FAB corta gastos para manter caças

Comandante da Aeronáutica quer economizar 30%. Nem energia elétrica e celular escapam

Vasconcelo Quadros - BRASÍLIA

A crise chegou às Forças Armadas. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, anunciou ontem um corte de 30% no gastos da Força Aérea Brasileira (FAB) em 2009, a fim de evitar que projetos importantes, como a compra dos 36 caças do Projeto FX-2 e a reforma e ampliação do sistema de controle aéreo, sejam afetados com o contingenciamento previsto pela área econômica do governo. A compra dos caças - um negócio de cerca de US$ 2,2 bilhões - faz parte do Projeto FX-2, o primeiro de uma série de medidas adotadas pelo governo para reestruturar a FAB dentro do novo Plano de Defesa Nacional. Encerrou-se ontem, com a entrega das propostas ao Comando da Aeronáutica, mais uma fase do processo de negociação. Saito disse que em julho o governo deverá definir-se pela empresa que apresentar a melhor proposta e em seguida fecha a negociação com a assinatura do contrato.

A americana Boeing concorre com o F-18 E/F Super Hornet, a francesa Dassault, com o Rafale, e a sueca Saab, com o Gripen NG - todos eles adequados aos padrões técnicos estabelecidos pelo Comando da Aeronáutica. Além do preço, o governo deverá levar em conta as propostas de compensação comercial, industrial e tecnológica (Offset) e de transferência de tecnologia. O brigadeiro Saito sustenta que o projeto é uma decisão de governo e não será afetado. Embora uma negociação desse nível exija o pagamento antecipado de 15% do valor do contrato, se faltar o dinheiro no momento da assinatura, o repasse pode ser feito em 2010, sem prejudicar o cronograma estabelecido. As primeiras aeronaves devem ser entregues em 2014. Os 36 caças fazem parte de um projeto de aquisição que se estenderá até 2025, com a compra de um total de 120 aeronaves e a conclusão de um dos maiores negócios da aviação.

Os cortes que vêm sendo estudados pelo governo devem afetar o custeio. Saito diz que para evitar transtornos, a Aeronáutica se antecipou e passou a cortar onde for possível.

- Será como se faz na economia doméstica - disse o brigadeiro, ao lembrar que nem o consumo com e energia elétrica nem o uso de telefones celulares escaparão.

Ele afirmou, no entanto, que não haverá redução de expediente - como as outras duas Forças, Exército e Marinha, pretendem adotar - e garantiu que serão mantidos integralmente os investimentos de R$ 900 milhões para reforma, ampliação e modernização nos Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) em vários locais do país.

Esses investimentos fazem parte de compromissos assumidos pelo presidente Lula e pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, para afastar o fantasma do apagão aéreo que, em 2007, infernizou a vida de passageiros nos principais aeroportos do país. As medidas devem reforçar o controle e segurança de voos.

Os recursos, segundo Saito, sairão do repasse integral das taxas arrecadadas nos aeroportos este ano. O brigadeiro disse que haverá cortes no orçamento de R$ 1 bilhão previsto para a Aeronáutica e, embora não tenha idéia de valores, sabe que deverá reduzir o custeio.

- Nós estamos nos antecipando. Minha meta de reduzir os gastos em 30% é otimista - afirmou.

O comandante da Aeronáutica acha que há um certo descompasso entre o que diz o presidente Lula - que orientou todos os setores do governo a gastar os recursos garantidos no orçamento - e os ministros da área econômica, que optam pelo contingenciamento.

- Se houver cortes, vai afetar. As pessoas pensam que para fazer um avião voar é só ter combustível. Mas não é assim. Temos gastos com a manutenção e a reposição de peças, que muitas vezes demoram três anos para chegar - afirmou o brigadeiro.

Segundo ele, a adequação dos gastos com o orçamento da União faz parte de um jogo entre os órgãos públicos, envolvendo recursos previstos e os efetivamente liberados. Em 2007, por exemplo, a Aeronáutica gastou cerca de 50% do que estava orçado. - Mas isso não inviabilizará os projetos para 2009 - garantiu.

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