NATO: Unidade de Protecção de Força (UPF) testa capacidades em exercício



Por Pedro Manuel Monteiro

Um avião de transporte tático C-212 Aviocar aterra, em escassas centenas de metros, na pista do aeródromo de Seia. Como pano de fundo, a Serra da Estrela, o ponto mais alto de Portugal. A rampa traseira abre-se e uma equipa de militares armados monta um perímetro de segurança em redor da mesma. Protegida, avança uma equipa médica que se aproxima de um helicóptero Alouette III, transportando um piloto abatido em combate e que, entretanto, aterrara na pista. Numa questão de minutos, o piloto é embarcado e o avião descola. Defesa Net assistiu a este teste às capacidades da Unidade de Protecção de Força (UPF) e dá a conhecer esta pouco conhecida, mas já experiente, unidade da Força Aérea Portuguesa (FAP).

Proteger aeronaves no exterior

A demonstração a que Defesa Net assistiu integra o exercício “Real Thaw”, organizado pelo Comando Operacional da Força Aérea (COFA), e que, durante quatro semanas, envolveu 400 militares portugueses, dinamarqueses e espanhóis em operações de combate no ar, no solo e sobre o mar. Uma oportunidade para a UPF testar as suas capacidades.

A acompanhar os preparativos da demonstração está o Coronel Jorge Gonçalves, responsável pela área de formação desta força. Em declarações a Defesa Net, este oficial superior descreve a missão da força: “quando a Força Aérea destaca aeronaves para o exterior, e é previsível a sua operação em pistas e áreas inseguras onde não beneficiam da protecção de outras forças, a UPF é enviada para garantir a protecção física da aeronave e tripulantes”. Por exemplo, nas operações de apoio logístico, em que um avião de transporte C-130 tenha que aterrar num aeródromo numa zona desprotegida, vulnerável a qualquer ataque, a UPF está lá para dissuadir ameaças e responder a qualquer ameaça. Trata-se de uma força, “idêntica ao que muitas outras forças aéreas possuem”, esclarece o Coronel Jorge Gonçalves, apontando, em seguida, os exemplos de Espanha, França e Bélgica.

Esta unidade, criada há dois anos, resulta da necessidade sentida pela FAP que, cada vez mais, tem destacado aeronaves para missões no exterior. Os destacamentos de C-130H têm sido um dos principais contributos do governo português nestas missões, e levaram já a UPF a participaram em duas missões reais: Chade e Afeganistão. No Afeganistão, o nível de ameaça era elevado, com o C-130H português a operar em cenários extremos, como uma pista que não era mais que a rua principal da povoação afegã e que tornava os tripulantes do avião de transporte táctico num alvo fácil para qualquer atirador furtivo escondido numa das casas a escassos metros daquela pista rudimentar. Uma missão onde tudo correu bem, apesar de situações mais tensas, como “um ataque de morteiros”, conta o oficial da Polícia Aérea.

A UPF conta hoje com um efectivo de 32 militares, comandados por um oficial de patente capitão, e está baseada no Campo de Tiro de Alcochete, no estuário do rio Tejo. Os militares beneficiam da experiência de graduados, entre oficiais e sargentos, provenientes da extinta RESCOM, um pequeno destacamento de militares para missões de resgate em combate (CSAR, Combat Search and Rescue). Os contactos com forças estrangeiras advém da experiência desses graduados mas, também, das recentes missões no estrangeiro.

Normalmente, a unidade opera em equipas de seis homens, comandados por um sargento. O seu armamento é diverso incluindo, por exemplo, várias versões da HK G-36 de calibre 5,56mm, metralhadoras MG3 e MG4, a HK MP5 e a espingarda de precisão MSG90. Em Portugal, a unidade teve já um papel discreto em diversos encontros internacionais, como a Cimeira Europa-África que decorreu durante a Presidência portuguesa da União Europeia. Uma das valências da UPF é a qualificação dos seus atiradores de elite para operarem a partir de helicópteros.

Todos os militares da UPF são recrutados entre elementos da Polícia Aérea, uma força com cerca de 500 a 700 efectivos que garante a protecção das bases aéreas e instalações da FAP, explica o Coronel Jorge Gonçalves. O curso dura cerca de um ano, realizando-se duas a três vezes em cada ano, e inclui áreas como “defesa pessoal, protecção NBQ e armamento ligeiro”, exemplifica. O ano passado, prossegue, o número de candidatos chegou aos 150 militares, embora a exigência da selecção e formação levem a que muitos sejam eliminados ou desistam. Mas “os militares da UPF não são super-homens”, sublinha.

O oficial superior prefere antes descrever a mesma como uma unidade com uma função específica e importante no quadro de missões que Portugal vem levando a cabo. Uma definição que o seu currículo operacional tem confirmado.

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