Mariinka: a cidade dividida no leste da Ucrânia

Autoridades locais dizem que não vão apoiar a realização de referendo em Mariinka


Sarah Rainsford
Da BBC News em Mariinka, Ucrânia

Há cerca de uma semana um posto de controle de acesso simples apareceu nos limites de Mariinka. Agora há grandes blocos de concreto e sacos de areia empilhados protegendo policiais e guardas de trânsito.

As ordens deles são evitar que armamentos sejam levados para a cidade.

A população de Mariinka assistiu com nervosismo quando gangues armadas invadiram prédios públicos ao longo do leste da Ucrânia – retirando a bandeira nacional e exigindo desde mais autonomia a união com a Rússia.

Alguns moradores apoiam as invasões, porém muitos dizem querer ver a situação resolvida, de uma maneira ou de outra, mas de forma rápida e pacífica.
Postes pintados

Até o momento Mariinka, perto de Donetsk, está oficialmente neutra. O mastro no topo do prédio do Conselho da Cidade não ostenta nenhuma bandeira.

Funcionários locais – que não quiseram ser identificados – disseram que em certa tarde homens mascarados visitaram a cidade carregando a bandeira russa.

Após alguma discussão, eles foram autorizados a hastear a bandeira tricolor sobre o prédio, mas ela sumiu.

"Ela foi retirada no dia seguinte", afirmou Elena Nikolaevna, em um café próximo do local.

"Autoridades locais provavelmente ficaram preocupadas em deixa-la lá, porque em Kiev nos chamam de separatistas", ela disse.

Ao invés disso, em volta do centro da cidade alguém pintou listras azuis e amarelas – as cores da bandeira nacional – em dezenas de postes de luz.

Isso sugere que Mariinka está dividida.

"Nós queremos ser amigos da Rússia e da Europa e que a Ucrânia fique unida", disse o aposentado Grigory.

Ele tem um pequeno emblema com a bandeira da Ucrânia preso ao casaco. Sem homens armados por perto, a população não tem medo de falar livremente.

Mas mesmo entre os que se opõe à divisão da Ucrânia, há um sentimento de frustração com as autoridades em Kiev.

Muito em Mariinka falam sobre a decisão tomada localmente – e depois revogada – de abolir uma lei dando status de língua oficial a outros idiomas, incluindo o russo.

Eles disseram se lembrar de como o governo central suspendeu a exibição de canais de TV russos por um período e como ficaram furiosos ao serem rotulados de terroristas e separatistas.

"Eles (Kiev) não querem ouvir nossas opiniões. Isso começou há muito tempo, com Revolução Laranja", disse Nikolaevna, favorável a uma eventual união com a Rússia.

Um grupo formado por ao menos 150 pessoas partilha a opinião dela e viaja por toda a região para conseguir apoio às ideias de independência. O objetivo deles é vencer um referendo que pode decidir o destino da região no próximo dia 11 de maio.

O pleito não é apoiado porém pelas autoridades de Mariinka.

Reunidos próximo a uma estátua de Lenin, o grupo ouve discursos de seus membros que classificam o governo de Kiev como não legítimo.

Não há homens armados na região e a polícia tenta passar despercebida nos limites da cidade.

Quando prédios públicos foram invadidos em outras cidades a polícia simplesmente desapareceu – fato que levantou dúvidas sobre sua lealdade.

Enquanto isso alguns políticos afirmam que os policiais estão desarmados e são incapazes de oferecer qualquer resistência.


Prevenir a guerra

Um policial de folga – que pediu para não ser identificado – confirmou que o moral está baixo na polícia. Ele disse que os policiais receberam ordens para entregar suas armas, supostamente para evitar que elas caíssem em mãos erradas quando as manifestações começaram.

Muitos estão considerando sair da força. "Nós recebemos só 1.800 hryvnia (US$ 160) por mês. Por que devemos arriscar nossas vidas por isso?"

Os planos do grupo fiel a Moscou envolvem ganhas a independência da região por meio do referendo e depois deixar a população decidir quais serão os próximos passos.

"A melhor forma de evitar uma guerra é e dividir o país. Deixem eles seguirem seu caminho que seguiremos o nosso", afirmou Fyodor Yermashov, que agitava uma bandeira russa na multidão.

As lojas permanecem abertas e as ruas estão lotadas, como se a vida seguisse normalmente, mas as pessoas estão tensas.

"Isso não pode ser resolvido pacificamente", afirmou Alexander do vilarejo vizinho de Krasnogorovka. Ele diz querer que a Ucrânia permaneça unida.

Outro pessimista, Evgeny, disse que muitos de seus amigos já se mudaram para o oeste da Ucrânia para escapar dos tumultos.

"Eles estão com medo. Eu pensei em ir embora também, mas não tenho para onde ir".

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