Iveco vai produzir o novo Urutu

Principal blindado de transporte do Exército do Brasil será apresentado na Laad, a maior feira do setor na AL



Roberto Godoy

O novo Urutu, principal blindado para transporte de tropas do Exército do Brasil, vai mostrar seu perfil em dez dias, durante a Laad, a maior feira da América Latina dedicada ao setor de sistemas aeroespaciais e militares, realizada no Rio. Urutu, no caso, é apenas um apelido. O veículo tem nome e sobrenome: Viatura Blindada de Transporte de Pessoal - Médio sobre Rodas, o VBTP-MR.

O projeto está sendo desenvolvido pela Iveco, empresa do Grupo Fiat, e pelas agências de tecnologia da Força terrestre. O resultado final do acordo prevê um couraçado de 18 toneladas, motor diesel, tração 6x6, anfíbio, com capacidade para receber 11 soldados equipados para combate, mais um motorista e um artilheiro.

DIMENSÕES

As especificações ainda não são definitivas, mas o padrão inicial sinaliza um carro de 6,9 metros de comprimento, 2,7 metros de largura e 2,34 metros de altura. O modelo terá uma torre móvel, de acionamento elétrico, para receber vários tipos de armas, e atingirá a velocidade de 90 quilômetros por hora em estrada (e 9 quilômetro por hora na água). Também será equipado com navegador GPS, sistema ótico de visão noturna e armamento primário, formado por uma metralhadora 7.62 mm (ou .50) na torre e sensor de detecção laser.

Ao todo, serão nove configurações, de uma central de comando a até um poderoso lançamorteiros de 81 milímetros.

As medidas básicas permitirão o embarque em cargueiros C-130 Hércules e KC-390, da Embraer, avião que será adotado pela Aeronáutica.

A Iveco não comenta valores, mas, no anúncio do resultado da concorrência, em setembro de 2007, o Comando do Exército destacou que o preço unitário pretendido deve ficar no teto de US$ 1,8 milhão, cerca de 50% da cotação média internacional.

O primeiro protótipo já está sendo construído na fábrica de Sete Lagoas (MG) e deve ficar pronto em 2010, a tempo de participar da parada de 7 de setembro, em Brasília.

A etapa de testes começa imediatamente após o recebimento. Até 2011, serão entregues outras 16 unidades.Essa pré-série será a última a manter algum tipo de similaridade de desenho com o velho Urutu. O Comando do Exército definirá, então, o tamanho e o prazo do pedido definitivo.

Segundo a Iveco, o índice de nacionalização de componentes e peças chegará a 60% com relativa facilidade, "dada a qualidade dos fornecedores nacionais de componentes e peças".

O SUCESSO

O Urutu EE-11 foi fabricado até meados dos anos 80 pela extinta Engesa. É o maior sucesso de vendas da indústria nacional de blindados, que era uma das cinco maiores do mundo em 1985.

Aperfeiçoado a partir da experiência da tropa brasileira que atua no Haiti, o futuro modelo terá sistema eletrônico central de controle remoto de armas, a possibilidade de incorporar diversos tipos de acessórios externos, como escudos específicos e torretas, além de pneus resistentes a projéteis de alto impacto.

Até 2005, o programa era conhecido como Urutu-3, uma iniciativa de custo relativamente baixo, que pretendia apenas modernizar os remanescentes da frota de 223 unidades comprada pelo Exército.

Se não houver alterações orçamentárias, os recursos para o projeto VBTP-MR vão sair de uma dotação especial de R$ 7 bilhões, anunciada em 2007 e destinada a investimentos nos programas de modernização. Correndo tudo bem, a cada ano, até 2013/2014, a Força terá R$ 1 bilhão para aplicar em diversos projetos.

O couraçado, reconfigurado, está sendo largamente empregado no Haiti e não apenas pelos 1,2 mil homens da tropa brasileira envolvida na missão de Paz da ONU. O temido grupamento jordaniano, responsável por algumas das mais violentas operações cumpridas pelo contingente multinacional, emprega o modelo. O batalhão da Jordânia, um dos antigos clientes da Engesa, despachou para lá um esquadrão Urutu, dois dos quais no arranjo de socorro médico de campanha.

Diariamente, relata um oficial do setor de operações, patrulhas armadas do Brasil percorrem as áreas de maior tensão na capital do Haiti, Porto Príncipe. Os veículos, cerca de 20, passaram por modificações. Ganharam, por exemplo, uma pá dianteira de aço, do tipo buldôzer, para remover as barreiras de entulho com as quais os rebeldes bloqueiam o trânsito nas vielas de Cité Soleil e Belair, os bairros de alto risco da cidade. Por causa da aparência, o Urutu é recebido aos gritos - de alerta ou de saudação - de "la voiture moustache!" (o carro de bigodes).

O PROBLEMA

O Comando do Exército tem outro problema a resolver no segmento: o destino de aproximadamente 500 robustos blindados, de tração por lagartas, do tipo M-113B, que equipam as unidades de infantaria.

Foram produzidos 80 mil veículos, utilizados pelas forças armadas de 37 países. Por meio da Casa Mayrink Veiga, intermediadora de negócios na área de equipamentos de defesa, chegaram ao Brasil 584 unidades, a partir de 1965. Quase todas foram modernizadas no grupo industrial Motopeças há cerca de 20 anos. Em fevereiro de 2008 foi anunciada a decisão de revitalizar amplamente o grupo restante - troca das lagartas, reforço na frágil blindagem de alumínio, novos motor e transmissão.

Todavia, passado um ano, o processo, sem recursos e atingido pelo corte no orçamento, foi cancelado em janeiro.

NÚMEROS

888 blindados Urutus EE-11 foram produzidos pela extinta Engesa e vendidos a US$ 400 mil cada um

223 unidades foram compradas pelo Exército brasileiro entre 1972 e 1989

665 foram exportados para 15 países: Angola, Bolívia, Chile, Colômbia, Dubai, Equador, Gabão, Iraque, Jordânia, Líbia, Paraguai, Suriname, Tunísia, Venezuela e Zimbábue

4 Urutus do Iraque acabaram perdidos para tropas do Irã, em 1981, no batismo de fogo do blindado

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem