Líderes ocidentais esperam guerra longa na Ucrânia, mas prometem apoio ao país

Secretário-geral da Otan e primeiro-ministro do Reino Unido defenderam que o Ocidente deve manter uma intensa ajuda para evitar uma vitória russa

Tim Lister, Denis Lapin
e Julia Kesaieva | CNN

O Ocidente deve se preparar para uma longa guerra na Ucrânia, enquanto a Rússia obtém ganhos incrementais em uma batalha furiosa para controlar o leste do país, disseram o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Militar ucraniano dispara foguete perto da cidade de Lysychansk. na região ucraniana de Luhansk | Gleb Garanich/Reuters

Em comentários separados publicados neste domingo (19), Stoltenberg e Johnson também reiteraram que os governos ocidentais devem continuar a apoiar a Ucrânia para impedir futuras agressões do presidente russo, Vladimir Putin.

Stoltenberg afirmou ao jornal alemão Bild am Sonntag que ninguém sabe quanto tempo o conflito vai durar, mas “precisamos nos preparar para o fato de que pode levar anos”.

“Não devemos deixar de apoiar a Ucrânia. Mesmo que os custos sejam altos, não apenas pelo apoio militar, mas também pelo aumento dos preços da energia e dos alimentos”.

Boris Johnson, escrevendo no jornal Sunday Times após sua segunda visita a Kiev na última sexta-feira (17), disse que os aliados ocidentais devem “se preparar para uma longa guerra, enquanto Putin recorre a uma campanha de desgaste, tentando esmagar a Ucrânia por pura brutalidade”.

Johnson afirmou que tomar toda região do Donbass da Ucrânia, que cobre grande parte do leste do país, foi o objetivo de Putin nos últimos oito anos “quando ele iniciou uma rebelião separatista e lançou sua primeira invasão”.

Embora a Rússia ainda estivesse aquém desse objetivo, “Putin pode não perceber, mas seu grande projeto imperial para a reconquista total da Ucrânia foi frustrado. Em seu isolamento, ele ainda pode pensar que a conquista total é possível”.

Ambos os homens enfatizaram a necessidade de evitar futuras agressões russas.

Stoltenberg disse que “se Putin aprender como lição desta guerra de que ele pode continuar com ações a guerra da Geórgia em 2008 e a ocupação da Crimeia em 2014, então pagaremos um preço muito mais alto”.

Johnson perguntou o que aconteceria se o presidente Putin fosse livre para manter todas as áreas da Ucrânia agora controladas pelas forças russas. “E se ninguém estivesse disposto a levantar um dedo enquanto ele anexa este território conquistado e seu povo temeroso para uma Rússia maior? Isso traria paz?”.

O primeiro-ministro ressaltou que, por meio de um firme apoio de longo prazo à Ucrânia, “nós e nossos aliados estaremos protegendo nossa própria segurança tanto quanto a da Ucrânia e protegendo o mundo dos sonhos letais de Putin e daqueles que podem tentar copiá-lo”.

Ele escreveu ainda que “o tempo é o fator vital. Tudo dependerá se a Ucrânia pode fortalecer sua capacidade de defender seu solo mais rápido do que a Rússia pode renovar sua capacidade de ataque. Nossa tarefa é conseguir tempo ao lado da Ucrânia”.

“Vantagem estratégica”

No domingo, autoridades ucranianas disseram que combates intensos continuam na cidade de Severodonetsk – o epicentro da sangrenta batalha pela região do Donbass, no leste da Ucrânia – e nas comunidades vizinhas, enquanto as forças russas tentam quebrar a resistência dos defensores ucranianos e capturar partes do leste de Luhansk, região que ainda não controlam.

Serhii Hayday, chefe da administração militar regional, disse que as “batalhas por Severodonetsk continuam” e que a extensa fábrica de produtos químicos Azot, onde cerca de 500 civis estão abrigados, foi bombardeada novamente.

