Para jornal indiano, contrato do Gripen no Brasil abre portas para versão naval na Índia

Poder Aéreo

Segundo reportagem publicada pelo jornal indiano Business Standard na quinta-feira, 30 de outubro, a decisão brasileira de comprar o caça sueco Saab JAS-39E/F Gripen (ou Gripen NG) abriu uma possibilidade tentadora para o Ministério da Defesa da Índia, que está frustrado após 33 meses de negociação com a francesa Dassault para adquirir 126 caças Rafale no programa do avião de combate multitarefa de porte médio (MMRCA).


Sea Gripen

O contrato brasileiro com a Saab sueca para aquisição de 36 caças Gripen NG foi anunciado na última segunda-feira, com valor de 5,475 bilhões de dólares, após uma disputa que envolveu o Rafale da Dassault e o F/A-18 Super Hornet da americana Boeing. Segundo o site de análises de defesa INS Jane’s, o Brasil irá agora solicitar à Saab o desenvolvimento da versão naval Sea Gripen, e 24 dos caças navalizados deverão equipar o navio-aeródromo brasileiro São Paulo. A Jane’s destaca que a Índia poderá precisar do Sea Gripen para seus dois novos navios-aeródromos que está construindo no estaleiro Cochin, o INS Vikrant de 40.000 toneladas e um outro ainda não batizado.

Até o momento, a Marinha Indiana vinha planejando voar a partir desses navios uma versão naval do caça leve desenvolvido localmente, o LCA (light combat aircraft) Tejas. Porém, essa versão naval do Tejas em desenvolvimento pelo DRDO (Defence Research & Development Organisation — organização de pesquisa e desenvolvimento de defesa) provavelmente não estará pronta para o serviço em 2018, quando o Vikrant estiver sendo comissionado. Assim, o Sea Gripen constitui uma nova opção como caça leve para o Vikrant - a Marinha Indiana já tem um caça médio, o MiG-29K, encomendado à Rússia.

Analistas indianos, como o Manoj Joshi da fundação Observer Research, af irmam que a compra do Sea Gripen permitiria que o DRDO engajasse a Saab como parceira de projeto da versão naval do Tejas e do Tejas Mark II, ambos modelos avançados em relação ao atual Mark I. Em 2011, o então chefe do DRDO V K Saraswat havia se aproximado da Saab para colaborar no desenvolvimento do Tejas Mark II, e no ano seguinte discussões detalhadas foram feitas. Em 2013, chegou-se a um pedido de proposta (Request for Proposal – RFP), que o DRDO examinou e discutiu, mas nada ainda foi decidido a respeito.

O interesse do DRDO na Saab está ligado a diversos paralelos técnicos entre o Tejas e o Gripen, que são caças leves na classe de 14 toneladas. Por exemplo, o motor General Electric F-414 e a capacidade de combustível adicional do Gripen NG são também propostas do DRDO para o Tejas Mark II. Com o motor maior e mais pesado, o Tejas original requer uma reengenharia da fuselagem, um problema que a Saab prometeu resolver.

Segundo Joshi, “um grande benefício para o Tejas Mark II poderia ser a soberba capacidade de rede do Gripen. O combate aéreo não é mais centrado em acrobacias boas de se ver, e sim em enlace de dados, redes, aviônicos da cabine, e estes são pontos fortes da Saab.” O DRDO também espera aprender com a filosofia de manutenção da Saab, que fez do Gripen o caça mais fácil de manter do mundo. A versão atual do Gripen NG, o Gripen C/D, atualmente está em serviço na Suécia, República Tcheca, Hungria, África do Sul e Tailândia, sendo também empregada pela escola de pilotos de teste do Reino Unido.

De acordo com estimativas independentes, o Gripen requer três a cinco horas-homem de manutenção por hora de voo, o que equivale, após uma missão de uma hora, que 6 a 10 técnicos só precisariam de 30 minutos para preparar o caça para um novo voo. Em comparação, a estimativa para o Rafale é de 15 horas-homem de manutenção por hora de voo, enquanto o novo F-35 Lightning II americano requer 30 a 35 horas-homem. Estudo da Jane’s mostra que o custo operacional do Gripen é de 4.700 dólares por hora de voo, ou três vezes menos que o do Rafale, que é de 15.000 dólares.

Um engenheiro do DRDO afirmou que “o Tejas Mark I não foi projetado com a disponibilidade operacional em mente. É um pesadelo de manutenção, com subsistemas inacessíveis. O Tejas Mark II precisará da ajuda da Saab para uma reengenharia radical disso.” Em “off”, altos executivos da Saab afirmaram que estão ansiosos em fazer parceria com a Índia no desenvolvimento do Tejas Mark II, dizendo que o caça, fabricado de forma barata e em grande quantidade, poderia eliminar a necessidade de um caça pesado, caro e altamente sofisticado como o Rafale. A empresa sueca antevê bons lucros no co-desenvolvimento do Tejas Mark II.

O contrato brasileiro para 36 caças Gripen NG foi assinado após a decisão sueca de adquirir 60 dessas aeronaves para a Força Aérea Sueca. Em 2011, a Suíça também selecionou o Gripen em detrimento do Rafale e do Eurofighter Typhoon, porém, um surpreendente referendo nacional resultou numa negativa, por parte da população suíça, quanto à aquisição de valor de 3,5 bilhões de dólares, para que o dinheiro fosse gasto em educação, transporte e pensões.

FONTE: Business Standard (tradução e edição do Poder Aéreo a partir de original em inglês)


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