“Assassino de porta-aviões” entra no espaço operacional do Mediterrâneo

Ilia Kramnik - Voz da Rússia

A Rússia continua a reforçar seu agrupamento naval no leste do Mediterrâneo: amanhã se juntará a ele o cruzador lança-mísseis Moskva, navio-almirante da Frota do Mar Negro, que acaba de regressar de uma navegação ao Atlântico e Pacífico. Ao mesmo tempo, a possibilidade de os Estados Unidos atacarem a Síria está diminuindo graças, inclusive, aos o esforços ativos da Rússia na contraposição informativa.

“Será que temos realmente vontade de combater”?

Tais (ou aproximadamente tais) frases repletam hoje as mídias americanas que escrevem sobre a Síria. A necessidade da guerra põe-se em dúvida por várias causas: desde a falta de certeza de que as informações sobre a utilização de armas químicas pelas tropas de Bashar Assar sejam autênticas, até argumentos econômicos. Contudo, o fator de presença da Marinha da Rússia na região ocupa na motivação um lugar substancial. Os americanos reflectem sobre as consequências do casual impacto de um míssil de cruzeiro da Força Naval dos EUA numa nave russa. Peritos pensam mais em outras coisas: os radares de navios russos são capazes de “cobrir” plenamente o espaço aéreo da região do Mediterrâneo. Levando em consideração a situação corrente, não há quaisquer garantias de que a informação detectada por estes radares não seja transmitida imediatamente a Damasco, o que aumentará bruscamente as possibilidades e a eficácia da Defesa Antiaérea e Costeira da Síria.

“Será que temos realmente uma vontade de combater pela Al-Qaeda”?

Esta é mais uma pergunta que fazem muitos americanos e aqui devemos destacar especialmente o papel das mídias russas, inclusive do canal televisivo Russia Today. A apresentação ativa de um ponto de vista alternativo, entrevistas sobre a imagem real e a composição dos adversários do regime de Assad em combinação com alta qualidade da transmissão e bons apresentadores conseguiram reverter a opinião quase formada sobre os integrantes da oposição síria como “lutadores pela liberdade”. “Será que de fato estão apoiando as pessoas, cujos comandantes podem comer o coração de um inimigo no campo de combate?”. A semelhante pressão no povo americano conhecido pelo sentido de justiça e a compreensão das normas éticas não pôde passar sem deixar sinal – hoje, uma esmagadora parte da população dos EUA se manifesta contra a guerra ou, no mínimo, duvida de sua racionalidade. Nestas condições, a transferência da iniciativa ao Congresso testemunha, ao que tudo indica, a aspiração de Obama a renunciar ao conflito com perdas mínimas do prestígio: é evidente que em condições atuais o Congresso não arriscará ir contra a vontade de eleitores.

Fleet in being

O princípio estratégico de Fleet in being – “frota em disposição”, formulado ainda no fim do século XVII e atual ainda hoje, afirma que a própria presença da frota no teatro de ações militares imobiliza o adversário, limitando sua atividade e obrigando a gastar mais forças ou a renunciar simplesmente aos seus planos. Hoje, operações da Marinha russa perto do litoral da Síria são, provavelmente, um dos exemplos patentes que confirmam esse princípio. O Fleet in being da Rússia forma-se de vários fatores. Primeiro, são fornecimentos regulares de armas ao governo de Assad com a ajuda de navios militares russos. Segundo, são as potencialidades já mencionadas de radares russos e a falta da certeza dos EUA de que as informações recebidas por estes radares não sejam transmitidas em tempo real à direção da Síria.

De fato, o conflito sírio é um raro exemplo de uma guerra detida ainda antes de seu começo à conta de uma contraposição informativa eficaz. Destaque-se que neste conflito a Rússia utiliza métodos ocidentais tradicionais – uma campanha informativa bem-sucedida desta envergadura é uma raridade, sobretudo para a Rússia.

A Frota continua a ser um dos instrumentos ativos dessa política. É pouco provável que nalguma outra altura as informações sobre percursos marítimos e zonas de concentração da Força Naval da Rússia tenham provocado o semelhante interesse entre leitores ocidentais. O agrupamento da Marinha russa no Mediterrâneo será dirigido pelo cruzador Moskva. As naves desta classe com potentes armamentos a bordo, inclusive sistemas de mísseis contra navios P-1000 Vulkan, são intituladas pela imprensa ocidental de “assassinos de porta-aviões”. O aparecimento de tal cruzador russo em qualquer espaço operacional já é por si um argumento de peso.

A principal mensagem de Moscou, reforçada pelo desdobramento de um agrupamento naval na região do Mediterrâneo, consiste em que, quem quer que comece a guerra, ele responderá plenamente por todas as possíveis consequências. Por outro lado, os EUA são obrigados a estudar a probabilidade de começar a guerra sem apoio de aliados – uma esmagadora maioria dos países-membros da OTAN renunciou à participação na operação militar na Síria.

Entretanto, já não se trata tanto de guerra, quanto de possível saída do estado crítico de antes da guerra com perdas de reputação mínimas. É evidente que a diplomacia russa alcançou um resultado assinalável.



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