Defesa e petróleo atraem russos

Acompanhado de empresários e ministros, Dmitri Medvedev se reúne no Rio de Janeiro com autoridades brasileiras. Parceria militar e investimentos no setor de energia são os principais temas em negociação


Pedro Paulo Rezende

A visita do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, ao Rio de Janeiro, abrirá oportunidades de cooperação nas áreas energética, de exploração de petróleo em águas profundas, aeroespacial e nuclear. Ele desembarcou ontem à noite na capital fluminanse acompanhado de empresários que concentram mais de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) de seu país e de três ministros importantes: Sergei Lavrov (Relações Exteriores), Alexey Gordeev (Agricultura) e Sergei Shmatko (Energia). A comitiva deve assinar ainda três acordos que vão estabelecer a parceria militar em sua primeira visita ao Brasil.

De acordo com uma fonte da Secretaria-Geral do Itamaraty, os três acordos abrangeriam a cooperação tecnológica, a proteção à propriedade intelectual e a segurança de informações. Eles complementariam um acordo-quadro de cooperação assinado em 15 de abril pelo ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e pelo secretário interino do Conselho de Segurança da Federação Russa, Valentin Alekseevitch. Moscou considera imprescindível a assinatura desses documentos para estabelecer o desenvolvimento conjunto de equipamentos na área da defesa.

As negociações com a Rússia ocuparam grande parte da agenda de Mangabeira Unger nos últimos seis meses. Ele tem interesse em parcerias nas áreas de foguetes e satélites de sensoriamento remoto e de navegação — os russos ofereceram seu sistema Glonass como opção ao GPS norteamericano.

Outro ponto importante é a assinatura de um acordo de cooperação na área nuclear. O tratado abre a possibilidade de participação brasileira na produção de um reator autoregenerador (fastbreeder), que se alimenta de lixo radiativo.

Apesar de manter avançados contatos com a França no campo da propulsão atômica, a Marinha não descartou a possibilidade de introduzir tecnologia russa em seu futuro submarino nuclear de ataque, que deve ficar pronto em 2020. A Secretaria de Assuntos Estratégicos mantém contatos discretos com a Rosoboronexport, estatal que engloba as exportações militares de Moscou. Medvedev pode, inclusive, visitar o Comando da Marinha.

Existe um prêmio de consolação pela desclassificação do caça Sukhoi 35 do programa F-X2 de renovação da frota de combate da Força Aérea Brasileira (FAB). O avião, um dos mais avançados, foi oferecido ao custo de 50 milhões de euros. Os russos condicionaram a transferência de tecnologia à assinatura dos acordos, o que desagradou a Aeronáutica. O governo brasileiro finalmente assinará o contrato para a compra de 12 helicópteros de ataque Mil Mi35, selecionado em julho.

Exibição de força no Caribe

Dmitri Medvedev segue amanhã do Rio para Caracas, onde ele e o presidente da Venezuela, Hugo Cháves, acompanharão a primeira manobra conjunta entre as marinhas dos dois países. O cruzador de batalha Pedro, o Grande — o maior do mundo em sua categoria, movido a energia nuclear e armado com 284 mísseis — e o destróier anti-submarino Almirante Chabanenko zarparam de Murmansk e percorreram 15 mil milhas náuticas antes de chegarem ao porto de La Guaira. Moscou não flexionava seus músculos na América Latina desde o fim da União Soviética e da Guerra Fria, que determinou o desmonte das bases militares em Cuba.

Caracas se consolidou como o grande mercado para as armas russas na América do Sul. Apenas neste ano, o país adquiriu 10 baterias de mísseis antiaéreos TOR M-1, ao preço de US$ 100 milhões; um número não determinado de mísseis antiaéreos portáteis Igla (lançáveis do ombro) e 10 helicópteros de ataque Mi-28, os mais potentes em operação na região, por um custo estimado em US$ 200 milhões. Além disso, o presidente Chávez assinou a opção para adquirir 40 caças — 24 Sukhoi Su30MKV e 16 Sukhoi Su35BM, que reúne a melhor tecnologia do arsenal de Moscou.

O governo venezuelano abriu-se aos fornecedores russos em 2004, depois que o governo dos Estados Unidos, adversário de Chávez, decretou um embargo. Na primeira compra, em 2004, gastou cerca de US$ 3,4 bilhões. O pacote incluía 24 caças Sukhoi Su-30MK2V (US$ 1,2 bilhões, com armas); 16 baterias de mísseis TOR M-1; 50 helicópteros Mi-35, de ataque; 50 Mi-171 e Mi-26 (os maiores do mundo, com capacidade de 20t), de transporte. Os Su-30MK2V são os mais sofisticados aparelhos da América Latina, com mísseis antinavios com 120km de alcance — o dobro dos Exocet (franceses) usados pela Argentina nas Malvinas. No segundo contrato, assinado no fim do ano passado, foram adquiridos 10 cargueiros russos Ilyushin Il-76 e dois Il-78 (US$ 600 milhões) para reabastecimento em vôo. Para a Marinha, Chávez negocia a aquisição de três submarinos da Classe Kilo que estavam na reserva. Modernizados, custarão US$ 1,2 bilhão. (PPR)

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