Militares brasileiros apontam ameaças

Tales Faria

BRASÍLIA. "Foi confirmado o conhecimento de que a questão indígena atinge uma gravidade capaz de pôr em risco a segurança nacional. Considerando a atual reivindicação de autonomia e a possibilidade de futura reivindicação de independência de nações indígenas, o quadro geral está cada vez mais preocupante, especialmente na fronteira norte. As organizações não governamentais (ONGs), algumas controladas por governos estrangeiros, adquiriram enorme influência, na maioria das vezes usada em benefício da política de suas nações de origem, em detrimento do Estado brasileiro. Na prática, substituem, nas áreas indígenas, o governo nacional."

O trecho acima faz parte do "Relatório de Situação" elaborado pelo Grupo de Trabalho da Amazônia (GTAM) no primeiro semestre de 2006. Foi distribuído entre integrantes e colaboradores do chamado Sistema Brasileiro de Inteligência, cujo órgão central é a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Na nova versão do relatório, os militares não só reafirmam as suspeitas de que ONGs e entidades religiosas estrangeiras estão tomando a Amazônia, como apontam novos fatos. Alguns assustadores:

"Quanto à presença militar estadunidense na Amazônia, um componente relativamente novo na questão da segurança da região amazônica brasileira é a crescente presença de assessores militares estadunidenses e a venda de equipamentos sofisticados às Forças Armadas colombianas, pretensamente para apoiar os programas de erradicação das drogas, mas que podem ser utilizados no combate às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e ao ELN (Exército de Libertação Nacional). A presença militar estadunidense, que já se estende à Guiana, ao Equador, ao Peru, à Bolívia e, recentemente, ao Paraguai - aproveitando-se do vazio de nossa política externa em relação àquele país - por meio da utilização de bases militares, poderá se expandir a outros países sul-americanos para transformar a luta contra a droga (e contra as Farc e o ELN) em uma empreitada militar sul-americana, e não apenas colombiano-estadunidense. O plano provavelmente faz parte da estratégia dos EUA para assegurar presença militar direta na região andino-amazônica e no cone sul, em torno do Brasil."

A "presença e atuação de estrangeiros" na Amazônia é um dos pontos tratados com destaque pelo GTAM, que levanta suspeitas de espionagem até mesmo na base aérea de Alcântara, no Maranhão. Para quem não lembra: 21 trabalhadores do CTA (Centro Técnico Aeroespacial) de São José dos Campos (SP) morreram na explosão do terceiro protótipo do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélite) na plataforma do Centro de Lançamento de Alcântara, em agosto de 2003. Na visita que fizeram a Alcântara em 2006, os membros do GTAM desconfiaram do excesso de estrangeiros naquela cidadezinha:

"Especial preocupação é o número de estrangeiros nas proximidades da base de lançamentos de Alcântara, no Maranhão. Segundo fontes da polícia do Estado, havia 116 estrangeiros em 15 de maio em Alcântara (MA), dia da visita do GTAM. Não foi possível saber quais as atividades que desenvolviam, tendo em vista que não haveria atividade no Centro de Lançamentos. Os altos índices de exclusão social presentes na cidade de Alcântara deixam a comunidade que ali reside exposta e fragilizada a tentativas de aliciamento e recrutamento por parte de ONGs e agentes a serviço de países que muito teriam a perder com os sucessos dos lançamentos da Base de Alcântara."

Fonte: Jornal do Brasil

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