Refugiados recebem abrigo e comida na região russa de Rostov

Como vivem as milhares de pessoas que fugiram dos confrontos no sudeste da Ucrânia.


Elena Melikhova, especial para Gazeta Russa

O centro de bem-estar infantil Dmitriadovski, na região de Rostov, foi tomado por voluntários e refugiados. À primeira vista parece que as pessoas ali são turistas que vieram para curtir o mar de Azov. Porém, a atmosfera de preocupação na cidade, que fica a 950 quilômetros ao sul de Moscou e 100 km ao sul de Lugansk, é marcante.

“Chegamos aqui à noite, e logo depois nos convidaram para a sala de jantar. Pessoas desconhecidas nos receberam como se fôssemos parentes. Temos a impressão que chegamos a um resort. Estou hospedada com minha filha em um quarto para duas pessoas, com todo o conforto e com cinco refeições por dia”, diz a jovem Ucraniana Victoria Ptiza, de Lugansk, abraçando a filha de cinco anos. “Mas agora estamos pensando sobre os próximos passos. Não temos o lugar para onde voltar.”

O número de ucranianos que chegaram à Rússia das regiões do sudeste da Ucrânia cresce a cada dia. Por causa do agravamento da situação, até 8.000 pessoas atravessam a fronteira todos os dias. A fronteira de Rostov é apenas um lugar de trânsito, de onde os refugiados seguem para a casa de parentes e conhecidos. Mas alguns ucranianos, como Victoria Ptiza, não conhecem ninguém.

Para essas pessoas, foram improvisadas pensões e acampamentos, onde recebem abrigo, alimentação e ajuda médica. Só em Dmitriadovski, por exemplo, há quase trezentas pessoas abrigadas. O volume é tão grande que o Ministério para Situações de Emergência designou uma cidade adicional para acolher os refugiados. No total, a região do Don conta atualmente com 49 alojamentos temporários, onde médicos e psicólogos trabalham em regime de plantão.

Os ucranianos que atravessam livremente os pontos fronteiriços, situados no território da região do Rostov, recebem assistência integral no registro de imigração e obtenção de residência temporária na Rússia. “Foi decretado estado de atenção na região de Rostov, o que ajudará a organizar pontos adicionais de alojamento temporário de refugiados”, constatou o governador de Don, Vassíli Golubev.

Uma das questões que mais preocupa os ucranianos é onde e como procurar emprego. Até as mulheres com recém-nascidos estão prontas para trabalhar. Em breve, representantes da agência federal de trabalho vão visitar os refugiados para entender que tipo de emprego eles pretendem conseguir, bem como para fazer algumas propostas.

Mas, por enquanto, tanto as autoridades quanto vários cidadãos russos demonstraram disposição em ajudar os ucranianos. Mil e quinhentas famílias da Rússia já se voluntariaram a abrigar temporariamente pessoas em busca de um lar. Os fundos de caridade abriram contas bancarias para ajudar as vítimas, e voluntários estão recolhendo ajuda humanitária.

Fugindo da guerra

Aos prantos, os pais de Radion Plakhotin, 17 anos, e seu irmão menor Danil, 11 anos, colocaram os filhos em um ônibus em Lugansk com destino à Rússia. “Em casa tínhamos muito medo, especialmente à noite. Vimos aviões militares ucranianos, ouvimos explosões e nos escondemos no porão”, lembram as crianças. E histórias como esta se repetem.

Nadezgda Petrova é uma mulher magra e pequena que, junto com o filho de 11 anos, fugiu de Slaviansk. Advogada bem-sucedida, Nadezgda havia financiado a casa própria nos arredores da cidade. Seu filho, Iliá, estudava línguas estrangeiras e praticava esportes, além de frequentar a escola. Mas os acontecimentos trágicos mudaram todos os planos.

“Na Ucrânia, há uma verdadeira guerra civil”, diz a advogada. “Os guerrilheiros estão lutando contra os civis. Nossos homens estão na oposição para proteger suas famílias. Antes de qualquer tiroteio, as pessoas eram geralmente avisadas por alarme ou toque de sinos, mas agora atiram sem avisar”, continua, acrescentando que até jardins de infância, escolas e hospitais viraram alvo.

“Quando começaram as explosões, nos mudamos para o apartamento dos meus pais. Durante um jantar, houve uma explosão na frente de casa. Havia barulho de vidro quebrado e gritos. Olhamos pela janela e vimos o nosso vizinho sangrando, sem respirar. Outra perdeu a perna e morreu no caminho para o hospital”, descreve Nadezgda. Alguns dias depois, sua casa em Slaviansk também foi para os ares.

Por causa do confronto, os preços dos medicamentos subiram em Slaviansk, e alguns estão quase no fim. “Os meus pais continuam em Slaviansk. Estou muito preocupada. Meu pai é diabético, toma insulina. Os medicamentos estão acabando”, disse a minha entrevistada, limpando uma lágrima do rosto. Nesse instante, Iliá abraça a mãe e diz: “Não se preocupe, eu estou com você”.



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