Síria, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enfrentou, ontem, a oposição de líderes internacionais, no primeiro dia da cúpula do G-20. A guerra civil no país árabe se impôs durante a cúpula das maiores economias globais, que abrangem dois terços da população mundial. Anfitrião do encontro que ocorre em São Petersburgo, o presidente russo, Vladimir Putin, cumprimentou Obama, de modo protocolar.

Aparentemente, os dois não tiveram qualquer encontro às margens do evento, o que ressaltou o clima pouco amistoso entre eles. Ao discursar no jantar oficial, Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, alertou que qualquer resposta ao uso de armas químicas na Síria deve passar primeiro pela organização.

Após o aval da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano para uma incursão limitada na Síria, anteontem, Obama espera obter o apoio dos congressistas nas votações em plenário na próxima semana. No entanto, para a imprensa americana, o caminho é nebuloso. Segundo reportagem do jornal The Washington Post, baseada no posicionamento público dos políticos, do total de 100 senadores, 23 apoiam a ação militar, 53 estão indecisos, dez inclinados a votar a favor e 14 são contra. Na Câmara dos Deputados, 335 dos 435 deputados se posicionaram publicamente — o número de favoráveis à campanha militar é o mesmo do Senado. Os indecisos somam 119; inclinados a apoiar, 95; e contra, também 95. Obama cancelou uma viagem que faria à Califórnia, na semana que vem, para permanecer em Washington e pressionar o Congresso a apoiá-lo.

O cenário internacional é tão duvidoso quanto o doméstico. Ao fim do encontro paralelo dos Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov, declarou que os líderes do grupo expressaram preocupação de que um ataque militar contra a Síria possa prejudicar a economia mundial. Em carta enviada ao G20, o papa Francisco pediu aos governantes para “deixarem de lado a busca inútil por uma solução militar”. Ban, por sua vez, disse que as necessidades humanitárias na Síria estão “ultrapassando todos os esforços” da ONU, mas qualquer ação deve passar primeiro pela organização. A União Europeia, resguardadas as diferentes posições de seus Estados-membros, assumiu como postura oficial que “não há solução militar para o conflito sírio”.

Rússia

A expectativa de um ataque ao regime de Bashar Al-Assad foi levantada após Obama anunciar que consultaria o Congresso para uma campanha militar em resposta ao uso de armas químicas contra a população. A Casa Branca afirma estar convencida de que a ação que matou mais de 1,4 mil pessoas, em 21 de agosto, no subúrbio de Damasco, partiu do governo. Uma reportagem da NBC News, citando fontes da Presidência americana, afirmou que Obama esperava obter o apoio de metade das nações do poderoso grupo econômico para seus planos, que poderiam ser levados adiante, mesmo sem o apoio da ONU. 


Líderes de lados opostos, EUA e Rússia travam as maiores divergências. O mais forte aliado do regime sírio, Moscou mantém uma base militar na Síria e, ontem, mobilizou três navios de guerra pelo Estreito de Bósforo rumo ao leste do Mediterrâneo, perto da costa síria. Ontem, a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, declarou que a proteção de Putin a Al-Assad coloca sob grande tensão todo o sistema de gestão de crises internacionais do Conselho de Segurança. Segundo ela, a Rússia mantém a instância “refém” na crise síria.


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