Agência da ONU acusa Israel de torturar e coagir funcionários a falsas confissões

Israel nega acusações; segundo relatório, pessoas seriam coagidas a admitir suposta ligação da agência com Hamas


Jeremy Diamond | CNN

A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) acusou Israel nesta segunda-feira (4) de deter e torturar alguns de seus funcionários, os coagindo a fazer confissões falsas sobre suposta ligação da agência com o Hamas.

Soldados israelenses na Faixa de Gaza 29/01/2024 Forças de Defesa de Israel/Divulgação via REUTERS

“Alguns dos nossos funcionários transmitiram às equipes da UNRWA que foram forçados a [fazer] confissões sob tortura e maus-tratos. Estas falsas confissões foram em resposta ao questionamento sobre as relações entre a UNRWA e o Hamas e o envolvimento no ataque de 7 de outubro contra Israel”, disse a porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, em comunicado.

Israel acusou ao menos 12 funcionários da Agência de Assistência e Obras da ONU de estarem envolvidos nos ataques terroristas de 7 de outubro e alegou que cerca de 12% dos 13 mil funcionários da UNRWA são membros do Hamas ou de outros grupos palestinos.

Autoridades israelenses afirmaram que algumas das informações sobre os 12 funcionários que estariam envolvidos no dia 7 de outubro foram obtidas através de dados de telefones celulares e outras fontes.

A UNRWA afirma ter despedido 10 dos 12 funcionários acusados e que os outros dois estão mortos. A CNN não pôde confirmar as acusações.

Touma ressaltou que confissões falsas obtidas “sob tortura” estavam sendo usadas “para espalhar ainda mais desinformação sobre a Agência como parte das tentativas de desmantelar a UNRWA”, mas não associou essas confissões às alegações contra os 12 funcionários acusados de participar no ataque de 7 de outubro.

Relatório com acusações contra Israel


As acusações fazem parte de um relatório ainda não publicado compilado pela UNRWA, destacando abuso físico e psicológico generalizado de Israel aos palestinos detidos na Faixa de Gaza durante a guerra, incluindo 21 funcionários da UNRWA, alguns dos quais disseram ter sido espancados e ameaçados.

O relatório não divulgado, cuja cópia foi obtida pela CNN, se baseia em grande parte no testemunho de detidos de Gaza em prisões israelenses e em instalações militares que foram libertados de volta a Gaza, na passagem da fronteira de Kerem Shalom, entre meados de dezembro e meados de fevereiro.

Um porta-voz da UNRWA destacou que, quando o relatório vazou, a agência ainda não havia decidido se o divulgaria publicamente.

Os detidos citados no relatório citaram espancamentos, privação de sono, abuso sexual e ameaças de violência sexual contra homens e mulheres detidos pelos militares israelenses.

Algumas dessas pessoas também teriam morrido enquanto estavam sob custódia israelense, às vezes supostamente como resultado dos abusos que sofreram durante a detenção.

A CNN não pôde verificar de forma independente todos os relatos de abusos listados no relatório da UNRWA, mas já documentou alegações semelhantes de abusos cometidos por detidos palestinos.

Os militares israelenses não responderam imediatamente às acusações de tortura e detenção de funcionários da UNRWA, mas afirmaram em comunicado que “os maus-tratos aos detidos durante o seu tempo de detenção ou enquanto sob interrogatório violam os valores das FDI [Forças de Defesa de Israel] e contrariam as ordens das FDI e são, portanto, absolutamente proibidos.”

Também observaram que as investigações sobre as mortes de detidos são investigadas pela polícia militar e estão em andamento.

Israel nega acusações


Os militares israelenses negaram veementemente as alegações de abuso sexual de detidos, chamando de “outra tentativa cínica de criar uma falsa equivalência com o uso sistemático da violação como arma de guerra pelo Hamas”.

Também negou que os detidos sejam privados de sono e disse que têm acesso a cuidados médicos.

A UNRWA estima que ao menos 4 mil habitantes de Gaza foram detidos pelos militares israelenses desde o início da guerra. Até 19 de fevereiro, a agência tinha documentado a detenção de 29 crianças e 80 mulheres, bem como de idosos com doença de Alzheimer e de pessoas com deficiência intelectual.

“A UNRWA recebeu relatos generalizados de detidos libertados sobre maus-tratos em todas as fases da detenção. Segundo indivíduos libertados da detenção, os maus-tratos foram utilizados na tentativa de extrair informações ou confissões, para intimidar e humilhar, e para punir”, diz o relatório da UNRWA, que foi relatado pela primeira vez pelo New York Times.

O relatório também destaca que, em cada uma das libertações monitoradas em Kerem Shalom, “ambulâncias foram obrigadas a transportar imediatamente alguma pessoa devido aos seus ferimentos ou doença”.

Os detidos relataram terem sido presos e interrogados em instalações militares em Israel, por vezes durante semanas, antes de serem transferidos para o sistema prisional israelense.

Ainda de acordo com o relatório da UNRWA, algumas dessas pessoas relataram terem sido despidas, algemadas e mantidas no frio, sem acesso a banho, comida ou água durante mais de 24 horas.

Os detidos entrevistados pela CNN em dezembro também descreveram tratamento semelhante, dizendo que foram detidos durante dias, com pouco acesso a comida ou água.

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