Missões femininas de paz crescem na ONU

Por DOREEN CARVAJAL - The New York Times

MONRÓVIA, Libéria - Quando a escuridão chega a Congo Town, as mulheres de uniformes engomados vão para as ruas e patrulham com fuzis Kalashnikov.

A ríspida sargento no comando, Monia Gusain, as chama corriqueiramente de "meus homens".

Mas as duras mulheres indianas que a encaram são, na verdade, esposas e mães que ganham a vida fazendo a paz nas ruas de terra esburacadas da Libéria.

As mulheres - parte de uma unidade especial feminina da Índia na polícia da ONU - levam vidas duplas: à noite, combatem o crime nas ruas e montam guarda diante do quartel-general da presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf. Quando estão fora de serviço, suas casas são os quartéis, onde contam histórias de ninar para seus bebês através de videoconferências.

Juntas elas formam uma fina linha cor-de-rosa de uma campanha de recrutamento das Nações Unidas para o século 21. A ONU está intensificando esforços para recrutar mulheres para missões de paz que tentam consertar o que a guerra destruiu.

A teoria é que as mulheres empregam habilidades sociais diferentes em um território machista.
 
Estão contando com elas para levar calma às ruas e aos quartéis, agindo como funcionárias públicas, e não invasoras.

"Quando há mulheres soldados presentes, a situação fica mais parecida com a vida real, e, em consequência, os homens tendem a se comportar", disse Gerard J. DeGroot, professor de história na Universidade de St. Andrews, Escócia, e autor de livros sobre mulheres militares. "Qualquer conflito em que você tem um exército exclusivamente masculino é como um feriado da realidade. Se você injeta mulheres na situação, elas tendem a ter um efeito civilizatório."

Enquanto a manutenção da paz hoje em dia evoluiu para a construção de nações, o número de policiais femininas nas missões de paz da ONU em todo o mundo duplicou nos últimos cinco anos, para 833, ou mais de 6% da força de 12.867. A Nigéria e a Índia são os países que mais contribuem para um total que ainda está muito abaixo da meta internacional, de 20%.

A Libéria - país da África Ocidental criado em 1847 para assentar escravos americanos libertos - é um laboratório para a ascensão das mulheres que fazem a paz. As soldados marcham em patrulhas a pé; uma mulher, Ellen Margrethe Loj, da Dinamarca, dirige a missão da ONU; e a presidente da Libéria, Sirleaf, eleita em 2005, é a primeira mulher a chefiar um Estado africano.

Sirleaf -cujo apelido é "Dama de Ferro"- é particularmente franca sobre o papel das mulheres na recuperação de seu frágil país, que sofreu 14 anos de uma guerra civil que deixou cerca de 200 mil mortos e sobreviventes perseguidos com torturas, estupros sistemáticos e a exploração de meninos soldados viciados em drogas.

"O que uma mulher traz à tarefa é uma sensibilidade extra, mais carinho", disse Sirleaf. "Acho que essas são as características que vêm de ser mãe, cuidar de uma família, preocupar-se com as crianças, administrar a casa."

A abordagem mais branda é crítica na Libéria. Em 2004, um relatório da ONU criticou as forças de paz no país, na República Democrática do Congo e no Haiti devido ao abuso sexual de garotas em troca de dinheiro e comida. Em 2005, 47 membros da força de paz foram acusados de abuso sexual na Libéria, comparados com 18 no ano passado, segundo a missão da ONU. Autoridades da entidade atribuem à chegada das mulheres a melhora no comportamento.

As mulheres nigerianas -que são 59 dos 1.159 oficiais, ou 5%- detêm principalmente funções tradicionais, incluindo o trabalho como cozinheiras, enfermeiras, intendentes, oficiais de polícia, professoras e trabalhadoras com refugiados, disse o coronel Joseph Ogbonna, que afirma que as mulheres são mais disciplinadas.

A recompensa é a aventura, a recompensa financeira e a possibilidade de ajudar um país fraco.
 
"Vim para fazer a paz neste país", disse Olayiwola Olanike, 50, uma sargento, enfermeira e mãe de duas crianças que chegou cinco meses atrás e cuida de pacientes liberianas em uma clínica gratuita.
 
Desde o início de 2007, mulheres indianas montam guarda diante do gabinete da presidente na rua principal de Monróvia. A maioria das indianas deixou seu país pela primeira vez quando entrou para a missão da ONU na Libéria. Seu inglês é muitas vezes fraco, mas seus comandantes dizem que já estabeleceram uma relação.
 
Na rua, as mulheres indianas são vistas como sóbrias e intimidativas, mas a maior ameaça nos quartéis é a saudade de casa e a depressão. "Precisamos nos aprofundar no estudo do impacto que isso tem e que aspecto é realmente uma boa prática", disse Carole Doucet, principal assessora de gêneros para a missão da ONU na Libéria.
"Precisamos ter cuidado ao dizer que é fantástico. Precisamos saber por quê."

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