China exibe poderio militar na festa de 60 anos de revolução

Governo tenta enterrar trauma interno de passado em que país sofreu derrotas em conflitos com Reino Unido e Japão

Mísseis intercontinentais com capacidade de abrigar ogivas nucleares estavam entre peças a serem exibidas em um desfile em Pequim

LUÍS FERRARI - ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

RAUL JUSTE LORES - DE PEQUIM - FOLHA DE S.PAULO

Exatamente uma semana depois de o presidente da China, Hu Jintao, ter defendido perante seus pares no Conselho de Segurança da ONU "drásticos e substantivos" cortes nos seus arsenais nucleares, Pequim assistiria, na manhã de hoje (noite de ontem no Brasil) a uma parada militar em homenagem aos 60 anos da Revolução Comunista. No evento, estava prevista a exibição de 108 mísseis - alguns deles nunca expostos publicamente -, incluindo armamentos de alcance intercontinental capazes de transportar ogivas nucleares.

Em comunicado no domingo, Yu Jixun, vice-comandante-chefe do escritório incumbido de organizar a parada militar, detalhou alguns dos armamentos que apareceriam no desfile. Ele declarou que os mísseis intercontinentais com capacidade nuclear são destacados símbolos da capacidade defensiva da China.

Autoridades têm insistido em que a exibição das armas não tem o intuito de intimidar outros países, mas que visa celebrar o desenvolvimento da capacidade militar do país -"os êxitos de defesa que obtivemos com nossos próprios esforços em 60 anos", conforme definiu à Folha Qin Gang, porta-voz da Chancelaria.

Li Jinzhang, 1 dos 4 vice-chanceleres da China, reiterou o discurso de Hu contra a proliferação nuclear. "Em um contexto histórico muito especial, a China fabricou armas nucleares. Mas nossa política é clara.

De todos os países que as possuem, fomos o primeiro a declarar que não usaremos sem que sejamos atacados primeiro e que nos comprometamos a não usá-las contra países que não as possuem", frisou.

A despeito de a parada poder, no plano internacional, reforçar temores que rondam a ascensão chinesa, para o consumo doméstico, ela cura um dos maiores traumas do país: o da fragmentação chinesa causada por fraqueza militar.

Portais da internet dedicados ao Exército de Libertação do Povo dizem que a parada simboliza a determinação para proteger os interesses da China, "cuidar de nossas fronteiras, reprimir os separatistas e garantir o respeito à pátria".

Todos os livros escolares de história enfatizam o chamado "século de humilhação" que a China sofreu a partir da primeira Guerra do Ópio (1839-1842) até a chegada dos comunistas ao poder (1949).

A narrativa oficial é que a China foi invadida e saqueada por potências estrangeiras por ser pacífica e não contar com um forte Exército.

Naquele século, a China perdeu Hong Kong para os britânicos e viu Xangai, Nanquim e Chongqing serem desmembradas em "concessões estrangeiras", onde os vencedores podiam instalar seus negócios.

Mesmo após investir mais em defesa, a China foi humilhada pelo Japão em 1895 e perdeu Taiwan e quatro portos. Ao exibir centenas de tanques e mísseis, o Partido Comunista mostra aos chineses que o problema de um Exército defasado ficou para trás.

O jornalista LUIS FERRARI viajou a convite do governo chinês

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