'Crimeia está se defendendo de golpe de Estado', diz analista político

Presidente da Associação da Boa Vontade Rússia e Estados Unidos (RAGA, na sigla em inglês), Vladislav Krasnov fala sobre o endurecimento das relações entre os dois países e os desdobramentos da crise ucraniana.


Serguêi Trusevitch | Geopolítica

Geopolítica: Dez anos atrás, o senhor publicou alguns artigos sobre a participação de americanos nas reformas de Iéltsin. Como você vê o atual endurecimento nas relações entre Rússia e os EUA?

Vladislav Krasnov: Hoje em dia, o maior problema não está no governo do presidente Obama, mas no preconceito e hostilidade da mídia ocidental em relação à Rússia como um todo. Elas estão travando uma guerra de informação contra a Rússia, como se fosse um império irremediavelmente autoritário que sonha em restaurar o poderio da União Soviética.

Geopolítica: E quais seriam as armas usadas pela imprensa para desestabilizar Moscou?

VK: As mídias ocidentais atacam constantemente o presidente Vladímir Pútin, chamando-o de autoritário, além de citar o estrangulamento dos direitos das minorias sexuais, a incapacidade de valorizar a “façanha civil” das Pussy Riot, os excessos cometidos pelos policiais contra os manifestantes na Praça Bolotnaia e até mesmo a Olimpíada de Sôtchi. Mas, ao atacar Pútin, elas sempre têm em mente aquela Rússia que, após o governo de Iéltsin, se rebelou contra os líderes globais e os obrigou a respeitá-la.

Geopolítica: Diante desse contexto, como o sr. avalia os acontecimentos na Ucrânia?

Vladislav Krasnov: Até mesmo Pútin teve uma atitude compreensiva em relação à ocupação, inicialmente pacífica, da Praça Maidan, entendendo que as pessoas se cansaram do domínio de oligarcas e da corrupção no governo do [presidente deposto Viktor] Ianukovich. Mas assim que começaram a arremessar coisas e coquetéis Molotov nos policiais da Força Especial "Berkut" e em outras pessoas contrárias ao movimento Maidan, ficou claro que isso não levaria a lugar algum.

Nos EUA, tais massacres contra policiais são interrompidos imediatamente e de forma bem dura. Foi o que nos mostrou, por exemplo, o movimento Occupy Wall Street. Durante alguns meses, ele reuniu um número muito maior de manifestantes do que o da Praça Maidan e tomou muitas cidades. Infelizmente, está claro que o movimento Maidan cruzou a linha do admissível.

Geopolítica: Mas eles conseguiram o que queriam...

Vladislav Krasnov: Quando, em 21 de fevereiro, foi assinado o acordo entre os partidários do movimento Maidan e Ianukovich, eu fiquei feliz porque isso tinha ocorrido na presença dos ministros da França, Alemanha e Polônia. Também foi bom que Vladimir Lukin esteve presente representando a Rússia. Mas, quando alguns provocadores fomentaram um tiroteio entre os partidários do Maidan e os policiais da Berkut, o acordo deu para trás e o que se viu foi um violento golpe de Estado.

Geopolítica: Em sua opinião, o que os Estados Unidos, a União Europeia e a Rússia devem fazer na Ucrânia?

Vladislav Krasnov: Estou certo de que todos podem atuar somente no papel de mediadores e pacificadores.

Geopolítica: Tudo indica que a população da Crimeia irá apoiar a decisão de anexar a região ao território russo. Como o senhor avalia esse passo?

Vladislav Krasnov: Isso é uma reação de autodefesa da Crimeia ao golpe de Estado em Kiev. Se a coalizão do movimento Maidan tivesse cumprido todas as condições do acordo de 21 de fevereiro, os moradores da Crimeia não teriam pretexto formal para buscar a proteção da Rússia. Além do mais, isso não será uma anexação à Rússia, mas o retorno da Crimeia para debaixo da asa de sua mãe.



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