Amorim rejeita arma atômica para o Brasil

Chanceler diz que bomba tornaria o país "mais inseguro" e cobra que Irã seja "flexível" nas negociações

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO - Folha de SP

O chanceler Celso Amorim disse ontem que é contra o Brasil produzir armas atômicas, porque isso "tornaria o país mais inseguro e alvo de outras potências nucleares". Ele falou sobre o tema em aula inaugural da Coppe (Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), da UFRJ.

Indagado se o Brasil poderia "ser uma potência mundial do século 21" sem ter a bomba, o chanceler disse acreditar que sim, mas que seria preciso acabar com a "simetria indevida" que faz com que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) sejam também as potências nucleares reconhecidas pelo TNP (Tratado de Não Proliferação).

"Talvez o caminho mais claro para demonstrar que o exercício do poder não está ligado à posse de arma atômica passe pela reforma do conselho. Essa incidência dupla é fonte de desequilíbrio e de deslegitimação das decisões do CS. Se Brasil, África do Sul ou Japão e Alemanha entrarem, eles não têm armas nucleares." Amorim disse que o Brasil insistirá em metas de desarmamento na conferência de revisão do TNP, em maio.

Na semana passada, a China indicou que está disposta a discutir uma quarta rodada de sanções contra o programa nuclear do Irã, em troca da distensão de crises com os EUA - o Tesouro americano adiou no fim de semana a publicação de relatório em que acusaria Pequim de manipular sua moeda para manter a competitividade de suas exportações.

Questionado sobre essa aparente barganha chinesa, Amorim disse que não tem "nenhuma barganha a fazer" no caso. Ele voltou a pedir que o Irã seja "flexível", mas disse que o Brasil - que ocupa uma cadeira não permanente no CS - ainda não decidiu como vai votar. "É preciso que [os iranianos] demonstrem alguma flexibilidade. Mas, se você coloca no seu espírito que a única solução são sanções, então é uma profecia autocumprida, como aconteceu no Iraque." 

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