Militares ganham cargas estratégicas no Ministério da Saúde

A equipe de Nelson Teich no Ministério da Saúde tem recebido nomes indicados pela ala militar do governo para cargos estratégicos. 


Estadão Conteúdo

As mudanças, que vão se estender pelos próximos dias, reforçam o que secretários estaduais e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) estão chamando de "tutela" do Palácio do Planalto e da área militar, que já tem o secretário-executivo, o general Eduardo Pazuello, o segundo na hierarquia da pasta.

Ministro da Saúde, Nelson Teich, ao lado do presidente Jair Bolsonaro
Ministro da Saúde, Nelson Teich, ao lado do presidente Jair Bolsonaro | Ueslei Marcelino - 17.abr.2020/Reuters

Nessa quarta-feira (6), Teich disse que a nomeação dos militares não significa interferência direta do governo, mas uma resposta à necessidade de execução de trabalho em curto espaço de tempo e de forma organizada.

"Sou o líder de um grupo que é composto por vários secretários. Meu papel é de liderança e de execução”, afirmou o ministro. Ele declarou que é preciso "evitar essa polarização, se é um governo de militar ou não". "Os militares têm competências que são muito importantes, o planejamento do trabalho em equipe, uma coisa organizada", disse.

Ao menos 10 militares já ganharam ou devem ganhar cargos na pasta de Teich. Ao anunciar o ministro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a dizer que daria liberdade para o médico escolher parte da equipe, mas reconheceu que também indicaria nomes. "Ele vai nomear boas pessoas. Eu vou indicar algumas pessoas também, porque é um ministério muito grande", disse Bolsonaro no dia 16 de abril.

Departamento de compras

Uma das principais mudanças previstas é a nomeação do coronel Alexandre Martinelli Cerqueira na Diretoria de Logística (DLOG), área responsável por compras do ministério. O militar deve ocupar a vaga de Roberto Ferreira Dias, indicado ao cargo pelo ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR) no começo do governo.

Normalmente, a DLOG realiza compras de medicamentos e outros insumos que somam cerca de R$ 10 bilhões anuais. Durante a pandemia do novo coronavírus, a pasta passou a fechar contratos de forma emergencial sem licitação.

Gestores do SUS reclamam, desde a gestão de Luiz Henrique Mandetta (DEM), sobre promessas não cumpridas de compras para enfrentar a COVID-19. O ministério distribuiu 17,6% dos leitos de UTI (unidade de terapia intensiva), 3,3% dos respiradores, 20% dos testes rápidos (contraindicados para diagnóstico) e 3% dos testes RT-PCR (recomendados para diagnósticos), prometidos a estados e municípios.

Loteamento em parcelas

O loteamento de militares no ministério ocorre em parcelas. Nessa quarta, foram nomeados o tenente-coronel Marcelo Blanco Duarte como assessor no DLOG, o coronel da reserva Jorge Luiz Kormann como diretor de programa, o tenente-coronel Reginaldo Ramos Machado como diretor de Gestão Interfederativa e Participativa, a terceiro-sargento Emanuella Almeida Silva como coordenadora de pagamentos de pessoal e contratos administrativos, e o coronel da reserva Paulo Guilherme Ribeiro como coordenador-geral de Planejamento.

Nos próximos dias devem ser nomeados ainda o tenente-coronel Cézar Wilker Tavares Schwab para o cargo de subsecretário de Planejamento e Orçamento, e o coronel Luiz Otávio Franco Duarte para o de subsecretário de Assuntos Administrativos. Teich tem sido acompanhado em reuniões por Pazuello, secretário executivo da pasta, apontado em tom irônico por secretários de Estados e municípios como verdadeiro chefe da Saúde.

"O secretário-executivo tem o papel de fazer as coisas acontecerem. Hoje um dos grandes problemas que a gente tem é velocidade, eficiência", afirmou Teich. "O general Pazuello tem uma história de ter feito coisas grandes em execução. A razão de ele estar ao meu lado não é porque ele é militar, é porque ele é competente nisso, é eficiente."

O secretário-executivo-adjunto, também nomeado na gestão Teich, é o coronel Elcio Franco Filho. Gestores do SUS que participaram recentemente de reuniões com o ministro afirmaram que Teich parece "perdido" e sem dar uma diretriz sobre o que pretende fazer.

A composição da equipe de Teich reflete acordos do governo Bolsonaro para costurar apoio tanto da ala militar como de partidos. A Secretaria de Vigilância em Saúde foi prometida ao PL. A pasta é ocupada atualmente pelo epidemiologista Wanderson Oliveira, que ganhou projeção ao formular a estratégia contra a COVID-19.

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