Cenário internacional sugere versão “soft” da Guerra Fria

Em meio à crise ucraniana, Otan intensifica forças no Leste europeu e Moscou se prepara para retaliação.


Andrei Iliachenko, especial para Gazeta Russa

No início de abril, os militares norte-americanos enviaram para a Lituânia mais 6 caças táticos F-15 e colocaram na Polônia 12 caça universais F-16 e cerca de 200 instrutores. Em março, apareceram no mar Negro destróieres americanos equipados com o sistema Aegis. Em seguida, a liderança da Otan desenvolveu novas rotas para voos de reconhecimento de aviões equipados com o sistema AWACS no espaço aéreo da Romênia e da Bulgária. Mas esse foi apenas o começo.

“Estamos prontos para tomar novas medidas, se necessário, realizar mais exercícios militares, atualizar os planos de defesa”, declarou o comandante geral das Forças Armadas Conjuntas da Otan na Europa, o general americano Philip Breedlove. Como exemplo de medidas específicas, sugeriu fortalecer dos agrupamentos aéreos e navais que delimitam as fronteiras dos membros da Otan desde o Báltico até o mar Negro.

As ações e declarações das autoridades ocidentais foram atribuídas à forte intensificação da Rússia na Ucrânia e à anexação da península da Crimeia.

Em meados de abril, o presidente russo Vladímir Pútin disse que a decisão da Rússia foi, em parte, motivada pela ameaça da Ucrânia ingressar na Otan. “Quando a infraestrutura militar fica mais perto de nossas fronteiras, nós temos que tomar medidas de retaliação”, disse. “Se as tropas da Otan entrassem na Crimeia e instalassem armamento de ataque, a Rússia ficaria pressionada do lado do mar Negro.”

Nos dias de hoje, os ataques não nucleares são lançados por aeronaves baseadas em plataformas transportadoras e por mísseis de cruzeiro lançados por submarino (MCLS). “A Rússia, como potência continental, está por enquanto livre de qualquer ameaça. Mas caso a vizinha Ucrânia ingresse na Otan, centros de controle político e militar, e de comunicação, bem como armas nucleares estratégicas, ficariam ao alcance da aviação tática”, explica coronel Konstantin Sivkov. “Em caso de um ataque surpresa não sobra praticamente tempo para uma retaliação.”

Nesse cenário, os mísseis russos que restam poderiam ser destruídos pelo Europro, que está sendo ativamente implantado no Leste Europeu e perto da costa russa nos mares do Norte.

Linha tênue

No caso de adesão da Ucrânia à Otan, também poderia se repetir a situação na véspera da crise dos mísseis de Cuba, quando os Estados Unidos implantaram mísseis nucleares de grau intermediário na Turquia. Em resposta, o ex-líder soviético Nikita Khruchov começou a colocar os seus mísseis em Cuba.

Para Moscou, isso significaria cruzar a linha vermelha, embora a probabilidade de isso ocorrer tenha aumentado depois da saída do presidente ucraniano Viktor Ianukovitch.

Na véspera do Dia da Vitória, celebrado em 9 de maio, o Kremlin realizou exercícios militares de larga escala, prevendo especialmente uma resposta a um ataque nuclear maciço. Para maior visibilidade, foi lançado um míssil balístico intercontinental Topol a partir da base de Plesetsk. Enquanto os submarinos das frotas do Norte e do Pacífico executaram dois lançamentos de mísseis balísticos, as tropas lançaram também mísseis tático-operacionais Iskander-M.

Moscou anunciou ainda um importante reforço da frota do Mar Negro, que garante proteção do país pelo sul e que, no futuro, estará também presente no Mediterrâneo. A implantação nas regiões ocidentais da Rússia, especialmente em Kaliningrado, de sistemas móveis de mísseis Iskander-M, estão sendo analisadas.

“Mais um passo da Otan em direção às fronteiras russas, e será preciso reformular toda a arquitetura da segurança europeia”, declarou o assessor de imprensa do Kremlin, Dmítri Peskov. “E a Rússia terá que tomar medidas para garantir a sua segurança”, arrematou.


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