80 anos da criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB)

Este 9 de agosto assinala o transcurso de 80 (oitenta anos) da criação de uma das maiores glórias nacionais, a Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Coronel R1 Carlos Mário de Souza Santos Rosa | eBlog

A despeito da pronta resposta dada pelo Governo de Getúlio Vargas ao afundamento dos navios mercantes brasileiros em agosto de 1942, declarando guerra à Alemanha e à Itália no dia 31 daquele mês,1 a retribuição armada só foi esboçada quase um ano depois.


Além do clamor popular suscitado pelos torpedeamentos, o estabelecimento e o envio de uma Força Expedicionária ao Teatro de Guerra (TG) 2 atendiam dois outros anseios nacionais.

Em primeiro lugar, o desejo de modernização da expressão militar do Poder Nacional, preocupação constante da classe dirigente brasileira, acentuada pelas inúmeras revoltas ocorridas no Império e nos primórdios do período republicano, assim como as seguidas campanhas travadas na região do rio da Prata, ao longo do século XIX.

O boom econômico experimentado pela Argentina a partir de 1880, acompanhado da modernização de suas FFAA fez crescer a atenção sobre o tema.

A despeito de louváveis iniciativas3, somente a partir de 1906, quando o Marechal Hermes da Fonseca assumiu o Ministério da Guerra, ocorreu um esforço dirigido, com o envio de oficiais para estagiarem no Exército Alemão, que voltaram convictos da necessidade de mudanças estruturais4, a contratação da conhecida Missão Militar Francesa, que funcionou de 1920 a 1940 e das menos divulgadas Missão Cartográfica Austríaca, iniciada junto com a anterior e a Missão Militar Norte-Americana, que começou suas atividades no ano de 1934.

A constituição, o preparo e o emprego de um contingente que enviado a um dos Teatros de Operações5 trouxesse consigo, não só o prestígio da participação na conquista da vitória, mas também o know-how da Guerra Moderna, apresentou-se como uma janela de oportunidades a dar ao país uma dianteira sobre toda a América Latina6.

Preconizado já na República Velha pelo Barão do Rio Branco7, o segundo fator foi o fortalecimento da relação com os EUA.

Este ganhara força a partir de 1930, com o aumento das exportações para aquele país, assim como a chegada de Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca em 1933 e a consequente implementação de sua conhecida Política de Boa Vizinhança8.

Antes mesmo dos torpedeamentos, o Brasil já sinalizara seu apoio aos EUA, já em guerra, por ocasião da III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas9, cortando relações com os países do Eixo e assinando os Acordos de Washington.10

Naquele contexto, o envio de uma Força Expedicionária que lutasse ao lado do aliado continental, parecia a natural consolidação da aliança proposta por Rio Branco e foi enfaticamente defendido pelo chanceler brasileiro Oswaldo Aranha com os seguintes argumentos:

“1. uma melhor posição na política mundial; 
2. Uma melhor posição na política com os países vizinhos; 
3. uma mais confiante e íntima solidariedade com os Estados Unidos;
4. uma ascendência cada vez maior sobre Portugal e suas possessões; 
5. criação de um poder marítimo; 
6. criação de um poder aéreo; 
7. criação de um parque industrial para as indústrias pesadas; 
8. criação da indústria bélica; 
9. criação das indústrias agrícolas, extrativas e de minérios leves complementares dos norte‑americanos e necessários à reconstrução mundial; 
10. extensão de suas vias férreas e rodovias para fins econômicos e estratégicos; 
11. exploração de combustíveis essenciais.”

Em face de tudo isso e, após o encontro de Vargas e Roosevelt em Natal(RN), em fevereiro de 1943, a 9 de agosto daquele ano, por meio da Portaria Ministerial nº 47‑44, a Força Expedicionária Brasileira foi criada, tendo sido designado para comandá-la o General João Batista Mascarenhas de Moraes.

Enquadrada no IV Corpo de Exército Norte-Americano, sob o comando do General Willis D. Crittenberger, esse por sua vez subordinado ao V Exército do mesmo país, comandado pelo General Mark W. Clark, a FEB foi constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e pelos Órgãos Não Divisionários (OND).

