Hollande ficou isolado no cenário internacional após recuo de Obama sobre guerra na Síria

Kênya Zanatta - RFI

A posição da França em relação a uma eventual intervenção militar em conjunto com os Estados Unidos na Síria continua dominando as primeiras páginas dos jornais nesta segunda-feira, 2 de setembro de 2013. Tanto o conservador Le Figaroquanto o progressista Libérationdizem que Hollande caiu numa "armadilha".
Le Figaro, sempre muito crítico em relação ao presidente socialista, diz que Obama não mencionou a França, o único país que se comprometeu a apoiar os americanos, ao anunciar sua decisão de consultar o Congresso sobre uma ação militar na Síria.

"Isso mostra o pouco caso que ele faz de François Hollande, que acreditava ter sido promovido a melhor aliado dos Estados Unidos", escreve o jornal.

Le Figaro analisa que o fato de Obama ter abdicado da decisão sobre o ataque à Síria em favor do Congresso provocará um enfraquecimento do poder e da credibilidade do presidente dos Estados Unidos.

Ao contrário da Inglaterra, lembra o jornal, Hollande não precisa do aval dos parlamentares para iniciar operações militares. Mas o veto dos deputados britânicos, que levou Obama a pedir a aprovação do Congresso americano, faz com que a oposição francesa exija uma votação na Assembleia nacional. "Resultado: Hollande está encurralado no fronte interno e bem isolado no fronte externo", conclui Le Figaro.

Libération se pergunta se Hollande poderá evitar uma votação no Parlamento, já que a Constituição não o obriga a consultar os parlamentares. O diário progressista diz em seu editorial que Hollande agora é o único que quer fazer a guerra na Síria, mas a opinião pública é reticente e a oposição, que já foi mais corajosa, o abandonou no meio do caminho.

Libération afirma que apesar dos horrores infligidos ao povo sírio pelo clã Assad, o presidente francês tem dificuldade em legitimar uma ação militar. Até porque Obama e Hollande têm um raciocínio duvidoso, segundo o jornal. O presidente sírio deve ser punido pelo uso de armas químicas, mas poderá continuar massacrando seu povo com outros meios. "Será preciso encontrar uma maneira melhor para convencer os franceses e o resto do mundo de que esta guerra é justa e justificada", conclui Libération.

La Croix deplora em seu editorial que de grave crise internacional, "a guerra na Síria se tranformou em um lamentável debate de política interna". O jornal católico critica a oposição, dizendo que seu objetivo ao exigir uma votação no Congresso sobre a intervenção militar na Síria é mais político do que pacifista.

As autoridades ocidentais falaram alto e cedo demais, e agora se veem obrigadas a recuar, perdendo credibilidade, analisa La Croix. O diário faz um apelo para que o debate francês seja digno e respeitoso e se preocupe acima de tudo com o povo sírio e a estabilidade de toda uma região.

Já o comunista L'Humanité comemora o crescimento da oposição à guerra na Síria e pergunta como decretar a guerra ou a paz ainda pode ser privilégio de um só homem no século 21.

Em vez de aumentar a violência, diz o jornal, é preciso dedicar todas as energias a encontrar uma solução política. Além disso, é necessário organizar urgentemente uma ampla operação humanitária.

L'Humanité conclui dizendo que essa é a oportunidade para a França assumir um papel digno da imagem que ela ainda tem no resto do mundo, em contraponto ao imperialismo americano.



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