Pequim apresenta poder antiquado

Financial Times
Geoff Dyer e Jamil Anderlini, em Pequim
 
A China montou uma demonstração impressionante, apesar de antiquada, de poder estatal ontem, combinando centenas de milhares de participantes e maquinário chinês, tudo embrulhado em uma boa dose de propaganda.
 
A parada para celebrar o 60º aniversário da República Popular da China repetiu a execução sem falhas da cerimônia de abertura das Olimpíadas do ano passado. Mas enquanto o evento esportivo forneceu um vislumbre de uma China modernizadora, esta demonstração foi uma volta às ortodoxias comunistas antigas. "Apenas o socialismo pode salvar a China e apenas a reforma e a abertura podem garantir o desenvolvimento da China, do socialismo e do marxismo", disse o presidente Hu Jintao, que trocou seus ternos executivos pela túnica cinza de abotoar de Mao Tsetung.

As celebrações começaram com uma parada militar dos soldados que demonstraram 52 novos sistemas de armas, inclusive o que a agência estatal de notícias chamou de "trunfo: um míssil balístico anti-navios. Os caças chineses sobrevoaram Pequim em céus azuis livres dos nevoeiros dos dois dias anteriores.

As forças armadas foram seguidas por uma procissão civil com 180.000 participantes, agrupados em carros que representavam as províncias do país, suas indústrias importantes e os principais conceitos, como a "democracia socialista".

Hu, cercado de oito membros do Politburo e do ex-presidente Jiang Zemin, assistiu a parada do portão da Cidade Proibida, lar dos antigos imperadores da China. Em curto discurso, ele disse que o Partido Comunista estava "compreendendo o rejuvenescimento da nação chinesa".
 
O fato de a parada ocorrer foi um testamento tanto à estabilidade política relativa atual da China quanto à firmeza de poder de Hu. Esses eventos ocorriam todos os anos na primeira década da República Popular da China, mas, desde então, só houve dois -um pequeno evento em 1984 e um grande há 10 anos.

Wang Zhu, 10, com lágrimas nos olhos, refletiu a intensidade dos preparativos. "Meu colega de sala disse que eu fiz um pequeno erro que quase causou um grande erro", disse ele. "Não fiz nada de errado. Mantive meu braço reto o tempo todo. É tamanha honra fazer parte da celebração, como eu poderia ter errado?"

A procissão civil teve um cheiro dos "jogos em massa" da Coreia do Norte, um lembrete da capacidade dos países de exibirem rotinas com milhares de participantes.

Na cerimônia de abertura das Olimpíadas no ano passado, Zhang Yimou, diretor de cinema, foi capaz de injetar estilo e imaginação nesta tradição -uma espécie de autoritarismo criativo de alta tecnologia. Por outro lado, a parada de ontem representou uma volta ao slogan comunista e ao kitsch.

Muitos dos carros pareciam relíquias dos anos 50, com lemas como "o socialismo é grande". O carro de Xinjiang -a província noroeste que sofreu com conflitos étnicos neste verão- levava um tapete voador levando um enorme complexo petroquímico.

O espetáculo ao vivo foi apenas para o público VIP. Cidadãos ordinários tinham que ver pela televisão.

"Lembro-me das paradas nos anos 50", disse Gao Tong, 64. "Eles usavam cavalos e tratores para puxar armas enormes. Agora você vê todos esses tanques, mísseis e aviões. Que mudança!"

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