Alargamento da OTAN transforma segurança em confrontação

Ninguém irá parar o alargamento da OTAN para leste, escreveu o secretário-geral da Aliança Atlântica no seu Twitter.


Igor Siletsky | Voz da Rússia

Essa frase se tornou na quintessência das declarações proferidas por Anders Fogh Rasmussen em Bruxelas. Segundo o mesmo afirmou, a OTAN tenciona admitir o Montenegro e acelerar a entrada da Geórgia e, mais tarde, da Ucrânia. O secretário-geral está convencido que isso “reforça a arquitetura da segurança”. Na realidade, as intenções da OTAN apenas conduzem a um agravamento da confrontação, consideram os peritos russos.

As portas da OTAN continuam abertas e nenhum país poderá vetar o alargamento desse bloco militar. A Aliança Atlântica tenciona intensificar seu alargamento para leste. Essa questão vai ser analisada já na cúpula se setembro da OTAN no País de Gales, declarou o secretário-geral da OTAN. Anders Fogh Rasmussen pronunciou essas declarações na reunião dos ministros das Relações Exteriores realizada em Bruxelas. Ele classificou o processo de alargamento de “um êxito histórico que favorece a segurança na Europa”.

Aquilo que Rasmussen considera como “êxito histórico”, é considerado como uma catástrofe por outros. Essa catástrofe começou quando, devido ao desmembramento da URSS, o balanço de forças se deslocou para o lado do Ocidente. Os líderes ocidentais prometeram a Gorbachev que a Aliança Atlântica não se iria alargar para leste.

No entanto, a OTAN, que definia seu papel como de contrapeso a uma possível “agressão comunista”, se sentiu na completa impunidade com a ausência do Pacto de Varsóvia. A Aliança começou refazendo as fronteiras da Europa e aproximando cada vez mais suas bases das fronteiras da Rússia. De caminho foi eliminando quem se opunha, como a Iugoslávia, através de bombardeamentos ou do apoio a golpes de Estado, como na Ásia Central e agora na Ucrânia.

Foi precisamente o Ocidente que começou a alterar o sistema de relações internacionais, refere o diretor do Instituto Internacional de Peritagem Política Evgueni Minchenko:

“A alteração radical do sistema de relações internacionais começou com os bombardeamentos da Sérvia e continuou no Iraque, na Líbia e na Síria. Se alguém começou alterando os princípios do direito internacional, esse alguém não foi a Rússia. Além disso, a OTAN iniciou seu alargamento para leste, incorporou os Estados Bálticos e estudou a possibilidade de adesão da Ucrânia e da Geórgia à Aliança Atlântica. Isso apesar de, na altura da saída das tropas soviéticas da Alemanha, ter prometido o contrário a Gorbachev. Eu penso que se os funcionários dessa organização querem culpar alguém, terão de culpar a si próprios em primeiro lugar.”

Rasmussen declara que “há falta de confiança” nas atuais relações entre a Rússia e a OTAN. Nesse contexto, o secretário-geral da Aliança acusou a Rússia de violar “todas as leis internacionais” e referiu que a reintegração da Crimeia “criou uma nova situação na segurança europeia”.

Além disso, Rasmussen prometeu, por parte da Aliança Atlântica, “um pacote de medidas que irá impulsionar o aumento das capacidades de defesa da Ucrânia”. Ainda em fins de maio o secretário-geral da OTAN tinha declarado que, devido aos acontecimentos na Ucrânia, a Aliança iria aumentar seu patrulhamento aéreo e o número de exercícios na região do Báltico e do Mar Negro. Pouco depois, a fragata francesa Surcouf (F711) e o cruzador norte-americano USS Vella Gulf (CG-72) entraram no mar Negro, tendo o ministro da Defesa da Rússia Serguei Shoigu denunciado um aumento “sem precedentes” da atividade das forças armadas dos EUA e da OTAN na Europa Oriental junto às fronteiras com a Rússia.

É evidente que Moscou não deixa esse tipo de ações sem resposta. No mar Báltico, por exemplo, a Rússia realizou exercícios simultaneamente às manobras da OTAN. Há dias, a corveta furtiva Soobrazitelny (Astuto) surgiu inesperadamente junto à costa da Dinamarca e treinou ataques de mísseis contra alvos de superfície.


Corveta Soobrazitelny
Como reconheceu, mais tarde, o oficial de serviço do navio da OTAN que saiu em sua intercepção, “nós sabíamos que os russos trabalham muito nesta região, mas não esperávamos que se aproximassem tanto”. Em suma, o Ocidente e a Rússia recorrem a demonstrações de força e testam a resistência dos nervos uns dos outros, referem os observadores.

Entretanto Rasmussen declara que a Aliança Atlântica não vê “o cumprimento por parte da Rússia das suas obrigações internacionais perante a Ucrânia”. O objetivo desse tipo de declarações é evidente. Para manter seu estatuto de polícia do mundo, Washington necessita simplesmente do conceito de reencarnação da OTAN. O principal é convencer os norte-americanos e os europeus comuns, que eles deverão aceitar um maior aperto do cinto perante a “ameaça que vem do Leste”. Mas fazer isso já não é nada fácil, considera o perito Serguei Mikhailov do Instituto Russo de Estudos Estratégicos:

“Para que a OTAN ganhe um novo fôlego, é necessário que a população desses países sinta uma ameaça direta aos seus próprios territórios e à sua própria segurança. Eu penso que dificilmente eles terão um sentimento de insegurança depois da crise da Crimeia. Aqui, parece-me, não se deve exagerar, como o faz Rasmussen. É preciso explicar aos adversários que a Rússia não é um agressor, mas que circunstâncias evidentes a obrigam a agir desta forma. Se essas circunstâncias forem eliminadas no futuro, não deverá haver nenhuns motivos especiais para divergências entre a Rússia e a OTAN.”

O alargamento da Aliança Atlântica não apaga as linhas divisórias no mundo – apenas as desloca para leste, declarou o representante permanente da Rússia na OTAN, Alexander Grushko. Esse processo já se esgotou há muito tempo. Essa é uma deslocação em direção a uma confrontação, e não a uma arquitetura de segurança moderna. Já nos casos da Geórgia e da Ucrânia a situação é ainda mais grave: essas linhas divisórias passam mesmo por dentro desses países.


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