Guerra Fria iminente pelo controle do Oceano Ártico

Atividades militares na região petrolífera se intensificam

Alister Doyle – JB Online

Os países do Ártico estão prometendo evitar uma nova Guerra Fria por causa das mudanças climáticas, mas atividades militares se intensificam numa região polar onde um degelo pode permitir exploração de petróleo e gás ou novas rotas marítimas.

Os seis países ao redor do Oceano Ártico prometem cooperar em questões como fiscalizar novos possíveis locais para pesca ou rotas marítimas numa área muito remota, fria e sombria para despertar interesse durante toda a História.

O aquecimento global está gerando, contudo, divergências há muito tempo irrelevantes, como a disputa entre Rússia e Dinamarca em relação a quem detém o fundo do mar sob o Pólo Norte ou até aonde o Canadá controla a Passagem Noroeste que os EUA chamam de um canal internacional.

– Será um novo oceano numa área estratégica crítica – diz Lee Willett, diretor do Programa de Estudos Marinhos Instituto Real de Serviços Unidos para Estudos de Defesa e Segurança em Londres, prevendo ampla competição na área ártica. – A principal forma de projetar influência e salvaguardar interesses lá será por meio do uso de forças navais.

Forças por terra teriam pouco a defender ao redor de linhas costeiras remotas embaixo de centenas de quilômetros de tundra. Muitos especialistas em clima agora dizem que o Oceano Ártico poderia ficar livre do gelo até 2050 no verão, talvez até antes, depois de o gelo chegar a um nível baixo recorde em setembro de 2007 devido ao aquecimento que, segundo o Painel do Clima da ONU, é culpa da queima de combustíveis fósseis pelos humanos.

Nanook

Previsões anteriores diziam que a região ficaria livre de gelo nos verões até o fim do século. Um documento do Kremlin sobre segurança no meio de maio disse que a Rússia deve enfrentar guerras em suas fronteiras num futuro próximo por causa de controle dos recursos energéticos – do Oriente Médio até o Ártico.

A Rússia, que está se reafirmando depois do colapso da União Soviética, enviou um submarino nuclear em 2008 pelo Ártico sob o gelo para o Pacífico. A nova classe de submarinos russos é chamada de Borei – "Vento Ártico".

O Canadá promove um exercício militar, Nanook, todo ano para reforçar a soberania sobre seus territórios do norte. A Rússia enfrenta cinco membros da Otan – EUA, Canadá, Noruega, Islândia e Dinamarca via Groenlândia - no Ártico.

Atalho

Em fevereiro, o primeiro ministro canadense Stephen Harper criticou as ações "cada vez mais agressivas" da Rússia depois de uma avião de bombardeiro ter voado perto do Canadá antes de uma visita do presidente Barack Obama.

E no ano passado o governo da Noruega decidiu comprar 48 jatos Lockheed Martin F-35 a um custo de 18 bilhões de coroas (US$ 2,81 bilhões). Muito deve estar em jogo. A pesquisa geológica americana estimou, ano passado, que o Ártico tem petróleo, ainda não descoberto, suficiente para gerar 90 bilhões de barris – o que atenderia a demanda mundial por três anos.

E as rotas marítimas do Ártico poderiam ser atalhos entre o Pacífico e o Atlântico no verão mesmo que incertezas em relação a fatores como icebergs, custos de seguro ou uma necessidade de navios mais resistentes pudessem afastar muitas empresas. Outros especialistas dizem que os países podem facilmente ter um bom relacionamento no Norte.

– O Ártico atrairia interesse em 50 ou 100 anos, não agora – explica Lars Kullerud, presidente da Universidade do Ártico. – É um exagero falar em Guerra Fria.

Ele diz que uma área disputada pela Rússia e a Dinamarca no Pólo Norte não é maior do que a área cinzenta no Mar de Barents.

Governos negam tensões mas submarinos devem ser feitos

Apesar dos indícios de maior militarização da área, os governos dizem que o degelo não é um prenúncio de tensões.

- Vamos buscar estratégias cooperativas - disse à Reuters o secretário de Estado substituto americano Jim Steinberg durante uma reunião de ministros estrangeiros do
Conselho do Ártico em Tromsoe, Noruega.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov disse que o país não planeja aumentar as forças armadas do país no Ártico e destacou a cooperação.

- Qualquer um pode fazer previsões dizendo que quando há recursos e a necessidade por recursos haverá conflito e disputas - disse o ministro de Relações Exteriores norueguês Jonas Stoere. - Não precisa ser dessa forma.

Niklas Granholm da Agência de Pesquisa de Defesa sueca concorda que falar em Guerra Fria é um exagero, mas disse que tudo leva a crer que a militarização do Ártico vai aumentar.

Isso vai gerar medidas voltadas para a segurança. Muitas medidas devem ser inofensivas - garantir a segurança das embarcações, ou o emprego de engrenagem em caso de derramamento de óleo como o acidente com o petroleiro Exxon Valdez em 1989 no Alasca.

Submarinos

Possibilidades mais amplas incluem uma possível corrida entre a Rússia e os Estados Unidos pela produção de submarinos nucleares mais silenciosos.

Os submarinos, que podem lançar mísseis nucleares de longo alcance, por muito tempo tiveram refúgio sob o gelo do Ártico onde ondas constantes e quebras de gelos mascaravam o barulho do motor.

- Isso deve levar a uma nova geração de submarinos ultra-silenciosos ou outras novas tecnologias - diz Granholm.

A Passagem Noroeste passando pelo Canadá reduz a distância entre a Europa e extremo oriente de 12.600 milhas náuticas para 7.900 via Canal do Panamá. Economias semelhantes podem ser feitas numa rota ao norte da Rússia.

Um prazo da ONU para estados costeiros submeterem reivindicações sobre a região passou no dia 13 de maio e em 2007 a Rússia fincou uma bandeira no fundo do mar a quatro mil metros sob o Pólo para apoiar sua reivindicação.

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