Navios da Marinha Real deixam Grã-Bretanha para missão histórica no Pacífico

HMS Spey e HMS Tamar agirão como os 'olhos e ouvido' do país na região, ao lado de aliados, como parte da missão Grã-Bretanha Global

Brad Lendon | CNN

Dois navios de patrulha da Marinha Real deixaram o Reino Unido na terça-feira (7) para uma missão de cinco anos que os fará agir como “os olhos e ouvidos” da Grã-Bretanha, desde a costa oeste da África até a costa oeste dos Estados Unidos, de acordo com o Ministério da Defesa britânico.

HMS Spey e HMS Tamar partem para sua missão avançada no Indo-PacíficoLee Blease/Royal Navy

“Dois terços do mundo são nosso playground”, disse o Tenente Ben Evans, oficial comandante do HMS Spey, um navio de patrulha offshore de 2.000 toneladas e 300 pés de comprimento que se juntará ao HMS Tamar para uma missão que fará com que eles não retornem ao seu porto de origem, em Portsmouth, até 2026.

Enquanto patrulham as águas dos oceanos Pacífico e Índico, os navios de guerra se aventurarão ao norte até o Mar de Bering e ao sul até a Nova Zelândia e o estado australiano da Tasmânia.

No centro dessa região está a China, com quem as tensões vêm aumentando com o principal aliado da Grã-Bretanha, os Estados Unidos.

“Eles agirão como os olhos e ouvidos da Marinha – e da nação – na região, trabalhando ao lado dos aliados da Grã-Bretanha, realizando patrulhas de segurança para lidar com tráfico de drogas, contrabando, terrorismo e outras atividades ilegais, juntando-se a exercícios com outras marinhas e forças armadas, e hasteando a bandeira de uma Grã-Bretanha Global”, disse o comunicado do Ministério da Defesa.

Grã-Bretanha global é o plano pós-Brexit do país para exercer influência britânica em todo o mundo em uma série de áreas, incluindo, no caso dos dois navios de guerra, a segurança militar.

Em março, a Grã-Bretanha divulgou uma revisão abrangente de sua política militar e externa, na qual reconheceu uma tendência em direção ao Indo-Pacífico na próxima década e alertou sobre os desafios vindos da China.

O HMS Spey e o HMS Tamar carregam, cada um, uma tripulação de 46 membros que a Marinha Real diz que serão trocados a cada poucas semanas, enquanto a Força tenta obter experiência regional para suas tripulações, sem esgotá-los no futuro da missão lançada. Isso também permitirá que os navios passem até nove meses no mar, disse a Marinha.

‘Canivetes suíços de 2.000 toneladas’

Os navios não terão base permanente no Pacífico. Em vez disso, eles usarão bases e portos de aliados e parceiros conforme melhor se adequar à sua missão, disse a Marinha.

Junto com suas tripulações normais, os navios receberão até 52 fuzileiros navais reais ou outras tropas, que podem ajudar em missões específicas, “uma versatilidade que torna os navios ‘canivetes suíços de 2.000 toneladas'”, segundo o comunicado da Marinha.

Os navios seguiram para o oeste no Atlântico ao deixarem Portsmouth para começar seu desdobramento na terça-feira. Eles passarão pelo Canal do Panamá para chegar à sua nova área de patrulha do Pacífico.

Spey e Tamar receberam uma “pintura deslumbrante” da Primeira Guerra Mundial para sua missão no Pacífico. O esquema de cores pretendia tornar os navios de guerra mais difíceis de rastrear cem anos atrás, na época em que a frota britânica era considerada a melhor do mundo.

“Com nossos esquemas de pintura, nós nos destacamos – parecemos diferentes. Levaremos a Insígnia Branca juntos na região do Indo-Pacífico. As pessoas saberão que a Marinha Real está de volta”, disse Evans, comandante de Spey.

