Reino Unido é acusado de usar base afegã como 'Guantánamo'

HAROON SIDDIQUE
EMMA GRAHAM-HARRISON

DO "GUARDIAN"

O secretário britânico da Defesa, Philip Hammond, confirmou que dezenas de pessoas estão sob detenção pelas forças britânicas no Camp Bastion, Afeganistão, após surgirem alegações de que o Exército do Reino Unido opera um centro de detenção secreto naquela base.

Segundo o secretário da Defesa, há 80 ou 90 pessoas detidas no local. Muitas delas, segundo Hammond, representam perigo para os soldados britânicos e ainda não podem ser transferidas à custódia das autoridades afegãs.

Advogados britânicos que representam oito desses prisioneiros -- alguns dos quais supostamente detidos há 14 meses sem acusações -- iniciaram processos de habeas corpus em um esforço para conseguir sua libertação, o que suscitou comparações com o campo de detenção dos EUA em Guantánamo (Cuba).

Muitos dos prisioneiros britânicos no Afeganistão estão privados de acesso a advogados e não receberam nenhuma informação sobre data ou perspectiva de julgamento.

"Nosso cliente está no Camp Bastion desde agosto de 2012. Não foi acusado de crime algum e não teve acesso a defesa", diz a advogada Rosa Curling, que representa um preso de 20 anos de idade.

A Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf), missão liderada pela Otan no Afeganistão, estabelece que as forças britânicas podem deter suspeitos por apenas 96 horas. Mas, em novembro de 2012, Hammond suspendeu os planos de entregar os suspeitos de insurgência às autoridades afegãs, sob a alegação de que correm risco de abusos e tortura.

O secretário da Defesa disse que o governo trabalha "intensamente" com as autoridades afegãs a fim de criar condições seguras que permitiriam a transferência dos prisioneiros e expressou a esperança de que isso seja possível "em questão de dias".

Disse ainda que os detentos passarão a ter representação judicial depois de transferidos às autoridades afegãs.

O Reino Unido é a única potência estrangeira que continua a manter afegãos prisioneiros em seu país depois que os EUA, em março, concluíram a transferência dos últimos prisioneiros que ainda detinham em solo afegão.

Tradução de PAULO MIGLIACCI - FOLHA DE SP
 


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