Turquia restringe voos israelenses

Aviões militares são impedidos de entrar no espaço aéreo, em resposta ao ataque à flotilha


Rodrigo Craveiro - Correio Braziliense


Quatro semanas depois do ataque à flotilha humanitária Liberdade, o governo da Turquia impediu um avião militar israelense de usar o espaço aéreo turco. A medida seria mais uma retaliação à incursão no Mar Mediterrâneo que terminou com nove ativistas mortos, na madrugada de 31 de maio.

Segundo a agência de notícias Anatólia, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan teria afirmado que seu país impôs a restrição a vários voos não-civis de Israel. “Aviões militares terão de obter uma permissão de sobrevoo antes das decolagens”, revelou à agência France-Presse um diplomata turco, sob a condição de anonimato. Em Jerusalém, a Comissão Turkel — painel de investigação sobre o incidente no Mediterrâneo liderado pelo juiz aposentado Yaakov Turkel — se reuniu pela primeira vez ontem e anunciou que o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, será o primeiro a depôr.

Para Barry Rubin, diretor do Centro de Pesquisas Globais em Assuntos Internacionais (Gloria, pela sigla em inglês), a atitude da Turquia nada tem a ver com retaliação. “É parte da estratégia de um regime islâmico que, ao perder prestígio interno, deseja instigar o ódio e a histeria em relação aos judeus e a Israel”, afirma ao Correio, por e-mail, desde Herzliya (Israel). “Trata-se também de uma ação em apoio ao Irã, o novo aliado de Ancara”, acrescenta.

Autor de A longa guerra pela liberdade: a batalha árabe pela democracia no Oriente Médio, Rubin acredita que a medida é contraproducente. “A Turquia perderá o comércio e os turistas israelenses, além da chance de desempenhar um papel de mediador na região”, observa. O especialista também alerta para o declínio da política de apoio dos Estados Unidos à Turquia. “Israel perderia menos, já que pode encontrar outros parceiros comerciais e outros destinos turísticos.” Por sua vez, o israelense Efraim Inbar — diretor do Centro para Estudos Estratégicos Begin-Sadat da Universidade de Bar-Illan (em Ramat-Gan) — disse à reportagem, por telefone, que a Turquia tem adotado uma posição cada vez mais hostil. “É parte de uma nova orientação a adoção de uma medida radical no Oriente Médio, ao lado do Hamas e do Irã”, comenta.

Investigação

David Trimble, ex-premiê da Irlanda do Norte e um dos observadores internacionais da Comissão Turkel, garantiu ao jornal Haaretz que o inquérito será “sério e rigoroso”. “Eu espero que a investigação dê uma boa contribuição para a paz na região”, declarou. Turkel também afirmou crer que o processo será rápido e incluirá depoimentos do ministro da Defesa, Ehud Barak, e do chefe das Forças de Defesa de Israel, Gabi Ashkenazi. Inbar aposta em uma investigação completa. “O primeiro-ministro (Netanyahu) não vai renunciar. Isso não faz parte de nossa cultura política”, acrescentou.

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