Os objetivos reais do sistema antimíssil norte-americano na Europa

Marcelo Rech - InfoRel

Recentemente, o novo Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, esteve em Moscou quando propôs um acordo de parceria com a Rússia para a implantação de um sistema antimíssil no Leste europeu.

Gates assegurou que o sistema antimíssil que os Estados Unidos pretendem instalar na Polônia e na República Checa, vão proteger a Europa de ataques vindos do Irã e da Coréia do Norte. Ocorre que esses países ainda estão distantes de domínio da tecnologia nuclear.

As garantias oferecidas por Gates não sensibilizaram os russos, que se preocupam com o fator desestabilizador da proposta. O comandante do Estado-Maior da Rússia, general Yuri Baluyevsky, deixou claro que o seu país poderá atacar partes desse sistema.

Na sua opinião, os objetivos norte-americanos não têm qualquer relação com possíveis ameaças iranianas ou norte-coreanas. Um sistema antimíssil em países que foram satélites dos soviéticos guarda preocupação com o potencial nuclear da Rússia e da China.

Os Estados Unidos usam a Europa para proteger seu território e, de quebra, ampliar seu domínio estratégico. Por isso, o ceticismo quanto à possíveis parcerias.

Ninguém acredita que os Estados Unidos tenham, de fato, a pretensão de compartilhar segredos estratégicos e tecnológicos. Além disso, o sistema antimíssil esconde o desejo norte-americano de aumentar a produção industrial com a ampliação dos seus contratos na área da Defesa.

Para a chanceler alemã, Ângela Merkel, os europeus devem desdobrar-se para garantir a segurança do continente, opondo-se aos interesses e objetivos dos Estados Unidos a partir desse sistema antimíssil, o qual seu país não participará.

A Alemanha está preocupada com os estragos que o sistema poderá provocar na arquitetura européia de desarmamento, que levou décadas para avançar a um nível de confiança mútua e é exemplo para as regiões em conflito.

Por outro lado, não são apenas governos e líderes políticos e militares que estão preocupados. Pesquisa realizada em abril na República Checa mostra que 68% dos entrevistados não querem o sistema antimíssil norte-americano. Em fevereiro deste ano, a rejeição era de 61%.

Para os checos, o sistema vai colocar o país em perigo e os Estados Unidos querem apenas ressuscitar a corrida armamentista dos tempos da Guerra Fria.

Ressalte-se que um dos acordos que pôs fim ao conflito entre Estados Unidos e a ex-União Soviética, e que proibia a construção de sistemas como este, foi abandonado pela Casa Branca em 2002.

Apesar disso, os tratados ainda em vigor não permitem o desenvolvimento de armas dessa natureza, o que justifica a preocupação russa e européia com uma decisão que partiu unilateralmente dos Estados Unidos e que tem gerado muita desconfiança e pessimismo na região.

Marcelo Rech é jornalista, especialista em Relações Internacionais e Estratégias e Políticas de Defesa, e editor do InfoRel.

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