EUA e Afeganistão: dificuldades de saída

Os norte-americanos podem permanecer no Afeganistão depois de 2014 de forma perfeitamente legítima, mesmo que não seja assinado um pacto bilateral de segurança com Cabul, informou às agências ocidentais Manuel Supervielle, ex-principal conselheiro jurídico das forças dos EUA no Afeganistão.


Boris Pavlischev | Voz da Rússia

Segundo o advogado, atualmente estão no país 33.600 militares norte-americanos. Sua permanência está estipulada no acordo sobre o estatuto do contingente militar SOFA (Status-of-Forces Agreement – Acordo de Estatuto de Forças, SOFA na sigla inglesa), assinado com Cabul pouco depois dos atentados terroristas nos EUA de 11 de setembro de 2001. Este acordo é válido por tempo indeterminado, até que um dos lados não o anular.

Quanto ao pacto, esse documento vai determinar o estatuto, o número e a localização das forças norte-americanas, que poderão permanecer no país depois de 2014 por um período de pelo menos 10 anos. O líder afegão Hamid Karzai adiou a sua assinatura durante meio ano, e depois deixou-o à mercê de seu sucessor que será determinado em 5 de abril nas eleições do novo chefe de estado.

Se os norte-americanos têm o SOFA, para que precisam eles de um outro acordo paralelo? O especialista do Centro de Estudos do Afeganistão Moderno Nikita Mendkovich comentou:

“No Afeganistão, as forças internacionais estão operando sob um mandato da ONU. Elas assumem certas responsabilidades que não estão diretamente ligadas aos interesses dos EUA na região. Por outro lado, os norte-americanos podem estar interessados na criação no Afeganistão de instalações de radar para o sistema de defesa antimísseis. Se eles tiverem um acordo bilateral com Cabul, isso é possível. No entanto, no âmbito dos outros acordos que regulam a permanência de forças internacionais, isso é extremamente difícil de fazer. Os Estados Unidos podem deixar suas forças no país. Mas elas não podem se estabelecer lá para fins exclusivamente militares, por exemplo, contra o Irã, elas não têm o direito a isso.”

A lógica de Hamid Karzai também é compreensível, acredita o especialista:

“Dados os ativos sentimentos antiamericanos no país, Karzai não acha possível assinar tais acordos antes das eleições, porque isso causaria extrema antipatia para com os candidatos que ele apoia.”

Outros estados participantes na atual operação militar ligam seus planos para o futuro no Afeganistão com o destino desse Pacto, lembra o perito do portal Afganistan.ru Dmitri Verkhoturov:

“O comando da OTAN já afirmou a sua posição – ele exige a sua assinatura. Ou seja, surge uma situação sem saída, onde tudo gira em torno do Pacto afegão-americano.”

Sem esse documento, a ajuda dos EUA irá parar a partir de 2015. Uma fórmula extremamente simples que a Casa Branca está constantemente inculcando a Cabul. No entanto, é praticamente impossível antecipar o que Cabul fará em seguida.

Muito depende da figura do vencedor, e na atual corrida presidencial não há um favorito definido, nem mesmo entre os protegidos de Karzai. Neste caso, é provável um segundo turno, então o Afeganistão ficará sem um novo chefe de estado até ao outono. E se esse líder também for obstinado, os norte-americanos terão muito pouco tempo para pensar o que fazer a seguir: se têm sentido os limites bastante estreitos de manutenção da paz, para a qual a ONU provavelmente voltará a emitir um mandato, ou sempre é melhor partir.

O prazo crítico para a tomada de uma decisão de retirada completa, segundo o Pentágono, é setembro.


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