Brasil – EUA: a cooperação incomoda

Marcelo Rech - InfoRel

A cada 15 dias pelo menos, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirma em algum evento que vai entregar "na próxima semana" o relatório final sobre a escolha do caça que vai integrar a frota da Força Aérea Brasileira (FAB).

E que o presidente da República reunirá o Conselho de Defesa Nacional para bater o martelo.
 
Uma celeuma que parece não ter fim.

Às vezes o governo dá a entender que o negócio com a França está fechado. Outras, que os concorrentes têm chances.

Há momentos em que sinaliza com o encerramento da licitação sem definição alguma, copiando o governo tucano.

Na prática, esse negócio de uns US$ 4 bilhões tem sido costurado sem transparência alguma, sugerindo que interesses outros sejam determinantes para que o anúncio seja feito de uma vez por todas.

Ou não.

Depois de se distanciar dos Estados Unidos, de reclamar de sua presença militar na América do Sul e de confrontá-lo com um apoio incondicional ao Irã e a Cuba, o governo assina um pacto estratégico justamente neste campo.

Os Estados Unidos não terão bases à sua disposição, seus militares não gozaram de imunidades e eles não estarão permanentemente por aqui.

Ainda assim, trata-se de uma aliança que irrita a vizinhança, principalmente aqueles que não viram nada demais a Colômbia ampliar seus entendimentos com o Pentágono.

Aceitaram endossar as queixas de Brasília e agora se sentem enganados.

Isso sem contar Bolívia, Equador e Venezuela, que sustentavam seus discursos anti-Império tendo a postura brasileira como pano de fundo.

Se a Colômbia não podia o que faz pensar o ministério da Defesa que o Brasil pode?

Essa é uma das perguntas que Nelson Jobim terá de responder no dia 6 em Quito quando seus homólogos se sentarem na mesma mesa para discutir o assunto.

A exemplo da licitação dos caças, o tema foi muito mal conduzido.

Cheira a oportunismo, coisa de quem se acha melhor que os outros.

Enquanto diziam uma coisa em público, faziam outra em privado.

O acordo assinado em Washington constitui um poderoso instrumento jurídico que permitirá aos dois países detalhar como, quando e em que condições, a cooperação avançará.

Pesquisa e desenvolvimento, intercâmbio de informação militar, projetos e programas tecnológicos e comércio, na área de defesa não é o mesmo que em turismo ou esportes.

Para os Estados Unidos, esse documento é fundamental. Atende aos seus interesses estratégicos na região, mesmo que o Brasil insista em diminuir sua importância.

Se não tem relevância, por que assiná-lo?

O ministro da Defesa foi taxativo ao reconhecer que agora o Brasil está no jogo para vencer (a licitação da Força Aérea norte-americana) um negócio que pode chegar a 200 aeronaves Super Tucano.

Resta saber se o F-18 Super Hornet, fabricado pela norte-americana Boeing, também ressurge das cinzas no arrastado FX2.

Não fosse o lobby instalado no Congresso Nacional pelas empresas na disputa, seria um bom tema a ser investigado.

Marcelo Rech é jornalista, editor do InfoRel e especialista em Relações Internacionais, Estratégias e Políticas de Defesa e Terrorismo e contra-insurgência.

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