Os 40 anos do tanque T-72: a história do Ural continua

Voz da Rússia

Este ano se comemoram os 40 anos da entrada ao serviço do tanque T-72, que foi inscrito no Livro de Recordes do Guinness como o tanque mais fabricado da atualidade. O T-72 também foi reconhecido como o melhor tanque do último quarto do século XX. As suas várias modificações estão ao serviço dos exércitos de mais de 40 países.

“Igual a esse, mas mais simples”

Na segunda metade dos anos 60, as tropas blindadas soviéticas começaram a receber o tanque T-64. Esse carro de combate, com uma blindagem combinada de camadas múltiplas, um canhão de alma liza de balística elevada com carregador automático e excelentes características dinâmicas, se tornou num dos primeiros tanques de combate base do mundo a combinar a proteção e o poder de fogo de um tanque pesado com a mobilidade de um tanque médio.

Esse blindado, desenvolvido em Kharkov, definiu a imagem de todos os tanques de base soviéticos (e russos) principais até ao T-90 inclusive. Os traços determinantes do novo carro de combate eram as suas dimensões e peso reduzidos, quando comparados com as dos seus congéneres ocidentais, uma tripulação reduzida para três elementos e a sua estrutura compacta. O T-64 foi em muito um tanque revolucionário, mas a sua produção esteve associada a muitas dificuldades: o motor, o quadro e uma série de outras partes e sistemas da nova geração obrigaram a distribuir novas capacidades e equipamentos por muitas fábricas. Entretanto, a capacidade do complexo de Kharkov nem sequer era suficiente para suprir as necessidades das Forças Armadas, quanto mais para criar uma reserva para mobilização.

“A fábrica de Kharkov iria demorar alguns 20 anos a reequipar as tropas de blindados com o tanque de nova geração”, considera o perito em blindados e coronel na reserva Viktor Murakhovsky, editor-chefe da revista Arsenal Otechestva (Arsenal da Pátria). “Durante todo esse tempo, teríamos de utilizar blindados da geração anterior T-55 e T-62”, acrescentou.

Entretanto, o aumento da produção do T-64 com a sua distribuição por outras fábricas era difícil até por razões econômicas. Os dirigentes do país reconheceram a necessidade de um tanque de nova geração mais barato.

O protótipo desse blindado foi o “artigo 172M”, criado pelos especialistas do gabinete de projetos de construção de blindados dos Urais que ainda hoje é o “cérebro” da “cooperativa de tanques” dos Urais. Com uma estrutura algo mais simples e um motor já experimentado V-2, esse tanque praticamente não era inferior ao T-64 pelas suas capacidades de combate, mas permitia reequipar rapidamente o exército com tanques de nova geração. Entretanto, esse blindado começou imediatamente a ser aperfeiçoado, aumentando as suas capacidades.

No final dos anos 70, o T-72 passou a constituir o grosso das forças de blindados no Ocidente e era ativamente exportado para os países do Pacto de Varsóvia e aos aliados da URSS fora dessa aliança e, em alguns casos, com a transmissão de licença para o seu fabrico (Polônia, Iugoslávia, Romênia, Índia e outros países).

Segundo a avaliação feita por muitos militares, ele acabou por ser um tanque ideal, combinando a simplicidade à fiabilidade com elevadas características e potencial de modernização: as últimas versões do T-72 com sistemas de comando de fogo modernizados e blindagem reativa já não eram em nada inferiores ao T-64 e ao seu sucessor T-80. Porém, as especificidades do planejamento econômico soviético não permitiram que o tanque de base T-72 fosse o único a ser fabricado e a equipar as tropas. Paralelamente continuava a ser produzido tanto o T-64 (até 1987, quando a fábrica de Kharkov passou a fabricar o T-80UD), como o T-80, que começou a ser fabricado em 1976, em Leningrado, e que terminou já com o T-80U, em Omsk, em meados dos anos 90.

Do 72 para o 90 com a esperança no Armata

Depois do desmoronamento da URSS, a Rússia teve de enfrentar uma escolha: manter a produção simultânea do T-72 e do T-80 era claramente inviável para um país enfraquecido. O papel de tanque principal para o Exército Russo era disputado pelo T-90 dos Urais, com equipamento modernizado e localização da produção na Federação Russa, e pelo T-80UM de Omsk.

A favor do T-90 funcionou, tal como 20 anos antes a favor do T-72, a sua estrutura mais simples e o seu preço inferior. Esse tanque acabou por começar a ser fabricado em série e a ser fornecido tanto às Forças Armadas Russas como para exportação. A encomenda indiana no limiar entre os anos 90 e 2000 era a única fonte de financiamento da sua produção.

Com o passar do tempo, o T-90 continuou a ser modernizado, se afastando do Ural de base. Contudo, as possibilidades econômicas não permitiram o seu fabrico nas quantidades necessárias e por isso o T-72 continua a ser o carro de combate principal do Exército Russo. O desenvolvimento tecnológico, porém, e o aumento do orçamento da Defesa permitiu começar a modernizar o parque de T-72 existente adaptando as suas características ao nível do seu sucessor. Nesse aspeto, grandes esperanças são depositadas no novo compartimento de combate com a nova torre desenvolvida para o tanque T-90AM (versão de exportação T-90SM). Ela pode ser instalada tanto nos T-90 das séries mais antigas, como nos T-72, acrescentando-lhes qualidades de um tanque geração seguinte com meios de detecção, de comunicação e controle de tiro de capacidades muito superiores. Também aumenta em grande medida a proteção do novo tanque, tanto graças à nova torre, como as placas de blindagem reativa de nova geração a instalar no corpo. Nessa versão, os T-72 modernizados poderão continuar no ativo até serem substituídos pelo tanque de nova geração, desenvolvido pelos construtores dos Urais na plataforma de combate Armata.


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