Rússia envia militares ao Quirguistão

Objetivo é reforçar segurança em base aérea russa após conflitos étnicos que já deixaram ao menos 113 mortos

Violência, que começou em Och entre uzbeques e quirguizes, é a pior registrada no país em mais de duas décadas

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS - Folha de SP

A violência étnica no sul do Quirguistão aumentou ontem, com a Rússia enviando paraquedistas para proteger suas instalações militares, e o governo ordenando ao Exército que atire para matar, em um esforço para acabar com os tumultos.

A ação de Moscou seguiu-se à negativa, na véspera, do presidente russo, Dimitri Medvedev, de enviar uma força de paz ao país.

Autoridades quirguizes disseram que ao menos 113 pessoas foram mortas e 1.200 ficaram feridas desde que a violência começou na cidade de Och, na quinta-feira.

Os confrontos, os piores no país da Ásia central em mais de duas décadas, ocorreram principalmente entre membros das etnias uzbeque e quirguiz.

REFUGIADOS

A imprensa russa informou que 75 mil refugiados uzbeques fugiram pela fronteira com o Uzbequistão em busca de proteção.

O temor de que o país possa seguir o exemplo do vizinho Afeganistão e mergulhar em um caos sangrento aflige a região centro-asiática, onde Rússia, China e EUA têm interesses.

O sul do Quirguistão, etnicamente misto, com uma minoria uzbeque e uma maioria quirguiz, tem sido o ponto de partida para desordens na nação desde o golpe de Estado, em abril, que derrubou do poder o então presidente Kurmanbek Bakiev.

Autoridades acusam seguidores de Bakiev -que tem sua base política justamente no sul do paísde dar início aos tumultos para enfraquecer o governo interino.

Ontem, ele classificou a acusação de uma "mentira desonrosa", e disse que o "Quirguistão está em perigo de perder sua soberania".

A presidente interina, Roza Otunbaieva, disse anteontem: "Precisamos de outra força armada para controlar a situação. Nesse contexto, nos viramos para a Rússia".

Em resposta, a porta-voz do Kremlin, Natalia Timakova, afirmou que trata-se de um conflito interno, e que "a Rússia não vê condições de participar da estabilização [enviando tropas]".

No fim de semana, um avião enviado pela Rússia com ajuda humanitária chegou ao Quirguistão.

E ontem o governo russo decidiu enviar 150 paraquedistas para reforçar a proteção das instalações e do pessoal militar -cerca de 500 soldados- que mantém em Kant, norte do país.

Cerca de 200 uzbeques protestaram em frente à sede do governo russo, em favor de uma intervenção.

Os EUA disseram que apoiam os "esforços coordenados das Nações Unidas e da Organização para Segurança e Cooperação da Europa para facilitar a paz e a ordem", e disse que pediu aos cidadãos americanos no Quirguistão para manter contato com a embaixada.

Anteontem, a violência chegou a Jalalabad, a segunda maior cidade do sul do país, levando o governo interino a declarar estado de emergência em toda a região.

A imprensa local informou que grupos armados atearam fogo a um hospital, um banco e uma universidade fundada por uzbeques em Jalalabad ontem, após uma noite de tiroteios pela cidade.

Com o "Financial Times"

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