Documento da ONU revela como Israel tenta inviabilizar ajuda em Gaza

Limitação de vistos a funcionários internacionais, desalojamento de suas sedes históricas, contas bloqueadas e até o confisco de mercadorias pela aduana. Essas são algumas das medidas que a ONU acusa Israel de adotar contra a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos, a UNRWA.


Jamil Chade | UOL, em Riad, Arábia Saudita

Um documento enviado pela chefia da agência para o presidente da Assembleia Geral da ONU, Dennis Francis, e obtido pelo UOL revela a dimensão da crise que existe hoje entre o governo de Israel e a entidade internacional.

8.jan.2024 - No Hospital Shuhada al-Aqsa, em Gaza, médicos movem corpo de homem morto durante bombardeio de Israel | Imagem: AFP

Assinada pelo suíço Philippe Lazzarini, chefe da agência no dia 22 de fevereiro, a carta tenta conscientizar as potências e a cúpula da ONU sobre o fato de que haveria uma tentativa deliberada de inviabilizar o socorro humanitário aos palestinos em Gaza. Segundo a Unicef, por exemplo, mais de mil crianças foram alvos de amputações, muitas delas sem anestesia. Os produtos foram barrados na fronteira.

Há um mês, o governo do premiê israelense Benjamin Netanyahu anunciou que havia descoberto que doze dos 13 mil funcionários da agência tinham participado de alguma forma dos ataques de 7 de outubro de 2023, perpetrado pelo Hamas. Imediatamente, doadores suspenderam suas contribuições, ampliando o desespero de 2,2 milhões de palestinos na Faixa de Gaza.

A ONU abriu investigações e demitiu os funcionários acusados. Mas, nesta semana, informou que o governo de Israel ainda não havia apresentado todas as evidências e novas provas de suas acusações. A única informação que a entidade dispõe se refere aos dados apresentados por Israel, há um mês.

O anúncio israelense de que funcionários da ONU teriam sido cúmplices com os ataques terroristas ainda ocorreu no mesmo momento em que a Corte Internacional de Justiça denunciava o governo de Netanyahu e ordenava, em medidas cautelares, que Israel tomasse "todas as medidas necessárias" para evitar um genocídio.

Mas, segundo a carta, a ofensiva de Israel não se limitou a forçar uma interrupção no financiamento.

Essas são algumas das acusações apresentadas pela ONU contra as autoridades de Israel:
  • A Autoridade Fundiária Israelense exigiu que a UNRWA desocupasse seu Centro de Treinamento Vocacional de Kalandia em Jerusalém Oriental, cedido pela Jordânia em 1952), e que pague uma "taxa de uso" de mais de US$ 4,5 milhões.
  • O vice-prefeito de Jerusalém tomou medidas para expulsar a UNRWA de sua sede que ocupava há sete décadas, em Jerusalém Oriental.
  • Os vistos para a maioria dos funcionários internacionais, inclusive os de Gaza, foram limitados a um ou dois meses.
  • O Ministro da Fazenda de Israel declarou que revogará os privilégios de isenção fiscal da UNRWA.
  • As autoridades alfandegárias suspenderam o envio de mercadorias da UNRWA.
  • Um banco israelense bloqueou uma conta da UNRWA.
  • Centenas de funcionários locais da UNRWA não têm acesso a Jerusalém desde outubro para chegar à sede da UNRWA, às escolas e aos centros de saúde.
  • Um projeto de lei foi apresentado no Knesset para excluir a UNRWA dos privilégios e imunidades da ONU.

Ele ainda concluiu a carta com um aviso:

“Temo que estejamos à beira de um desastre monumental com graves implicações para a paz regional, a segurança e os direitos humanos.”

O governo de Israel acredita que deva haver uma mudança radical na presença da ONU e que a UNRWA deva ser fechada. Em seu lugar, uma nova operação deveria ser estabelecida. Mas, para membros de equipes humanitárias, apenas a UNRWA teria a capacidade, competência e capilaridade para chegar aos 2,2 milhões de palestinos.

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