ONU alerta para ameaça global do Estado Islâmico mesmo após derrotas no Iraque e Síria

O Escritório de Contraterrorismo da ONU afirmou na segunda-feira (11) que a célula central do grupo Estado Islâmico, localizada em regiões fronteiriças da Síria e Iraque, continua a influenciar articulações dos extremistas em outras partes do mundo, mesmo com as perdas territoriais e materiais nesses dois países do Oriente Médio. Segundo as Nações Unidas, ataques do ISIL diminuíram no ano passado, mas os terroristas seguem representando uma ameaça global.


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“Apesar das atividades mais escondidas ou implantadas localmente das células do ISIL, a sua liderança central retém uma influência e mantém o intento de gerar ataques internacionalmente direcionados e, portanto, ainda desempenhar um papel importante em avançar os objetivos do grupo”, explicou o chefe do escritório antiterror da ONU, Vladimir Voronkov, em apresentação de um novo relatório sobre o tema no Conselho de Segurança.

Uma mulher com duas crianças caminha rumo a um posto de checagem ao sul de Mossul. Foto: UNICEF/Romenzi
Uma mulher com duas crianças caminha rumo a um posto de checagem ao sul de Mossul. Foto: UNICEF/Romenzi

“Isso é acentuado pelo desafio dos combatentes terroristas estrangeiros, que ou estão deixando zonas de conflito ou estão retornando (para seus países de origem) ou estão para ser liberados da prisão. Nesse contexto, a radicalização em contextos prisionais é vista como um desafio particular na Europa e no Iraque”, acrescentou o dirigente.

No relatório divulgado nesta semana, o Escritório de Contraterrorismo da ONU aponta que o “centro de gravidade” do ISIL permanece no Iraque e na Síria, com até 18 mil soldados compondo as tropas terroristas. Desse contingente, estima-se que em torno de 3 mil sejam estrangeiros.

Voronkov explicou ainda que a atual ameaça do grupo Estado Islâmico tem um componente extra de complexidade, representado pelos “viajantes frustrados” — combatentes que não conseguiram chegar aos principais campos de batalha e, em vez disso, foram para outros lugares, por ordem de comandantes do ISIL ou por vontade própria.

“Em termos de força financeira do ISIL, o relatório observa que, apesar de algumas perdas de receita devido a recuos territoriais, o ISIL poderia sustentar as suas operações por meio de reservas (que estão) acessíveis, em dinheiro ou em investimento em negócios, variando de 50 milhões a 300 milhões de dólares. Células do ISIL também estariam gerando receita por meio de atividades criminosas”, disse o representante.

Em 2014, o ISIL, também conhecido como Daesh, declarou seu califado no norte da Síria e Iraque. Os terroristas foram expulsos de seus redutos nas cidades de Mossul, em território iraquiano, e Raqqa, em terras sírias.

Em meses recentes, os extremistas têm participado de intensos conflitos para defender um pequeno enclave no leste da Síria, onde combatentes apoiados pelos EUA avançam. Esse foco de resistência fica próximo à fronteira com o Iraque. Segundo a imprensa, cerca de 600 terroristas enfrentam forças de coalizão, que batizaram o embate de ‘a batalha final’ para acabar com o ISIL.

Desafios globais


A análise da ONU alerta para desafios globais no combate ao ISIL, principalmente nas regiões norte, oeste e leste da África e também na Ásia Central. O documento mostra que campos de treinamento dos terroristas foram encontrados no Afeganistão e no Sudeste Asiático, onde mulheres e jovens estão sendo cada vez mais mobilizados para operações dos extremistas.

Michele Coninsx, que preside a Diretoria Executiva do Comitê Contraterrorismo da ONU, ressaltou três principais problemas enfrentados pelos Estados-membros para conter o Daesh. O primeiro seria o “legado destrutivo” deixado na Síria e no Iraque, mais notável pelo elevado número de famílias que continuam internamente deslocadas devido à devastação de residências e da infraestrutura geral.

Segundo a autoridade sênior das Nações Unidas, “a reconstrução levará muitos anos e exigirá recursos significativos, assim como a recuperação e a reconciliação das comunidades após tantos anos de conflito”.

A segunda ameaça é o aumento na quantidade de suspeitos e criminosos envolvidos em atividades terroristas. Na avaliação de Michele, o risco trazido por esses prisioneiros é difícil de avaliar e gerenciar.

O terceiro obstáculo é a habilidade do ISIL em explorar novas tecnologias e encontrar meios inovadores de financiar suas atividades e encontrar novos recrutas. Michele chamou atenção para os perigos associados a tecnologias anônimas, como o blockchain e as criptomoedas, e outras estratégias baseadas na internet para evitar detecção.

Estratégias da ONU

Por muitos anos, diferentes órgãos da ONU apoiaram os Estados-membros em frentes contra atividades terroristas — inquérito, reabilitação e reintegração de ex-combatentes, cooperação judicial internacional, combate ao financiamento do terrorismo, gerenciamento de fronteiras e aplicação da lei, enfrentamento às narrativas do terrorismo e engajamento das comunidades para prevenir o extremismo violento.

Michele explicou que o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e o Escritório de Contraterrorismo estão liderando um projeto para fornecer assistência em capacitações adaptadas para funcionários de cadeias.

Na Bacia do Lago Chade, os dois organismos trabalham juntos para oferecer aos países aconselhamento técnico, a fim de desenvolver estratégias de investigação, recuperação e reinserção social de pessoas associadas ao Boko Haram.

Outras iniciativas da ONU incluem o desenvolvimento de um guia prático para a solicitação de provas eletrônicas entre fronteiras. A Organização também prevê o envio de um consultor especializado para apoiar o Iraque em seus esforços de criação de uma estratégia contraterrorismo.

“O secretário-geral assinalou que, apesar de sucessos recentes contra o ISIL/Daesh e seus afiliados, a ameaça trazida por combatentes que estão retornando ou se realocando, bem como por indivíduos inspirados por eles, permanece alta e tem um alcance global”, acrescentou Voronkov.

“Eu enfatizaria, portanto, que as perdas recentes do ISIL não deveriam levar a complacência em qualquer nível”, concluiu o dirigente.

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