Aliados e parceiros do Reino Unido em toda a região já experimentaram o gostinho da Marinha Real moderna neste verão com o envio do maior navio de guerra da Grã-Bretanha, o porta-aviões HMS Queen Elizabeth, para a região.

O Grupo de Ataque 21 do Reino Unido, que também inclui navios de guerra norte-americanos e holandeses, deixou a Grã-Bretanha em maio em uma missão de sete meses que o levou até a Coreia do Sul, onde completou três dias de exercícios com a Marinha sul-coreana na semana passada.

Isso se seguiu aos primeiros exercícios entre os grupos de ataque de porta-aviões norte-americanos e britânicos, quando o porta-aviões USS Carl Vinson e seus acompanhantes realizaram exercícios combinados com o Queen Elizabeth no Pacífico.

Os caças F-35 stealth de ambos os porta-aviões conduziram operações de treinamento durante esses exercícios.

Cooperação de defesa Reino Unido-Japão

O Queen Elizabeth visitou a Base Naval de Yokosuka no Japão esta semana, com oficiais da defesa e militares japoneses visitando o porta-aviões na segunda-feira (6).

“A visita do grupo de ataque do porta-aviões britânico é muito importante para manter e fortalecer um Indo-Pacífico livre e aberto”, disse o ministro da Defesa japonês, Nobuo Kishi, após sua visita ao Queen Elizabeth, de acordo com a Reuters.

Yokosuka é também o porto de origem do porta-aviões USS Ronald Reagan, o único dos 11 porta-aviões da Marinha norte-americana com base fora dos Estados Unidos.

Isso é visto como um símbolo do forte compromisso dos Estados Unidos com a defesa do Japão, o tipo de vínculo que a Grã-Bretanha quer promover no Pacífico com o Queen Elizabeth e seus outros navios de guerra.

“A visita ao Japão do HMS Queen Elizabeth e outros navios britânicos do Grupo de Ataque é uma personificação confiante do relacionamento estreito e aprofundado entre o Reino Unido e o Japão”, disse a embaixadora britânica no Japão, Julia Longbottom, em um comunicado.

“A relação Reino Unido-Japão tem uma longa história. Acreditamos que esta visita marca a elevação de nossa relação de defesa e segurança a um novo nível”, disse ela.

Todos os três parceiros, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, têm falado abertamente sobre o que chamam de ameaça crescente da China à segurança em torno da Ásia-Pacífico.

Em seu artigo de defesa lançado neste verão, Tóquio assumiu uma postura firme contra o que chamou de “tentativas unilaterais da China de mudar o status quo nos mares do leste e do sul da China” e mencionou a Grã-Bretanha como um parceiro-chave no compartilhamento de sua visão de um “Indo-Pacífico livre e aberto.”

Por sua vez, a China zombou da presença do porta-aviões do Reino Unido e de outros navios de guerra na região.

Escrevendo na mídia estatal chinesa quando o Queen Elizabeth transitou pelo Mar da China Meridional no final de julho, Wu Shicun, presidente do Instituto Nacional da China para Estudos do Mar da China Meridional, descreveu o envio do porta-aviões do Reino Unido como uma tentativa de “reviver os dias de glória do Império Britânico”.

“O Mar do Sul da China era um símbolo do glorioso passado colonial da Grã-Bretanha, por meio do qual o antigo império, que se orgulhava de suas colônias mundiais, devolvia a fortuna e os tesouros que saqueava na Ásia”, escreveu Wu.

Na quarta-feira, Hu Xijin, editor do tabloide estatal Global Times, diminuiu a importância do orgulho da frota do Reino Unido nas águas do Pacífico.

“A visita do porta-aviões britânico ao Japão foi considerada pelos internautas chineses como um abraço de dois capangas contratados dos Estados Unidos. Aos olhos dos internautas chineses, o porta-aviões Queen Elizabeth é tão inútil quanto uma draga”, disse Hu, no Twitter.

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