A 1ª DIE foi organizada dentro dos padrões norte-americanos, sendo constituída de um Estado-Maior, dividido em Especial, Pessoal e Geral, Tropa Especial, composta por Organizações Militares criadas pelo boletim do Exército nº 16 de 23 de agosto de 1943 que deu organização à FEB: 1º Esquadrão de Reconhecimento Motomecanizado; Companhia de Manutenção; Companhia de Intendência; Companhia de Quartel-General da 1ª DIE; Pelotão de Polícia Militar (teve por base elementos da Força Pública de São Paulo); Companhia de Comando; Banda de Música Divisionária; Companhia de Transmissões e Destacamento de Saúde, Infantaria Divisionária (ID), composta por 3 (três) Regimentos de Infantaria, Artilharia Divisionária (AD) constituída de uma bateria de comando, um destacamento de saúde, um grupo de artilharia auto- rebocado de 155mm e 3 grupos de obuses de 105mm, a uma Esquadrilha de Ligação e Observação, da FAB, dotada de 10 aeronaves Piper Club , Batalhão de Engenharia e um Batalhão de Saúde.

Os OND ficaram sob o comando do General Olímpio Falconieri da Cunha, Inspetor Geral do Estado, compostos com a seguinte constituição na Zona de Interior (ZI): a seção de saúde, a agência do Banco do Brasil, a pagadoria fixa, a seção da base brasileira, o depósito de intendência, o depósito de pessoal, o serviço postal e as seções de Justiça.

Imediatamente começou a preparação de tropa para a importante missão que lhe foi atribuída.

A despeito de toda diligência empregada, somente no ano seguinte, mais precisamente, em 30 de junho de 1944, iniciou-se o embarque do 1º Escalão para o Teatro de Operações da Itália, concluído em 2 de julho.

No dia 16 de julho de 1944, os primeiros 5 (cinco) mil homens, tendo à frente o General Mascarenhas de Moraes, desembarcavam em Nápoles, rumo à guerra.

"A cobra iria fumar."

Referencias:

1 Decreto Nº 10.358.

2 É todo o espaço geográfico (terrestre, marítimo e aéreo) que estiver ou que possa vir a ser envolvido nas operações militares de uma guerra. Um Teatro de Guerra pode comportar um ou mais Teatros de Operações

3 A Comissão de Melhoramentos do Exército de 1872, as reformas de 1890, 1898 e 1906 promovida por Benjamin Constant , pelo Marechal João Tomaz de Cantuária e pelo Marechal Hermes da Fonseca podem ser citadas como exemplos.

4 Passaram a História sob o nome de Jovens Turcos.

5 É a parte do TG necessária à condução de operações militares de vulto, nestas incluído o respectivo apoio logístico

6 Com exceção do Brasil, somente o México enviou tropas para a 2ª Guerra, em apoio aos aliados: um esquadrão com 290 integrantes, entre pilotos e pessoal de apoio que lutou integrado a Força Aérea dos EUA no TO do Pacífico.

7 José Maria da Silva Paranhos Júnior, Ministro das Relações Exteriores do Brasil de 1902-1912.

8 A política de Boa Vizinhança constituiu uma linha específica da política externa norte-americana formulada para a América Latina durante o governo Roosevelt. Tratava-se de uma nova proposta de relacionamento com o continente que visava fundamentalmente apagar as marcas da política do Big Stick (porrete) que caracterizara as ações anteriores dos Estados Unidos na região latino-americana.

9 Realizada entre 15 e 28 de janeiro de 1942, no Rio de Janeiro.

10 Diziam respeito basicamente ao fornecimento de certas matérias-primas brasileiras à indústria norte-americana e foram assinados em Washington a 3 de março de 1942.

11 NUNES, Aurimar Jacobino de Barros. O Itamaraty e a Força Expedicionária Brasileira (FEB:) O legado da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial como ativo de política externa. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2020, pag 59.

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