Aeronáutica defende compra de caça sueco

FAB lista como última opção aquisição de aeronave francesa, preferida do presidente Lula e do ministro Jobim

Leila Suwwan - O Globo

BRASÍLIA. A Força Aérea Brasileira (FAB) concluiu seu relatório técnico sobre a concorrência para a aquisição de caças e defendeu a compra do modelo sueco Gripen NG, da Saab — em detrimento da "opção política" do governo federal pelo Rafale francês. Para a FAB, o avião é o ideal para a realidade brasileira.

Pesaram o menor custo e a garantia de participação da indústria nacional no processo de desenvolvimento tecnológico.

O vazamento da decisão aumenta a pressão sobre o ministro da Defesa, Nelson Jobim, um dos defensores do avião francês. Caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva dar a palavra final sobre a compra em ano eleitoral.

Relatório cita caça dos EUA como segunda opção O relatório técnico da FAB ainda não foi apresentado oficialmente, mas sua conclusão foi antecipada pelo jornal "Folha de S.Paulo" e confirmada por fontes do setor. Ao contrário do que foi preconizado pelo Ministério da Defesa, a FAB não modificou o processo de concorrência e elaborou um ranking, que deixou o Rafale em terceiro lugar — atrás do Gripen e do F18 (Superhornet) da Boeing.

Durante as celebrações do 7 de Setembro ano passado, ao lado do presidente francês Nicolas Sarkozy, Lula anunciou que compraria os Rafales da francesa Dassault.

Desde então, a FAB silenciou e tentou negociar a questão extraoficialmente com Jobim. A divulgação da conclusão da Aeronáutica, contrária ao que o governo defendia, aconteceu duas semanas após a crise em que os militares manifestaram descontentamento com a decisão do governo de enviar ao Congresso projeto que prevê a criação de uma comissão para investigar a prática de tortura durante a ditadura.

No quesito preço, o Gripen NG abriu grande margem de vantagem por ser uma aeronave mais leve, com apenas um motor.

Além de custar metade de um Rafale, seu custo operacional é calculado em US$ 4 mil/hora de voo, comparado com cerca de US$ 14 mil do concorrente.

Na FAB, historicamente assolada por cortes orçamentários, pesou esse fator. A compra dos 36 caças é estimada em cerca de US$ 5 bilhões, com 20% de pagamento à vista.

A comissão da Aeronáutica priorizou a proposta de desenvolvimento conjunto da integração de sistemas e componentes de fornecedores, mais vantajosa para a indústria nacional do que a transferência de tecnologia de um produto pronto. No caso do Rafale, a fabricação é fortemente verticalizada, restando às empresas brasileiras pouca margem para desenvolver tecnologia.

Decisão pode ficar para depois das eleições A Saab ofereceu à Embraer 40% de participação nos projetos de desenvolvimento de sistemas do Gripen NG, além de uma espécie de joint-venture no marketing nas próximas concorrências internacionais.

Além disso, ainda que o Brasil opte por outro avião, a empresa Akaer, de São José dos Campos (SP), foi contratada para projetar e fornecer partes da fuselagem do novo caça.
 
Sem descartar a possibilidade de que a decisão fique para depois das eleições, como ocorreu no fim da gestão Fernando Henrique Cardoso, o Planalto deve escolher entre manter a decisão pró-França ou acompanhar a escolha da FAB, com uma compensação diplomática à França. As assessorias da Defesa e Aeronáutica informaram que Jobim e o comandante Juniti Saito estão de férias.

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