Soldado que informou WikiLeaks condenado a 35 anos de prisão

O tribunal militar dos Estados Unidos condenou, esta quarta-feira, o soldado Bradley Manning, de 25 anos de idade, acusado de fornecer documentos secretos estadunidenses ao portal WikiLeaks, a 35 anos de prisão.

Andrei Fedyashin - Voz da Rússia


O maior paradoxo do caso Manning é o soldado de primeira classe ter sido condenado por espionagem, mas lhe ter sido retirada a acusação de “ajuda ao inimigo”. Considerando que só se pode “espiar”, por definição, a favor de um inimigo, daí resulta que Manning é um espião do WikiLeaks, um site de denúncia completamente legal, apesar de ser famoso através dos escândalos que provocou. Ele não transmitiu informações a mais ninguém. Esta é a primeira vez que essa interpretação de espionagem tem lugar na jurisprudência militar.

É por isso que, tanto os advogados de Manning, como os defensores dos direitos humanos estadunidenses, afirmam que esta sentença cria um precedente gravíssimo e que o objetivo principal do tribunal era intimidar os potenciais novos “denunciantes” de crimes perpetrados pelo Exército dos EUA e dissuadi-los para sempre de “procurar a verdade”.

Esta sentença de uma longa pena de prisão demonstra que os EUA “só estão interessados na punição” e não num veredito justo, declarou David Coombs, o advogado de Manning. Este foi um processo exemplar que mobilizou todo o poder e meios do Estado com uma única finalidade: esmagar e eliminar uma pessoa honesta, disse à Voz da Rússia a ativista dos direitos humanos estadunidense Debra Sweet da organização The World Can’t Wait (o mundo não pode esperar).

“As pessoas que divulgam crimes perante a sociedade, como os divulgados por Manning, arriscam a sua vida e a sua liberdade. Eles arriscam o seu futuro apenas para que a verdade se saiba. Para a maioria das pessoas em todo o mundo esses atos entram na definição do que é um “herói”. Mas nunca na de um “traidor”, que é o que querem fazer de Manning.”

Bradley Manning transmitiu ao WikiLeaks, para publicação, registros em vídeo de ataques aéreos dos quais resultou a morte de civis, assim como centenas de milhares de relatórios de incidentes, desagradáveis para os EUA, ocorridos nas guerras do Afeganistão e do Iraque, um dossier sobre os presos de Guantánamo e centenas de milhares de mensagens diplomáticas do Departamento de Estado. No total, foram cerca de 700 mil documentos militares e diplomáticos diversos. Esta foi a maior fuga de informações secretas da história dos Estados Unidos.

Manning foi detido em maio de 2010 numa base militar norte-americana no Kuwait. Ele foi acusado de espionagem, roubo de propriedade governamental e divulgação de segredos de Estado. O próprio Manning diz estar farto da mentira e ter decidido dizer a verdade sobre o que se passa no Iraque e no Afeganistão.

Um dos dirigentes do site WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, qualificou o dia da sentença de Manning como um “dia negro” para todas as pessoas honestas que tentam denunciar os crimes dos governos:

“Nunca na história tinham os denunciantes sido acusados e condenados pela lei de espionagem de 1917. Se trata de um precedente muito perigoso. Mas ele está, infelizmente, completamente de acordo com a perseguição aos “whistleblowers” (nos EUA chamam de “sopradores de apito” aos que denunciam as verdades sobre más condutas das autoridades) que é feita pela administração do presidente Barack Obama. Essa perseguição abrange igualmente o jornalismo de investigação e o jornalismo em geral, não é só o nosso site WikiLeaks.”

Realmente, com nenhum outro presidente dos EUA a espionagem global de Washington atingiu a escala que alcançou durante a presidência Obama. E os Estados Unidos também nunca tinham visto uma interpretação tão alargada das leis de combate ao terrorismo e à espionagem como com Obama.



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