‘Assistência humanitária deve ser ampla e complexa’, diz porta-voz da ONU (VIDEO)

À CNN, Luiz Fernando Godinho afirma que Afeganistão enfrenta uma guerra prolongada e ação deve ir além de retirada de pessoas

Por Layane Serrano e Renata Souza | CNN

Em entrevista à CNN, o porta-voz do ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), Luiz Fernando Godinho, diz que países estrangeiros não devem apenas evacuar as pessoas do Afeganistão, e que é necessária uma assistência mais robusta.

Mulheres no Afeganistão temem pelo futuro, relembrando a opressão exercida pelo Talibã no passado / Divulgação

“Esse movimento de saída que está sendo feito por alguns países não deve, de nenhuma maneira, substituir uma assistência humanitária, que deve ser mais ampla e mais complexa do que simplesmente retirar as pessoas de lá.”

Luiz Fernando Godinho explica que o Afeganistão é o terceiro maior país de origem de refugiados do mundo. “São 2,6 milhões de refugiados e afegãos espalhados em vários países do mundo e 90% desta população já se encontra hoje entre o Irã e o Paquistão.”

Ele ressalta que há, ainda, um número expressivo de afegãos que tiveram de deixar suas casas e se mudaram para outras regiões do país por conta da instabilidade. “O Afeganistão tem, dentro do seu território, outros 3 milhões de deslocados internos, pessoas que fogem da guerra pelos mesmos motivos, mas que não cruzam a fronteira internacional e permanecem dentro do seu país. Neste ano, já houve um aumento de mais de meio milhão de pessoas que foi deslocada pela contínua violência e insegurança no Afeganistão.”

Por isso, ele reitera que a ação dos demais países, não só dos vizinhos, deve ir além de uma evacuação bilateral.

“O ACNUR tem feito um apelo muito grande para que estas fronteiras não sejam fechadas, que os países permitam às pessoas entrar nos seus territórios, sejam acolhidas e alocadas em locais específicos e que, mais do que tudo, também não sejam devolvidas.”

Godinho analisa que o Afeganistão está em uma situação de guerra prolongada, que veio à tona com a tomada de poder pelos Talibãs no dia 15 de agosto, mas que já acontece há décadas.

“O que a gente está vendo hoje não é uma crise humanitária que começou no último final de semana com a chegada dos Talibãs à Cabul, mas é algo que já se prolonga, infelizmente, por mais de vinte anos.

A respeito dos brasileiros que vivem no Afeganistão, e sobre os refugiados que pedem refúgio no Brasil, Godinho diz que há uma equipe de mais de 200 brasileiros trabalhando no Afeganistão e que o governo brasileiro está avaliando estas questões.

“O governo brasileiro possui mecanismos que pode não apenas acelerar a chegada destas pessoas aqui no país, como também o processamento de eventuais pedidos de refúgio, mas são decisões que o governo brasileiro está considerando e ainda não foram anunciadas.”

Segundo ele, 18 organizações parceiras atuam junto à ACNUR e, apesar da situação, ainda mantêm contato. Um dos focos é dar atenção às pautas das mulheres que passaram a perder alguns de seus direitos.

“Não apenas por parte do ACNUR, mas de outras agências da ONU e de outros mecanismos humanitários, há uma atenção muito grande à situação das mulheres. A gente está muito atendo a eventuais violações de direitos humanos que ocorram com a população em geral, mas esse grupo em particular.”

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