As operações russas parecem projetadas para quebrar as defesas ucranianas ao sul de Lysychansk e Severodonetsk, cortando unidades militares que ainda defendem as duas cidades estrategicamente importantes.

A oeste, na região de Donetsk, também no Donbass, os militares ucranianos relataram mais bombardeios de posições ucranianas perto de Sloviansk. Também houve um ataque de mísseis na área, de acordo com uma atualização operacional do Estado-Maior ucraniano. Mas parece ter havido pouca mudança nas posições da linha de frente.

Stoltenberg estava cautelosamente otimista de que a Ucrânia poderia mudar o rumo da guerra. “Embora a batalha no Donbass esteja sendo travada cada vez mais brutalmente pela Rússia, os soldados ucranianos estão lutando bravamente. Com armas mais modernas, aumenta a probabilidade de que a Ucrânia consiga expulsar as tropas de Putin do Donbass novamente”.

Os militares da Ucrânia estão usando munição da era soviética, que se encaixa em sistemas de armas mais antigos. Enquanto os sistemas de armas ocidentais estão chegando, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou esta semana que eles precisam chegar mais rápido, já que a Rússia acumula uma vantagem significativa de artilharia em torno das duas cidades no leste do país.

Autoridades dos Estados Unidos insistem que as armas ocidentais ainda estão fluindo para as linhas de frente da luta. Mas relatos locais de escassez de armas – e pedidos frustrados de autoridades ucranianas na linha de frente – levantaram questões sobre a eficácia das linhas de suprimentos.

O governo Biden anunciou na quarta-feira (15) que estava fornecendo mais US$ 1 bilhão em ajuda militar à Ucrânia, um pacote que inclui remessas de canhões adicionais, munição e sistemas de defesa costeira.

Já o Reino Unido “planeja trabalhar com nossos amigos para preparar as forças ucranianas para defender seu país, com potencial para treinar até 10.000 soldados a cada 120 dias”, disse Johnson.

Enquanto a Rússia vem obtendo ganhos incrementais no leste da Ucrânia, Johnson enfatizou o desgaste das forças russas nas batalhas difíceis, dizendo que o país precisaria de “anos, talvez décadas, para substituir esse hardware. E hora a hora as forças russas estão gastando equipamentos e munições mais rapidamente do que suas fábricas podem produzi-los”.

No final de maio, autoridades ucranianas disseram que as unidades russas estavam sendo reforçadas por tanques T-62 da era soviética, que pareciam ter sido retirados do armazenamento.

O primeiro-ministro britânico acrescentou que “o Reino Unido e nossos aliados devem responder garantindo que a Ucrânia tenha resistência estratégica para sobreviver e, eventualmente, prevalecer”.

Ele estabeleceu quatro etapas essenciais para apoiar a Ucrânia, que incluem preservar o estado ucraniano, garantir que o país receba “armas, equipamentos, munições e treinamento mais rapidamente do que o invasor e aumentar sua capacidade de usar nossa ajuda” e um “esforço de longo prazo para desenvolver” rotas terrestres alternativas para superar o “estrangulamento da Rússia sobre a economia da Ucrânia, bloqueando suas principais rotas de exportação através do Mar Negro”.

Neste fim de semana, Zelensky visitou as linhas de frente na cidade costeira de Odessa e na cidade de Mykolaiv, no sul, ambas alvos russos em sua tentativa de tomar a costa do Mar Negro.

Johnson acrescentou que o bloqueio russo aos portos do Mar Negro significa que cerca de “25 milhões de toneladas de milho e trigo – todo o consumo anual de todos os países menos desenvolvidos – estão empacados em silos em toda a Ucrânia”.

Na próxima cúpula da Otan em Madri, Stoltenberg afirmou que um novo conceito de estratégia será adotado. “Vamos declarar que a Rússia não é mais um parceiro, mas uma ameaça à nossa segurança, paz e estabilidade”.

Ele disse que “o barulho da ameaça nuclear da Rússia é perigoso e irresponsável. Putin deve saber que uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”.

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