EUA descartam força militar no Cáucaso

Secretário da Defesa adverte, porém, que ações russas podem afetar a relação com Washington durante anos no futuro

Para críticos, Bush ajudou a criar a crise; Rússia alerta Washington que respaldo a Tbilisi pode levar a repetição do "cenário trágico" atual



ANDREW WARD E ROMAN OLEARCHYK
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON E TBILISI

Com forças de seu Exército mobilizadas para o que qualificam de "ajuda humanitária" na Geórgia, os Estados Unidos deixaram claro ontem que não pretendem intervir militarmente no conflito, mas avisaram que a crise pode afetar as relações com a Rússia durante "anos no futuro".

O secretário de Defesa americano, Robert Gates, disse que não vê "nenhuma perspectiva" de usar força militar na Geórgia. Ele afirmou, porém, que as ações da Rússia têm "implicações profundas" e ameaçam esforços recentes para cooperação em segurança e diplomacia.

Os EUA já cancelaram sua participação em dois exercícios navais multinacionais envolvendo a Rússia que tinham sido programados para este mês, e Gates disse que "toda a gama" da cooperação militar com a Rússia será revista.

Autoridades dos EUA também sugeriram a expulsão da Rússia do G8 e o bloqueio de sua entrada na Organização Mundial do Comércio.

Nos últimos dois dias, o governo Bush assumiu um papel mais forte na crise, após as críticas amplas feitas à sua reação moderada na semana passada. Na quarta-feira, o presidente George W. Bush ordenou ao Pentágono que lidere uma missão humanitária "vigorosa" na Geórgia e avisou à Rússia que as forças americanas precisam ter liberdade para entregar suprimentos em todo o país. Dois cargueiros militares com suprimentos já chegaram a Tbilisi.

A Casa Branca insiste em que os EUA estiveram no centro do esforço diplomático desde o início, mas Bush perdeu espaço para o francês Nicolas Sarkozy, que negociou o frágil acordo de paz entre Moscou e Tbilisi na terça, e até para o candidato republicano à sua sucessão, John McCain, cujo discurso pró-Geórgia se intensifica dia a dia.

Críticos acusam Bush de ajudar a criar a crise, ao aliar-se muito estreitamente ao presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, e prestar pouca atenção às posições russas em questões de segurança na região. Washington vem fazendo pressões fortes para colocar a Geórgia na rota de adesão à Otan, a aliança militar ocidental, como parte de seus esforços para incluir ex-Estados soviéticos em sua esfera de influência.

Os EUA ainda ignoraram a oposição feita pela Rússia à declaração de independência da ex-Província sérvia de Kosovo e desafiam Moscou com planos para um escudo antimísseis dos EUA na Polônia e na República Tcheca (leia texto abaixo).

Para os críticos, o apoio aberto de Washington pode ter incentivado Saakashvili a agir contra os separatistas pró-russos na Geórgia e ter dado a falsa impressão de que os EUA o socorreriam em um eventual conflito. Autoridades dos EUA dizem que, reservadamente, o governo desaconselhou Saakashvili a fazer ações militares.

Russos respondem

A Chancelaria russa respondeu às afirmações dos americanos dizendo que o respaldo dos EUA à Geórgia pode levar a uma "repetição do trágico cenário" dos últimos dias.

"É especialmente importante abster-se de qualquer passo que possa ser interpretado pela Geórgia como apoio à revanche", disse o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.

O número dois do Exército russo, general Anatoli Nogovitsin, questionou a "ajuda humanitária" dos EUA. "Vamos perguntar a eles: será que vão convidar a imprensa para verificar se [a carga] é humanitária ou não? O que tem lá na realidade?"

Com Reuters

Tradução de CLARA ALLAIN

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