Líder ucraniano acusa Rússia de preparar uma guerra: quem tem razão?

"O mundo não se esqueceu da Segunda Guerra Mundial e a Rússia quer provocar uma terceira." São estas as palavras colocadas em destaque num recente artigo sobre a crise na Ucrânia num jornal de grande circulação do Brasil.


Aleksander Medvedovsky | Voz da Rússia

O objetivo do destaque é levar ao leitor à importante conclusão de um grande estadista, cujas palavras, devido à gravidade do assunto, devem ser levadas muito a sério. E, até mais, presume-se que o autor tem background e suficiente conhecimento, prestígio e respeito internacional para acusar o país que, com enorme sacrifício e altíssimo custo de 20 milhões de vidas, libertou o mundo do fascismo.

Só que o nome da pessoa a quem o jornal atribuiu essa frase deixa dúvidas. Se trata de Arseni Yatsenyuk, primeiro-ministro interino do governo da Ucrânia, que (caso o leitor não saiba) chegou ao poder no dia 22 de fevereiro deste ano por meio de um golpe de Estado.

O próprio golpe e todas as ações violentas e ameaçadoras antes e depois foram executados por seus companheiros da altura, paramilitares de extrema-direita, cujas bandeiras trazem “pérolas” inscritas como:


 "Ucrânia para os ucranianos” e
 "Russos na faca, judeus na forca".

O comandante desse “exército" é Dmitri Yarosh, russófobo e fascista convicto, um dos 26 candidatos à presidência do país e, ao mesmo tempo, procurado internacionalmente por vários crimes. Mas estas amizades golpistas são coisa do passado. Não pode um estadista bem recebido na Casa Branca manter o relacionamento com qualquer um. Por essa mesma razão, ele se recusou a se apoiar na sua ex-madrinha do momento, a ex-primeira-ministra da Ucrânia Yulia Tymoshenko, que por suas declarações honestas, mas inconvenientes 

(“Matar todos os russos que vivem na Ucrânia" ou 
"Quando for presidente, usarei toda a minha influência para arrasar a Rússia”), 

não é bem vista nos Estados Unidos.

Como bom estadista, preocupado com seu povo, o citado primeiro-ministro montou o governo à altura da sua competência e princípios morais. De acordo com o jornal Sovershenno Sekretno (Segredo Absoluto), dos 29 ministros de seu governo, nove possuem antecedentes criminais por fraude, um é paciente de clínica psiquiátrica, um teve processo por quebra de sigilo de Estado, um é procurado pela Interpol, outro é brigão e alcoólatra.

Com o mesmo cuidado e dedicação, o primeiro-ministro se preocupa com a memória de seu povo, de não esquecer a tragédia da Segunda Guerra Mundial. A imprensa cita vários fatos de xingamentos e agressões aos veteranos da Segunda Guerra Mundial. Os monumentos em memória daquela tragédia estão sendo pichados. Os livros escolares ensinam à garotada uma história bem diferente daquilo que aconteceu na realidade. Surgem cada vez mais alto as vozes que chamam de heróis os ucranianos que lutaram no exército alemão contra os soldados da União Soviética.

Merecem comentários a costumeira falta de palavra, a incapacidade de cumprir os acordos assinados. Sendo oposição, o atual primeiro-ministro e seus companheiros enganaram o legítimo presidente e os ministros de Relações Exteriores de França, Alemanha e Polônia, não cumprindo o acordo assinado, e no dia seguinte realizando o golpe. Sendo governo, procuram artifícios e desculpas para não cumprir compromissos comerciais e obrigações assumidos pelo seu país. Na área internacional, desde o primeiro momento não estão cumprindo o acordo assinado em Genebra com a Rússia, Estados Unidos e União Europeia.

E, finalmente, uma patente demonstração de "grande mérito do estadista” é a operação "antiterrorista" que seu governo "pró-democrático" montou, colocando 15 mil soldados e mais de 400 blindados contra os praticamente desarmados trabalhadores do Leste do país.

Falta de preparação, infantilismo político, falta de profissionalismo, incapacidade de cumprir acordos, falta de princípios são as palavras que poderiam ser colocadas em destaque no lugar da frase citada no início. A autoria, seguramente, poderá ser a mesma.

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