Síria: Conflito internacionaliza-se

Entrada do Hezbollah, pode radicalizar posições

Área Militar


A participação de forças sob o comando do movimento extremista islâmico Hezbollah, ao lado das tropas do regime do Partido Socialista Bahas, de Bashar Al Assad, está a despertar preocupações ainda maiores nas chancelarias internacionais, temendo-se a internacionalização do conflito e a transformação da guerra civil na Síria num conflito aberto entre sunitas e xiitas.

Os temores sobre uma generalização do conflito resultam de as divisões sectárias no Libano serem idênticas às da Síra. Embora autonomia da Siria dentro do império otomano, após a I guerra mundial a França ficou com a administração dos territórios e fez algumas alterações territoriais destinadas a aumentar a preponderância da população cristã-maronita. Aquando da independência em, 1943, em plena II guerra mundial, o Libano era o único país árabe de maioria cristã (53%).

Fatores sociológicos levaram a que a população cristã se fosse reduzindo para os atuais 41%, aumentando tensões entre as várias fações, que levaram a uma longa guerra civil, que passou pela intervenção armada de Israel ao lado das fações cristãs.

Entre 1990 e 2000 o Líbano esteve virtualmente sob ocupação e controlo da Síria. No entanto, após o ano 2000 e com a morte de Hafez Al Assad esse dominio da Síria passou a ser contestado, com eleições a colocarem no poder políticos anti-sírios.


O assassinato em 2005 do primeiro ministro Rafik Hariri num atentado ordenado por Bashar Al Assad, criou uma maior tensão entre os governos dos dois países.

Essa tensão manteve-se como resultado do apoio sírio aos partidários do movimento Hezbollah, uma organização xiita, também apoiada pelo regime islâmico iraniano e que defende os interesses dos muçulmanos xiitas, que se calcula representem cerca de 27% da população[1].

Guerra civil na Síria e batalha pelo controlo de Al Qusayr

 
A evolução da situação na Síria, envolvida num conflito civil entre vários grupos e o governo de origem socialista apoiado na minoria xiita síria, levou o movimento Hezbollah a apoiar o ditador Bashar Al Assad.

Sabia-se dessa intevenção por parte do Hezbollah, como se sabia que o Hezbollah recebia armamento moderno fornecido pelo regime de Damasco. Agora, de forma aberta, o movimento Hezbollah enviou as suas forças para combater abertamente ao lado das tropas do regime de Damasco, na batalha pelo controlo da cidade de Al Qusayr.

Al Qusayr, está numa área estratégica, que liga à fronteira com o Líbano e por sua vez à cidade de Homs, uma das cidades onde a força dos rebeldes sírios mais se tem feito sentir. O controlo de Al Qusayr por parte dos rebeldes é uma pedra no sapato do regime sírio e do Hezbollah, já que a cidade tem estradas que entram no vale de Bekaa no leste do Líbano, uma região de maioria xiita.

Ocorre que Al Qusayr também está num enclave xiita sírio, no meio de uma área de maioria sunita, o que de alguma forma explica a ação das tropas do extremista Sheik Nasralah, líder do Hezbollah.

Como resposta às intervenções do Hezbollah, já ocorreram recontros urbanos, nomeadamente na cidade portuária libanesa de Tripoli, a 40km da fronteira com a Síria entre sunitas e xiitas.

Tiro e Latakia

 

As cidades mais preciosas para as forças governamentais são os dois portos sírios de Tiro e Latakia. Tem havido muita especulação sobre a utilização deste último porto por forças da marinha russa. Na realidade os russos utilizaram várias facilidades portuárias e também o aeroporto da cidade de Latakia, no entanto, a razão de estas cidades se manterem fieis ao governo da Damasco, prende-se com o facto de elas se encontrarem na região de maior predominância alauita-xiita de toda a Síria, tendo constituido o antigo estado Alauita na década de 1920-1930 sob gestão francesa. Em Latakia, a população alauita-xiita atinge os 70% enquanto que a nível nacional os xiitas representam pouco mais de 10% da população.

Regiões alauitas-xiitas isoladas da capital


O controlo por parte dos rebeldes de cidades e principalmente estradas entre a capital Damasco, onde a maioria da população é sunita, mas onde o governo alauita-xiita se continua a manter e os portos do mediterrâneo, de maioria alauita-xiita tem demonstrado ser uma das principais pedras no sapato das forças apoiantes do Partido Socialista Bashar Al Assad e das minorias alauitas-xiitas presentemente no poder.

Radicalizar de posições


A radicalização de posições, pode levar a uma internacionalização do conflito, se os libaneses xiitas que representam cerca de 30% da população do Líbano decidirem apoiar os xiitas sírios, que representam pouco mais de 10% da população da Síria.

O Iraque, de governo Xiita é visto como uma peça fundamental neste jogo, mas o país está por seu lado envolvido em problemas internos, que também resultam de conflitos entre sunitas e xiitas. A Turquia, poderá intervir, mas também tem problemas que resultam da falta de um governo central em Damasco e que já permitiu a tomada e controlo de várias cidades nas regiões do Curdistão sírio.

Ações por parte do Hezbollah, poderão levar o movimento a tentar atrair Israel para o conflito, atacando premeditadamente o estado judaico, para colocar problemas aos governos de países sunitas que de uma forma ou de outra apoiam os rebeldes sírios.

A Jordânia, tem tentado manter-se fora de todo o conflito, com o monarca do país a tentar liberalizar o regime sem cair em tumultos que já provocaram a queda de vários outros regimes em países árabes. Mas a maioria da população jordana é sunita.

[1] – Os valores são estimativas e tendem a variar bastante consoante as fontes. O número de cristãos, por exemplo, foi estimado entre 34% e 41%. Calcula-se que pelo menos 20% da população seja constituída por cristãos-maronitas.
 

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