Aspirante é enterrado no Rio e família vê 'excesso' em treino da Marinha

Jean Caleb estava internado após exercício com fumaça, e sem máscara.
Comandante da Escola Naval, Marcelo Campos não descarta mudança.


Henrique Coelho
Do G1 Rio

O corpo do aluno da Escola Naval Jean Caleb Maroto Sousa, de 22 anos, foi enterrado neste domingo (25) por volta das 17h10, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio. O jovem morreu no sábado (24). Ele estava internado na UTI do Hospital Naval Marcílio Dias, na Zona Norte, após ter sido submetido a um treinamento na Base de Fuzileiros Navais, na Ilha do Governador, no dia 4 de maio.

Uma das etapas do treinamento, segundo a Marinha, consistia em atravessar um túnel de cerca de três metros de comprimento com a presença de fumaça. Durante a cerimônia deste domingo, que aconteceu em clima de consternação, a família questionou o rigor dos exercícios, apesar de não ter manifestado interesse em um possível processo judicial.

"É preciso repensar este treinamento. Será que precisamos chegar a esse ponto?", perguntou o tio da vítima, Dinelson Borges. "Ele mesmo [Jean] disse que precisou refazer o exercício várias vezes. Não achou a saída do túnel e foi dito que era para fazer de novo. O sonho dele era continuar [na Marinha] depois que saísse do hospital", completou.

Comandante da Escola Naval, Marcelo Francisco Campos esteve presente no enterro e não descartou a mudança. "Inquérito processual é que vai determinar se a Marinha vai mudar os procedimentos de treinamento", disse.

Prima da vítima, Miriam de Oliveira Souza, fez coro às críticas. Ela disse que o jovem completaria 23 anos na próxima quarta-feira (28) e adorava usar a farda. Embora o primo jamais tenha reclamado dos treinos, ela também clamou por mudanças.

"Tem que rever esses treinamentos excessivos. O Brasil não é um país com guerras constantes e não é a primeira morte que acontece com alguém durante treinamento", afirmou.

Intoxicação

Na quarta-feira (21), um amigo de Jean contou ao RJTV que o próprio aspirante relatou ter sofrido intoxicação porque foi obrigado a repetir um exercício no qual os jovens entram sem máscara num ambiente fechado. Ele teria submetido ao teste mais de uma vez.

“Eles tinham que escapar dessa câmara. Era escuro, eles não achavam a saída, tinha um amigo dele junto, que passou mal também lá dentro. Ele saiu e o comandante mandou entrar novamente. Ele não achou novamente, entrou de novo, saiu e entrou de novo até achar a saída. Depois, ele começou a passar mal, tossindo, reagindo já ao gás”, afirmou.

Em nota, a Marinha informou que "nesse momento de dor, solidariza-se com a família do Aspirante Caleb, a quem apresenta sinceras condolências, e informa que está prestando todo seu apoio".

A assessoria de imprensa disse ainda que a apuração dos fatos está sendo conduzida por meio de um Inquérito Policial Militar, instaurado no dia 8 de maio e com prazo de conclusão de até 60 dias.

"O exercício em questão é regular e faz parte da Prática Profissional Naval, prevista no Programa de Ensino da Escola Naval, tendo sido cumprida pelos demais 32 aspirantes fuzileiros navais sem incidentes. Ressalta-se que foi instaurado o competente procedimento, a fim de apurar as circunstâncias do fato, com prazo de conclusão de até 40 dias, podendo ser prorrogado por mais 20", diz o texto. Outro colega de Jean, Vinícius da Silva Cunha também chegou à UTI, mas melhorou e foi liberado da unidade de tratamento intensivo.

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