Jihadistas sírios temem ser alvo de ataque dos EUA

Frank Gardner
Especialista em segurança da BBC

Em teoria, qualquer ataque liderado pelos Estados Unidos contra o regime do presidente Bashar al-Assad é um presente para os jihadistas que lutam para derrubá-lo.

O bombardeio de mísseis Tomahawk esperado para ocorrer sobre bases sírias e centros de comando e controle – se o presidente Barack Obama obtiver aprovação do Congresso – certamente ferirá os inimigos dos jihadistas, porém talvez não fatalmente.

Mas, ao invés de ser comemorada pela cúpula jihadista, a possibilidade de ataque soou o alarme e causou confusão na Síria e entre outros grupos islâmicos.

Muitos se dizem convencidos de que os alvos reais dos ataques americanos serão as numerosas milícias islâmicas anti-ocidentais que se proliferaram nos dois anos e meio da guerra civil na qual mais de 100.000 pessoas foram mortas.


Segundo ataque

"Um ataque iminente dos Estados Unidos terá como alvo posições da al-Nusra, do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL)", anunciou uma mensagem no Twitter no dia 25 de agosto publicada em uma conta que apoia um dos dois mais efetivos grupos jihadistas que lutam na Síria.

A mensagem listou a visão do grupo sobre os objetivos primários dos mísseis: sistemas sírios de radar e defesas aéreas, depósitos de mísseis Scud e veículos envolvidos com armas químicas.

O grupo afirmou ainda que o segundo ataque de mísseis seria contra forças da al-Nusra, campos de treinamento do ISIL, líderes de facções jihadistas e tribunais da Sharia (a Justiça religiosa islâmica).

A administração americana tem se esforçado para salientar que qualquer ação militar será uma resposta estrita para o que dizem ser um uso significativo de armas químicas pelo regime de Assad nos subúrbios de Damasco no dia 21 de agosto. O governo dos EUA também nega que entrará na guerra civil síria do lado de alguma das forças.

De fato, o medo por parte dos americanos sobre o crescimento do efetivo e do poder de fogo dos rebeldes jihadistas impediu que os opositores de Assad recebessem o apoio dos Estados Unidos.

Mas na segunda-feira, o vice chanceler da Síria, Faisal Mekdad, disse à BBC que qualquer ação americana contra seu governo na verdade ajudaria os jihadistas antiocidente.

"Qualquer ataque contra a Síria é apoio à al-Qaeda e seus afiliados, como a Frante al-Nusra ou o Estado do Islã na Síria ou o Iraque", afirmou.
Alvo real

Estejam os jihadistas sírios ou não na mira dos americanos, eles não devem se arriscar.

"Você pensa que acreditamos nos americanos?", um integrante do grupo rebelde Liwa al-Islam teria dito. Ela ainda afirmou: "Eles deram um aviso de duas semanas para que Assad limpe suas bases. Nós sabemos que somos o alvo real".

Na preparação para o ataque de mísseis – se e quando acontecer – instruções foram passadas online para os comandantes rebeldes para que mudem de posição e não se reúnam em grandes grupos ou comboios.

Há um medo específico de que chips de localização sejam escondidos nos carros dos líderes para guiar mísseis – procedimento que pode ter sido usado em áreas tribais do Paquistão e na Faixa de Gaza.

"Todos os líderes devem mudar de posição para confundir os espiões", diz uma das instruções enviadas pela internet para os grupos jihadistas. "Mudem a sequência dos afazeres de rotina e os locais habituais das orações. Evitem aparecer em público".

Tal é a profundidade da hostilidade e das suspeitas dos grupos jihadistas em relação aos governos ocidentais que alguns deles acusaram o Ocidente de estar por trás indiretamente dos ataques químicos de 21 de Agosto, afirmando que "o Ocidente deu luz verde para Assad".


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