A invisível corrida pelos destroços do F-35A japonês

Às 19:27h (horário local) da noite de 9 de abril o Lockheed Martin F-35A Lightning II número de série 79-8705 e número de construção AX-05 e orgânico do 302 Hikotai (esquadrão) da Força Aérea de Autodefesa japonesa perdeu contato com o controle de tráfego aéreo da Base Aérea de Misawa de onde havia decolado 28 minutos antes instantes antes como parte de uma formação de 4 F-35A para um voo de instrução noturna.


Sérgio Santana* | Poder Aéreo

O piloto, cuja identidade permanece em sigilo possui 3.200 horas de voo e apenas 60 horas de experiência F-35A e emitiu um sinal de emergência na frequência 243MHz, a frequência militar de emergência. A aeronave acumulava 280 horas de voo.

Primeiro F-35A do Japão, entregue em 5 de junho de 2017 em Nagoya, fabricado pela Mitsubishi Heavy Industries (MHI)

A perda da aeronave foi oficialmente admitida três minutos depois, sendo a partir de então desencadeada uma ampla operação de busca e salvamento, da qual participaram duas aeronaves U-125 (versão do jato civil BAe 125), três helicópteros H-60 Blackhawk (dois UH-60J e um SH-60J) e um P-3C Orion, todas japonesas, além de diversos navios da Força Marítima de Auto Defesa do Japão junto com um destroier de misseis guiados, o USS Stethem (DDG-63). Uma aeronave de patrulha naval Boeing P-8 Poseidon da Marinha norte-americana e até mesmo um bombardeiro estratégico B-52H Stratofortress participaram das buscas, que tiveram como foco uma área a 135km da costa leste da localidade de Aomori.

Apesar de terem ocorrido em alto mar e à noite as operações de busca logo deram resultado: decorridas algumas horas do seu início foi anunciada oficialmente a descoberta de destroços associados à aeronave, embora ainda não existam (ao menos oficialmente) informações sobre o seu piloto. Consta que a área em que os destroços estão localizados tem uma profundidade pouco superior a 1.5km.

O achado põe fim não apenas às especulações dignas de ficção, como a de que o F-35 sinistrado tinha sido levado por um desertor para a Rússia ou China, mas também às operações russas e chinesas por encontrar qualquer parte da aeronave. Operações estas que, embora pouco detalhadas por ora, foram deflagradas mesmo antes que autoridades japonesas relacionadas à Defesa assumissem oficialmente a queda do F-35A visto que o voo de nada menos que quatro dessas aeronaves em missão de instrução noturna por si só fatalmente provoca o interesse da inteligência das duas nações.

Esta corrida por si só já explica o desempenho notável – para dizer o mínimo – das forças de busca e salvamento japonesas e estadunidenses para encontrar qualquer destroço da aeronave, mesmo em condições de alto mar e à noite, que então estava apenas começando. E antes das forças de busca dos países já mencionados.

A história da Guerra Fria registra um episódio semelhante: o abate do voo KAL 007 pelo então Major Gennadi Osipovich em setembro de 1983, que a bordo do interceptador Sukhoi Su-15TM “Flagon-F” disparou dois mísseis ar-ar Kaliningrad K-8/R-8 (denominados AA-3 “Anab” pela OTAN) contra um Boeing 747-230B, pondo fim às vidas de 269 passageiros e tripulantes. Assim que o abate foi confirmado, iniciou-se uma corrida para encontrar os gravadores de voo e dados (popularmente conhecidos como caixas-pretas, embora sejam vermelhas), bem como destroços do Jumbo. Buscas essas que à época evoluíram para escaramuças entre aeronaves soviéticas, norte-americanas e japonesas, que perduraram até o ano seguinte.

Talvez estejamos vivendo tempos semelhantes.

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Bacharel em Ciências Aeronáuticas (Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL). Pesquisador do Núcleo de Estudos Sociedade, Segurança e Cidadania (NESC-UNISUL). Pós-graduando em Engenharia de Manutenção Aeronáutica (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG). Autor de livros sobre aeronaves de Inteligência/Vigilância/Reconhecimento. Único colaborador brasileiro regular da Shephard Media, referência em Inteligência de Defesa.

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