Possíveis prisões secretas da CIA na Ucrânia testemunham a continuação da Guerra Fria

De acordo com uma fonte anônima, citada nesses dias pela mídia internacional, a Agência Central de Investigação (CIA) dos EUA pode instalar prisões secretas no território da Ucrânia. As autoridades ucranianas teriam alegadamente consentido tal medida para obter financiamento estrangeiro.


Valeria Smakhtina | Voz da Rússia

Os rumores sugerem particularmente que as prisões, organizadas em lugares de detenção já existentes, irão receber suspeitos de conexão com o grupo extremista internacional Estado Islâmico, que atua na Síria e no Iraque.

A possibilidade de presença de prisões secretas da CIA na Ucrânia já suscitou rumores sobre “filiais de Guantânamo”, famosa prisão estadunidense situada no território cubano.

A situação é comentada pelo perito Richard Labévière, jornalista e redator-chefe da revista francesa Défense.

– Este anúncio, se se confirma, é escandaloso, e até tem o dobro de escândalo. Primeiro, indica a falha do sistema carcerário norte-americano e de 15 anos de luta antiterrorista depois dos atentados de 9 de setembro de 2001. O presidente Obama tinha prometido fechar a base de Guantânamo, em Cuba, mas essa base permanece aberta, e a gestão dos islamistas da Al-Qaeda tem sido completamente desastrosa. Este anúncio demonstra também a incúria das prisões estadunidenses no Iraque. Muitos militantes do Estado Islâmico foram formados nas prisões estadunidenses no Iraque. Lembre-se dos escândalos de Abu Ghraib e outras prisões. Os detentos eram torturados e muito mal tratados. É o que está no primeiro plano.

O segundo ponto é muito mais significativo. Porque através dessa decisão se enxerga que na realidade, trás as gesticulações de madame Ashton e de Laurent Fabius, a União Europeia só é um cavalo de Troya, uma fumaça da OTAN, com as suas decisões norte-americanas, o deslocamento militar norte-americano para a Europa, o Oriente Médio, a Ásia Central. Essa decisão marca a verdade sobre a natureza do processo ocidental, ao mesmo tempo europeu e norte-americano, no tocante à situação do Maidan e ao apoio aos pseudorevolucionários do Maidan.

Desde o começo, trás as negociações europeias com Kiev, tratava-se de ajuntar a Ucrânia à OTAN e aos interesses estratégicos estadunidenses. E com essa decisão que concerne a Ucrânia, a gente vê bem que a administração de Obama não mudou nem a agenda nem o método e está violando o direito internacional.

– E não é por acaso que os EUA escolheram a Ucrânia, um país muito desestabilizado?

– Não, não foi um acaso. A Ucrânia é um símbolo para os EUA. Desde o fim da Guerra Fria, com o desmantelamento do pacto de Varsóvia, a OTAN não cessou de consolidar-se, de recolher os seus meios. Assim, a maioria dos países que antigamente pertenceram ao bloco do Leste aderiu à OTAN. E a Ucrânia tornou-se em um símbolo de um novo avanço da OTAN em direção do antigo território da União Soviética e da Rússia atual.

De modo que o assunto é bem simbólico e aponta para a desordem internacional que os Estados Unidos tentam gerar para favorecer unicamente os seus interesses, com o apoio dos países europeus.

– E isso tem algo a ver com a eventual adesão da Ucrânia à União Europeia e à OTAN?

– Sim, claro, porque cada vez que nós vemos negociações da União Europeia com os antigos países do Leste, começam pela União Europeia e os acordos comerciais, e depois, sempre se vê a OTAN em emboscada. E com pouco tempo, esses países terminam por aderir à OTAN. Assistimos hoje à continuação de um dos escândalos da Guerra Fria, porque o pacto de Varsóvia foi desmantelado e a OTAN, diria eu, não foi renovada, mas consolidou-se. E, reitero, tomam decisões estratégicas para o desenvolvimento e para o cumprimento dos interesses estadunidenses.

Essa decisão não só segue uma lógica estratégica, mas também uma lógica econômica, porque a administração de Obama está completamente obsessa pela manutenção de milhões de empregos diretamente ligados ao complexo militar-industrial norte-americano e à subcontratação.

A opinião do entrevistado é da responsabilidade do entrevistado e pode não coincidir com a opinião da redação.



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