Todas as opções sobre a mesa

Obama não descarta uma intervenção militar contra Teerã. Regime islâmico exibe imagens de suposto avião-espião dos Estados Unidos

Rodrigo Craveiro – Correio Braziliense

Diante da tevê, o brigadeiro-general Amir Ali Hajizadeh, comandante das Forças Aeroespaciais da Guarda Revolucionária Islâmica, começou a detalhar o troféu que estava bem atrás dele e diante de um imenso cartaz com a inscrição “Morte à América, Morte a Israel, morte à Inglaterra”. “O RQ-170 Sentinel é equipado com sistemas de radar, de comunicação eletrônica, de coleta de dados e de vigilância altamente avançados”, afirmou. Segundo o militar, a aeronave secreta dos Estados Unidos teria “caído na armadilha” dos iranianos e sido derrubado.

Coincidência ou não, no mesmo dia em que Teerã exibia as imagens do suposto avião-espião inimigo, praticamente intacto, a Casa Branca adotou uma retórica mais agressiva em relação ao regime de Mahmud Ahmadinejad. “Se eles estão buscando armas nucleares, e eu tenho dito claramente que isso é contrário aos interesses da segurança nacional dos EUA; é contrário aos interesses da segurança nacional de nossos aliados, incluindo Israel; vamos trabalhar com a comunidade internacional para impedir isso”, declarou Barack Obama.

O presidente norte-americano reafirmou que considera todas as alternativas para lidar com o Irã.

“Nenhuma opção está fora da mesa, o que significa que tenho em conta todas as opções”, avisou. Além de uma resposta às críticas dos adversários republicanos, Obama quis enviar um recado a Ahmadinejad, após a divulgação das imagens da aeronave não tripulada. Ele lembrou que Teerã está “isolado do mundo” e sofre “as sanções mais duras que já conheceu”. Autoridades dos EUA admitiram que os controladores perderam contato com um avião sem piloto, baseado no Afeganistão. Ao analisarem as imagens divulgadas por Teerã, disseram tratar-se de um RQ-170 Sentinel — usado pela Agência Central de Inteligência (CIA).

Nova guerra

Em entrevista ao Correio, Patrick Clawson — diretor de pesquisas e da Iniciativa de Segurança do Irã no The Washington Institute for Near East Policy — não acredita que o Irã será alvo de uma campanha de pesados bombardeios, semelhante à ocorrida no Iraque ou no Afeganistão. No entanto, não descarta uma ação militar fiel ao estilo de combate do século 21. “As intervenções provavelmente serão secretas”, comenta. “Já temos visto assassinatos de cientistas nucleares e grandes explosões em instalações atômicas do Irã. O país registra ciberataques, sabotagens e deserções de cientistas”, acrescenta. Em 28 de novembro, uma explosão inexplicável danificou as instalações de conversão de urânio perto de Isfahan, a 335km de Teerã. Dezesseis dias antes, outra explosão em uma base militar matou o arquiteto-chefe do programa de mísseis balísticos.

“Os aviões-espiões fornecem vigilância persistente e indicam o melhor dia e a melhor hora para atacar uma instalação, de forma a maximizar o número de mortos”, observou o americano John Pike, diretor do site GlobalSecurity.org. Segundo ele, a eliminação dos funcionários de uma instalação de enriquecimento de urânio levaria à degradação do programa nuclear. Por sua vez, a iraniana Farideh Farhi — cientista política da Universidade do Havaí — acredita que o regime iraniano pode usar o RQ-170 Sentinel como fator dissuasivo. “A captura do drone pode convencer as autoridades americanas e israelenses de que um ataque é mais duro do que parece”, comenta ao Correio. Oficiais dos EUA admitiram que o RQ-170 Sentinel era parte de uma frota de aeronaves secretas usadas pela CIA em uma campanha de espionagem das instalações nucleares. O iraniano Trita Parsi, especialista em Oriente Médio, adverte que uma guerra arrastaria a região para o combate e levaria a economia mundial à depressão.

Visita simbólica

O presidente Barack Obama fará uma visita a uma base da Carolina do Norte para marcar a retirada de todas as tropas americanas do Iraque na próxima semana, com um discurso aos soldados que retornam, indicou ontem a Casa Branca. “Ao término da guerra dos Estados Unidos no Iraque este mês, o presidente quer se dirigir diretamente aos soldados em Fort Bragg, assim como aos membros das Forças Armadas e a suas famílias em todas as partes”, anunciou a Casa Branca. “O presidente falará sobre os enormes sacrifícios e conquistas dos bravos americanos que serviram na guerra do Iraque e sobre o extraordinário fato de pôr fim à guerra.” Obama pronunciará seu discurso em 14 de dezembro.

Olhos de águia

Saiba mais sobre o RQ-170 Sentinel, uma arma ainda envolta em segredos

Fabricante: Lockheed Martin

Motor: especificações secretas. Provavelmente um General Electric TF34

Altura: 1,84m

Envergadura: 26m

Peso: 3,8t

Teto de voo: 15,2km de altitude

Características: o formato do RQ-170 Sentinel segue vários elementos da chamada “tecnologia furtiva” — que impede a detecção pelo radar. A cor cinza-claro implica um teto de voo de média altitude.

Especialistas creem que ele possa estar configurado para carregar uma “fonte de micro-ondas de alta energia”, capaz de “fritar” computadores no solo.

Histórico: o RQ-170 Sentinel foi visto em Kandahar no fim de 2007. Em dezembro de 2009, teria realizado um voo-teste na Coreia do Sul. Oficiais de inteligência admitiram que a aeronave ofereceu suporte à operação que matou o terrorista saudita Osama bin Laden, em Abbottabad (Paquistão).

Eu acho...

“É muito difícil para o Irã duplicar a tecnologia dos drones (aviões-espiões) norte-americanos. O regime iraniano não possui engenheiros nem sabe como construí-los. Possivelmente, Teerã trocou informações com a Rússia e a China sobre esse aparelho. A grande questão é que os drones têm um comando interno, talvez um software, ao qual o Irã não tem acesso.”

Patrick Clawson, diretor de pesquisas e da Iniciativa de Segurança do Irã no The Washington Institute for Near East Policy

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