Putin afirma que Ucrânia deve aceitar diálogo para evitar abismo

Presidente russo criticou uso das forças armadas no leste do país.
Ele admitiu pela primeira vez uso de forças na Crimeia.


Da France Presse

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou nesta quinta-feira (17) que a única saída para as autoridades ucranianas é o "diálogo" e que o recurso à força leva o país ao "abismo".

"Só é possível colocar ordem no país por meio do diálogo, com procedimentos democráticos, e não utilizando as Forças Armadas, os tanques e a aviação", afirmou Putin durante uma sessão de perguntas e respostas exibidas pela televisão.

"Ao invés do diálogo (as autoridades ucranianas) começaram a ameaçar a ainda mais e enviaram os tanques e a aviação contra a população civil. É, mais uma vez, um crime grave dos que estão no poder em Kiev", completou.

Putin disse esperar não ter que fazer uso do direito, aprovado em março pelo Senado russo, de enviar tropas à Ucrânia. Ele fez a afirmação ao responder uma pergunta sobre a possibilidade do envio de soldados russos para o sudeste da Ucrânia.

"Confio muito em não ter que usar este direito e que com meios políticos e diplomáticos conseguiremos resolver estes graves, por que não dizer gravíssimos problemas de hoje na Ucrânia", afirmou Putin.

‘Crime grave’

Putin classificou de “grave crime” o uso da força militar por parte do governo de Kiev contra os manifestantes pró-Rússia que se revoltaram no sudeste da Ucrânia.

“Enviaram tanques e aviação contra a população civil. Isto é outro grave crime dos que hoje governam em Kiev”, disse.

O chefe do Kremlin argumentou que as autoridades de Kiev, ao invés de tomar consciência de que “algo anda mal no Estado ucraniano e de tentar dialogar, redobraram suas ameaças de atuar com a força” contra a população civil.

Ele afirmou que a chave para a solução da crise ucraniana é a garantia dos direitos dos cidadãos que falam russo no país, grande parte deles de etnia russa.

"Não se trata de realizar um referendo sobre descentralização e federalização, e depois eleições, e seguidamente mudar o modelo de estado. Trata-se de garantir os direitos legais e os interesses dos russos e dos cidadãos que falam russo do sudeste da Ucrânia", disse.

Putin lembrou que seis regiões do sudeste da Ucrânia (Kharkiv, Donetsk, Lugansk, Jerson, Odessa e Nikolayevsk) pertenciam ao império czarista até serem concedidas nos anos 20 pelas autoridades soviéticas para o país vizinho.

O presidente russo também mencionou as negociações desta quinta em Genebra sobre a crise ucraniana, com participação de representantes da Rússia, Ucrânia, União Europeia e Estados Unidos.

"Considero muito importante o início das negociações hoje, porque na minha opinião é muito importante refletir juntos sobre uma solução para a crise, propor um verdadeiro diálogo", declarou.

"Espero que consigamos compreender o abismo para o qual se dirige o poder de Kiev e que arrasta com ele o país".

A tentativa de invasão de um quartel militar na cidade de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, deixou pelo menos três mortos e 13 feridos nesta quinta. As vítimas são militantes pró-Rússia, segundo o governo da Ucrânia. Mais de 60 pessoas foram detidas.

Crimeia

Ao ser questionado sobre o envolvimento das forças russas nos distúrbios na Ucrânia, Putin respondeu que "tudo isto não passa de bobagem".

"Não há unidades russas no leste da Ucrânia. Nem dos serviços especiais, nem de instrutores. Todos são habitantes locais', declarou.

Mas pouco depois, admitiu, pela primeira vez, que as Forças Armadas russas estiveram na Crimeia durante o referendo de março, que permitiu a anexação da península ucraniana à Rússia.

"Por trás das forças de autodefesa da Crimeia certamente estavam nossos militares. Se comportaram de forma muito correta. Era necessário proteger as pessoas", disse.


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