Soldados de paz violaram conduta e pagaram por sexo em Haiti e Libéria, diz relatório da ONU

Acusações se somam a relatos de estupros de meninos por militares franceses na África


O Globo
com agências internacionais

GENEBRA - Após acusações de violações de meninos por forças de paz francesas na República Centro-Africana, um informe interno da ONU mostra que os capacetes azuis estão constantemente pagando por sexo a prostitutas em Haiti e Libéria, apesar de uma estrita proibição da organização. A prévia de um relatório do Escritório de Supervisão de Serviços, obtido pela agência Reuters, mostra também que houve centenas de denúncias de que os soldados de paz exploraram sexualmente mulheres, com casos de abusos até de crianças, entre 2008 e 2013.


Soldados de paz trabalham em meio a fome a catástrofes no Haiti - Divulgação / Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti

“As evidências recolhidas nas missões de pacificação nos dois países demonstram que negociações sexuais são algo muito comum, mas não são reportadas à sede”, diz o informe. “O número de preservativos distribuídos e o número de trabalhadores que se submeteram voluntariamente a testes de HIV sugerem que as relações sexuais entre o pessoal das missões e a população local são rotineiras.”

O Escritório de Supervisão de Serviços afirmou também que abusos e violações ocorreram em vários países, mas sobretudo em Haiti, Libéria, Sudão do Sul e República Democrática do Congo.

Com um total de 480 denúncias entre 2008 e 2013, parte das acusações de sexo com moradores locais envolveria estupros. Um terço delas seria de crianças, segundo o relatório. Em 2014, foram denunciados 51 casos.

“Apesar da redução contínua do número de denúncias, é possível ver uma complexa arquitetura que impede que acusações cheguem aos locais adequados e tenham resultados concretos, como a assistência deficitária às vítimas”, diz a ONU. As Nações Unidas proíbem estritamente o sexo entre capacetes azuis e moradores locais de missões desde 2003.

Na prévia do documento, o órgão responsável pelos capacetes azuis da ONU lamenta que o Escritório de Supervisão de Serviços não tenha avaliado os esforços de prevenção realizados.

“Isso teria permitido uma visão muito melhor das medidas feitas pelos departamentos para lidar com a questão da exploração e do abuso sexual”. Segundo os autores do texto, ficou claro que muitos casos eram omitidos. Eles notaram, porém, que houve um aumento significativo do número de capacetes azuis em operação e uma diminuição das acusações de exploração e abuso. A tendência foi vista como “positiva”.

Em outro episódio, a Justiça francesa investiga acusações envolvendo 14 soldados de uma força de paz de seu Exército, suspeitos de autoria de crimes sexuais contra crianças e adolescentes de 9 a 13 anos. As agressões teriam ocorrido no campo de refugiados improvisado no aeroporto de M’Poko, próximo à capital centro-africana, Bangui, na Operação Sangaris, deflagrada no rastro de massacres provocados pelo conflito de milícias cristãs e muçulmanas.


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