Em meio a tensão sobre Taiwan, Xi faz críticas veladas ao EUA ao celebrar 50 anos de Pequim na ONU

Sem citar os americanos, ele disse que seu país 'sempre se opôs firmemente ao hegemonismo'; embates entre os dois países a respeito da ilha, que antes ocupava a cadeira chinesa na organização, têm crescido

O Globo
e Bloomberg

PEQUIM — O presidente chinês Xi Jinping atacou de maneira velada a liderança dos EUA nesta segunda-feira, em um discurso para marcar o 50º aniversário de Pequim como representante da China na ONU. Os comentários coincidem com uma ofensiva de Washington para que Taiwan — que até 1971 ocupava a cadeira reservada à China na organização — desempenhe um papel maior nos fóruns internacionais.

Presidente chinês, Xi Jinping, discursa na cúpula da biodiversidade da COP-15 em Kunming, na China, em 12 de outubro de 2021 Foto: SECRETARIAT OF THE CONVENTION ON / via REUTERS

— A China sempre buscou uma política externa independente e de paz, manteve a justiça e se opôs firmemente ao hegemonismo e à política de poder — disse Xi, em uma fala em que não chegou a nomear os EUA.

O líder chinês prometeu que sua nação "se manteria no caminho do desenvolvimento pacífico", acrescentando que as nações deveriam trabalhar juntas para tratar de questões como terrorismo, mudança climática, cibersegurança e biossegurança.

— Somente formando uma governança global mais inclusiva, mecanismos multilaterais mais eficazes e uma cooperação regional mais ativa poderemos lidar efetivamente com elas — disse.

Xi também falou com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, por chamada de vídeo, de acordo com o jornal Global Times. Guterres deu parabéns pelo aniversário e os dois discutiram como aumentar a cooperação em questões como a mudança climática, informou o jornal estatal em inglês.

As tensões entre a China e os Estados Unidos têm se prolongado desde que a guerra comercial eclodiu durante o governo de Donald Trump. Com o aumento das atividades militares de EUA e aliados em seu entorno, Pequim também aumentou a pressão militar sobre Taiwan, que considera uma "província rebelde" desde que os nacionalistas fugiram para a ilha depois de perderem a guerra civil para os comunistas, em 1949.

Na semana passada, o presidente Joe Biden sugeriu que os poderiam intervir militarmente em caso de uma ação chinesa para pôr Taiwan sob o controle de Pequim de novo à força. A declaração provocou dúvidas sobre uma eventual mudança da política americana para a ilha, já que, desde que retomou as relações diplomáticas com Pequim, em 1979, os EUA vendem armas a Taiwan, mas não assinaram o compromisso de defender sua autonomia militarmente nem tem relações diplomáticas formais com Taipé.

O atrito entre China e EUA a respeito de Taiwan deve aumentar depois que diplomatas de alto nível do Departamento de Estado dos EUA e do Ministério das Relações Exteriores de Taiwan se reuniram por vídeo, na sexta-feira, para discutir a participação de Taipé na ONU e em outros fóruns internacionais.

"A discussão se concentrou em apoiar a capacidade de Taiwan de participar significativamente na ONU e contribuir com sua valiosa experiência para enfrentar desafios globais, incluindo saúde pública global, meio ambiente e mudança climática, assistência ao desenvolvimento, padrões técnicos e cooperação econômica", disse o Departamento de Estado em uma declaração.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse nesta segunda-feira que "a participação de Taiwan em atividades internacionais deve ser tratada de acordo com o princípio de uma só China".

— Taiwan tenta aumentar sua influência no mundo, mas tais tentativas estão condenadas ao fracasso — disse ele, acrescentando que os EUA devem "evitar fazer qualquer coisa que possa minar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan", que separa a ilha do continente.

Hoje, apenas 15 países mantêm relações diplomáticas com Taiwan. O número vem diminuindo a cada ano desde que a Assembleia Geral da ONU votou para que Pequim assumisse a cadeira da China.

No entanto, o secretário adjunto do Departamento de Estado para a China, Taiwan e Mongólia, Rick Waters, disse na semana passada que a China tem usado indevidamente a Resolução 2758 da ONU — que em 1971 reconheceu Pequim como o representante legítimo da China — para impedir Taiwan de desempenhar um grande papel na organização, de acordo com a Agência Central de Notícias estatal de Taiwan.

A Embaixada da China nos EUA rebateu os comentários, dizendo em um comunicado que eles "desconsideram os fatos" e são "altamente enganosos".

— Esta é uma grave provocação política à China e uma distorção maligna do direito internacional e das normas universalmente reconhecidas que governam as relações internacionais — disse a declaração, acrescentando que a China apresentou uma queixa solene aos diplomatas dos EUA.

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